João Lopes: “Objetivo de Bruxelas é transformar a Caixa numa Caixinha”

Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da CGD, João Lopes, a ideia de Bruxelas é fazer com que a Caixa perca quota de mercado para que os outros bancos, nomeadamente espanhóis, possam crescer

A ameaça de mais despedimentos e encerramentos de balcões da Caixa Geral de Depósitos além dos previstos – fecho de 180 balcões e saída de dois mil trabalhadores até 2020 – no caso de o banco público falhar metas no âmbito do plano de recapitalização aprovado por Bruxelas está a preocupar o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da CGD, João Lopes, que admite ao i que “as entidades que negociaram o plano com Bruxelas ficaram satisfeitas com a aprovação da recapitalização, mas não olharam bem para as condições em que essa aprovação foi dada”.

A ideia de Bruxelas é simples: caso a Caixa não alcance as metas, o banco terá de fazer cortes mais acentuados de custos, aumentar o preço dos serviços e intensificar o desinvestimento nas operações internacionais. Isto poderá significar mais despedimentos e encerramento de mais balcões nos próximos quatro anos.

Para garantir que o plano estratégico é cumprido, a Direção- -Geral da Concorrência (DGComp) vai monitorizar trimestralmente o cumprimento destes alvos, uma fiscalização que vai contar com um auditor independente. Estas ameaças vieram aumentar ainda mais as preocupações do sindicato. “Não sei que Caixa vamos ter daqui a três anos”, confessa o dirigente ao i.

Para João Lopes, o objetivo de Bruxelas, mesmo que o banco público cumpra à risca o plano acordado, é claro: “Transformar a Caixa numa Caixinha para os outros bancos singrarem”, e isso passa, de acordo com o sindicalista, por perder quota de mercado para os outros bancos ganharem com isso, nomeadamente os espanhóis. “Essas coisas não são inocentes”, salienta.

fecho de balcões O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da CGD defende que é preciso encontrar uma solução nas zonas em que os balcões da Caixa vão fechar. Ainda assim, João Lopes admite que isso teria de ser uma preocupação da tutela e, em última instância, do governo, porque o banco é público, e “se é importante o banco público estar em todo o lado, então deveria ser a tutela a definir e a encontrar uma alternativa”.

Uma das hipóteses, segundo o responsável, poderia passar por negociar com as câmaras municipais e juntas de freguesia onde os balcões vão fechar para que estas concedessem instalações para criar uma espécie de balcão volante. “Desta forma era possível continuar a servir a população sem estar lá sempre fisicamente e prestava serviços mais básicos, como levantamentos e depósitos todos os dias ou apenas nalguns dias da semana”, salienta.

No entanto, João Lopes lembra que essa possível solução poderia criar um problema com Bruxelas. “Não estou seguro de que Bruxelas aprove isso porque quer que a Caixa perca quota de mercado, que deixe de ser o maior banco do país e deixe de ter quase 1/3 do mercado”, revela ao i.

Já a sugestão feita em declarações ao i por Paulo Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários – apostar em carrinhas itinerantes –, é afastada por João Lopes. “Parece-me algo arriscado só por um aspeto: uma carrinha itinerante seria uma presa fácil para os assaltos”, acrescentando ainda que não tem conhecimento de que esteja a ser procurada uma solução para os 180 balcões que vão ser encerrados por todo o país.

Timing aperta

As imposições feitas pelo Sindicato dos Trabalhadores da CGD em relação aos aumentos salariais e também ao fim do congelamento de carreiras – desde 2010 que não há qualquer alteração salarial e desde 2013 que as carreiras estão congeladas – continuam a não ter resposta por parte da administração de Paulo Macedo.

João Lopes diz que só teve um reunião com a nova administração, no início de fevereiro, e foi apenas de apresentação. Como tal, continua à espera que seja agendado um novo encontro. Ainda assim, o responsável admite que o prazo para ter uma resposta começa a apertar e garante que espera que tudo fique resolvido até ao final deste mês. Caso contrário poderá avançar para um plano B, sem querer adiantar pormenores em relação a este cenário. “Estamos apreensivos com a falta de diálogo, e com o tempo a passar e a sermos confrontados com os planos que estão a ser de-senvolvidos, as preocupações começam a subir de tom”, diz, acrescentando ainda: “Temos tido alguma complacência. Mas tudo na vida tem um limite e o limite é este mês”, afirma ao i.

Explicações na AR

O presidente da Caixa vai amanhã ao parlamento para ser ouvido sobre os resultados do banco em 2016. Paulo Macedo foi chamado pelo PSD para explicar o crédito malparado e os prejuízos da Caixa, depois de ter registado prejuízos históricos de 1859,5 milhões de euros em 2016 – um valor explicado pelo elevado montante de imparidades reconhecidas no final do ano passado. “Que fique claro, há aqui um agravamento drástico dos resultados e esse agravamento deve ser explicado a todos os portugueses”, justificou, na altura, o deputado social-democrata Duarte Pacheco, que sublinhou que os resultados apurados se devem a “uma alteração de critérios de avaliação do risco e de créditos já concedidos”, e não a “casos novos”, e por isso era preciso uma explicação sobre os motivos dessa alteração.