Montenegro. “Não estou ressabiado”

O passismo já se reúne sem Passos, nem que o pretexto seja um almoço promovido por uma entidade externa ao PSD. Certo é que muitos “barões” estiveram presentes a ouvir o que o líder parlamentar tem a dizer ao país… e ao partido

Há casos discretos de professores universitários que defendem tese de doutoramento perante colegas. Ontem, Luís Montenegro esteve em cenário similar. De fora, parecia um almoço. De dentro, parecia um congresso do Partido Social Democrata. Para ele, foi uma audiência diante da corte; um exame preliminar ao futuro que propõe – para o PSD e para o país. 
Considerou-se não como “um perigoso liberal”, mas como alguém que não tem “preconceitos na educação e na saúde”. 
“Quero aproveitar a sociedade para dar a resposta concreta que o cidadão precisa”, salientou Luís Montenegro, que tem sido apontado como possível herdeiro do legado de Passos Coelho como presidente do PPD/PSD. É, nesse sentido, o alegado favorito de Miguel Relvas como candidato à liderança do partido. 

Montenegro criticou ainda o facto de o país discutir “décimas para aqui e para ali”, sendo que se à primeira vista o alvo pareceu tratar-se do défice como bandeira do governo do PS, não é despiciendo recordar que Passos também entrou na discussão das referidas “décimas” quando veio recordar o défice conseguido por um governo de Cavaco Silva em contraposição com o défice de 2016 como o “mais baixo da história da democracia”. 

Mas, excecionalmente, Luís Montenegro não se dedicou somente a um discurso de oposição. “Aquilo era um programa de governo, era uma carta para o futuro”, observou ao i um dos militantes na audiência, reservado ao anonimato. Montenegro trouxe propostas: na reforma fiscal, acabar com as três taxas do IVA, tendo uma única e reduzida em 6%; na reforma do sistema político, a eleição de deputados com um modelo semelhante ao grego, com o partido vitorioso a receber um bónus que garanta estabilidade de governo. Seria, na sua opinião, um modo de aproximar “o cidadão e o eleito”, apesar de considerar importante e fundamental “respeitar a decisão do povo”. Reformas e futuro, sem uma única a menção à direção nacional de Passos. 

“Não estou ressabiado nem com azia”, garantiu o orador convidado, por contraste às críticas que têm sido atiradas à sede nacional.

No fim, de uma mesa, veio uma pergunta sobre a maçonaria e a resposta foi segura: nunca sentiu “pressão de grupos nem tomou decisões por interesses”. 

Num almoço no Hotel Hilton Fontana Park, organizado pelo International Club de Portugal em Lisboa, o orador foi o líder parlamentar dos sociais-democratas. Estavam presentes os seus vices de bancada, Hugo Soares e Carlos Abreu Amorim, homens-fortes do passismo, assim como Marco António Costa e Miguel Relvas, homens-fortes do aparelho. 
Marco António, vice-presidente de Pedro Passos Coelho na atual direção nacional. Relvas antigo braço-direito de Passos e hoje mais distante. 

Montenegro, o futuro do PSD

Prova disso é que Relvas lá disse que o PSD “tem de virar a página” e “apresentar um projeto alternativo”, referindo-se a Montenegro como sendo, “incontestavelmente um dos rostos do futuro do PSD”. Os ‘barões’ sentaram-se frente a frente, na mesma mesa. E Passos? Nem vê-lo. 

Mas havia, além de Hugo Soares e Abreu Amorim, quadros também próximos de Passos, como Luís Vales, secretário-geral adjunto, e Miguel Pinto Luz, presidente da distrital do partido em Lisboa. 

Estavam os grandes vultos do passismo sem estar o próprio Passos. 

Viu-se também Fernando Negrão, parlamentar e ex-governante, Manuel Frexes e Andreia Neto, deputados, Ângelo Pereira, candidato laranja à Câmara Municipal de Oeiras, Diogo Agostinho, antigo chefe de gabinete de Pedro Santana Lopes, e ainda a curiosa presença de Fernando Lima – o polémico adjunto de Cavaco Silva na presidência da República. 

O almoço foi em formato de buffet. Ao gosto de cada freguês.