História dos emigrantes portugueses na Venezuela é marcada pela violência, em especial nos anos mais recentes

Nos últimos dois anos, mais de uma dezena de membros da comunidade lusa foram assassinados

Na Venezuela vivem perto meio milhão de portugueses e luso-descendentes. A emigração começa na década de 1940 prolongando-se até aos anos de 1980. 

Numa primeira fase estes emigrantes dedicavam-se, sobretudo, à agricultura. Depois a grande maioria dedicou-se ao comércio – essencialmente de alimentos – e rapidamente começou a diversificar-se para a pequena e média indústria, sobretudo no setor das manufaturas. Dos quase 500 mil portugueses e lusodescendentes que se estima viverem na Venezuela, quase 80% são originários do arquipélago da Madeira. 

Já durante o século XXI começou a registar-se uma inversão do fluxo migratório, com os luso-venezuelanos a voltarem para Portugal, por questões relacionadas com a insegurança e instabilidade política e social. 

Insegurança

“Há muitos problemas: dificuldade no acesso a bens básicos, como roupa ou comida. Uma qualidade muito baixa dos cuidados de saúde. E um enorme sentimento de insegurança entre os portugueses, sobretudo porque são proprietários de pequenos negócios”, resumiu um governante madeirense depois de uma visita à Venezuela em 2016. 
Em 2015, os dados do Observatorio Venezolano de Violencia relatam 27875 mortes violentas ou 76 por dia. “O incremento da violência acompanhou a deterioração geral das condições de vida da população venezuelana”, diagnosticou a instituição. Naquele ano, foram assassinados seis portugueses na Venezuela, segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), o mesmo número de homicídios assolou a comunidade lusa no ano passado. 

Homicídios No início de abril um comerciante português de 50 anos foi assassinado em Barcelona, estado de Anzoátegui, a 320 quilómetros a leste de Caracas e um mês e meio depois uma emigrante, de 42 anos, morreu num sequestro na capital. Maria de Fátima de Olim Teixeira deveria regressar a Portugal um mês depois para fugir à violência.

No começo do verão o português Carlos Gouveia, 42 anos, foi também sequestrado e assassinado e no final do período estival um comerciante lusodescendente de 33 anos foi morto por homens armados que tentaram roubar a sua fazenda no estado de Lara, 367 quilómetros a oeste de Caracas.

A arrancar o último mês do ano dois homens armados assaltaram em Caracas um restaurante de madeirenses e assassinaram um lusodescendente de 25 anos. Na véspera de Ano Novo, Jaime Nogueira, empresário da construção civil há vários anos radicado na zona da capital, foi encontrado morto pelos próprios vizinhos com diversos ferimentos na cabeça. 

Assaltos e saques 2016

O início deste ano foi ainda marcado por episódios de assaltos e saques a estabelecimentos comerciais de portugueses. 

Em dezembro, em Cidade Bolívar, 500 quilómetros a sudeste de Caracas, houve “pelo menos quatro padarias de portugueses que foram saqueadas e há um conterrâneo a quem roubaram todos os pneus que tinha para vender e a quem também levaram as máquinas para os reparar, alinhar e balancear os veículos”, disse uma fonte da comunidade portuguesa à agência Lusa. 

Já durante este inverno três padarias detidas por cidadãos portugueses foram ocupadas na Venezuela , situação que levou o governo de Caracas a garantir às autoridades portuguesas que não há qualquer hostilidade em relação à comunidade portuguesa.