Lê o cartãozinho

Importas-te de entrevistar o Simão?, perguntaram. Não, não importo, respondi. Entrevistara o homólogo conservador e conhecera o homólogo socialista; não custava nada. E quem é Simão? É o presidente da Juventude Social-Democrata (JSD), apesar de meio país achar que o líder da ‘jota’ ainda é o deputado Duarte Marques.

A entrevista não foi má. Simão, – de nome completo Cristóvão Simão Ribeiro – que também é deputado, levou uns cartõezinhos para lhe auxiliar o raciocínio e responder às mais complexas perguntas. Esteve bem. Descreveu-se como um «liberal na economia» e um «político de centro-esquerda». Seja lá o que isso for. 
Desde que dei por um parlamentar da JSD a troçar de um militante  que enviou o currículo para a Assembleia de modo a servir como deputado, que a organização me parece propícia à investigação. Que coisa ridícula, não é? Um cidadão achar que o currículo interessa para ter emprego. 

Pois bem: esta semana, Simão, o presidente da ‘jota’ que não é o Duarte Marques, impôs a ‘lei da rolha’ à JSD quando este jornal tentou contactá-lo para um trabalho sobre o 25 de Abril.
Simão não perdoa ao grupo editorial que detêm este semanário e o diário i o facto de ter noticiado uma «golpada na JSD» quando o mesmo antecipou o congresso da ‘jota’ para antes do seu trigésimo aniversário, data que o impediria de recandidatar-se e manter o lugar.   
Simão não perdoa outra notícia em que uma fação mais distante da sua direção lançou um comunicado contra a sua secretaria-geral, embora a notícia tenha publicado testemunhos de ambos os lados e ainda dado possibilidade a Simão de escrever um artigo de opinião clarificando o sucedido. 
E por isto, na edição especial do 25 de Abril em que o i contou com a participação do sr. Presidente da República, de ministros, ex-ministros e líderes de partido, não contámos com a participação de Cristóvão Simão Ribeiro.
Uma pena. Uma pena que  a JSD de hoje esteja nisto. 

Não deixa de ser irónico o facto de um «político de centro-esquerda» silenciar a sua organização política no dia em que se celebra a liberdade de todas as organizações políticas. 
Não deixa de ser irónico que  Simão tenha tamanha confiança nas suas capacidades políticas que receie dar declarações sobre o 25 de Abril à comunicação social.

Mas eu entendo, e estou solidário, que tudo isto seja estranho para Cristóvão Simão Ribeiro; que alguém com menos dez anos que ele seja finalista de uma licenciatura, que ele nunca terminou; que alguém com menos dez anos que ele esteja a fazer algo que ele nunca fez, que é trabalhar. 
A verdade é que tendo em conta que este país está mais favorável à contabilidade de caciques que à contabilidade de neurónios, Simão vai no bom caminho.
Só precisa de ler o cartãozinho.