Felicidade no trabalho é a nova aposta das empresas

m Portugal, por exemplo, em Braga, nasceu a ideia de que apostar no bem-estar dos profissionais é apostar na produtividade da própria empresa. Então decidiu dar-se mais um passo nesse sentido, mas de uma forma diferente. Foi criado um departamento para o efeito e o nome diz tudo: chama-se departamento da felicidade.

Foram os factos históricos que transformaram o 1º de Maio no Dia do Trabalhador. Em 1886, realizava-se nas ruas de Chicago, nos EUA, uma manifestação que juntou milhares de trabalhadores que reivindicavam melhores condições. Terminou com detenções e mortes. 

Três anos depois nascia o Dia do Trabalhador. Desde então muitas conquistas foram feitas, apesar da precariedade e de existirem ainda muitos problemas a resolver no mercado do trabalho, há vitórias e (boas) mudanças a assinalar. 

A procura da felicidade e do bem-estar, por exemplo, há muito que deixou de ser apenas uma necessidade do ser humano. A era da procura intensiva de uma vida melhor provocou uma verdadeira revolução no mercado mundial. As empresas reposicionaram-se e começaram a multiplicar-se soluções para ajudar quem mais quer ser feliz. Já sabemos que há ideias para todos os gostos e para todas as carteiras, mas a procura da felicidade ultrapassou a busca a nível pessoal. O que não falta são casos de empresas com programas que visam ajudar os colaboradores a alcançar uma vida melhor.

Em Portugal, por exemplo, em Braga, nasceu a ideia de que apostar no bem-estar dos profissionais é apostar na produtividade da própria empresa. Então decidiu dar-se mais um passo nesse sentido, mas de uma forma diferente. Foi criado um departamento para o efeito e o nome diz tudo: chama-se departamento da felicidade.

A empresa, BC Segurança, não esconde que o objetivo é fazer com que os colaboradores possam ter uma «maior qualidade de vida».

A ideia de ajudar os colaboradores a alcançar a desejada felicidade não passa apenas por oferecer viagens. Também no dia a dia, os trabalhadores têm vários motivos – gastronómicos e não só – para aumentar os níveis de bem-estar. De acordo com a empresa, «regularmente há dias especiais – como o dia do croissant, o dia do iogurte, o dia do pastel de nata e o dia do gelado. Não são esquecidos também os mimos no dia do Pai ou da Mãe, no dia de Carnaval ou no dia da Mulher».

Preocupação tem estado a crescer

Ao b,i., Sofia Llano, Manager na Jason Associates, explica que há, cada vez mais, «uma maior consciência nas organizações para estes temas. 

Já não basta assegurar um pacote de condições e benefícios atrativo. Hoje em dia, os colaboradores encaram as organizações de uma forma mais abrangente e procuram um clima e cultura organizacionais que lhes permitam encontrar os fatores que mais contribuem para sua a felicidade e motivação». 

Para esta profissional da área de gestão de pessoas e recursos humanos, a mudança no mercado de trabalho tem a ver sobretudo com uma mudança geracional. Há um preocupação crescente com este tipo de questões e «está muito relacionada com a evolução geracional. Os Millennials (nascidos entre 1980-2000) trouxeram, sem dúvida, uma nova perspetiva sobre as organizações – a forma como encaram o trabalho, o que procuram nas empresas, as suas fontes de motivação e os seus métodos de trabalho têm levado as organizações a olharem de forma diferente para os temas da motivação, da felicidade, do bem-estar e do worklife balance». Por outro lado, a Psicologia Positiva e os Modelos de Saúde e Bem Estar Organizacional têm ganho terreno. Os estudos e ferramentas, que contribuem para identificar as forças que mais contribuem para que as pessoas se sintam felizes e para a sua qualidade de vida, têm vindo a multiplicar-se. 

«No geral, o mercado está mais atento ao tema do bem-estar – não é só uma moda -, é uma tomada de consciência de que as nossas vidas são muito mais do que o trabalho. Temos organizações que nos pedem programas específicos para diagnosticar os níveis de bem-estar das suas equipas e para identificar um conjunto de iniciativas customizadas para aumentar os fatores que mais são valorizados pelos colaboradores e que mais podem contribuir para a sua felicidade no trabalho». Ainda assim, há setores a salientar quando o tema é a preocupação em atrair talentos. No meio das áreas que mais se destacam estão, por exemplo, a distribuição, as seguradoras, as farmacêuticas ou as consultoras.

Países nórdicos lideram ranking

No topo da lista dos países que mais se preocupam com as mudanças que têm vindo a acontecer no mercado de trabalho estão os países nórdicos. Ainda assim, os exemplos de organizações que já começaram a investir em práticas que visam contribuir para o bem-estar dos colaboradores multiplicam-se a nível mundial. As gigantes tecnológicas são o melhor exemplo. A Google destacou-se desde cedo pela política de promoção do bem-estar dos trabalhadores. Aqui, os colaboradores gozam de uma boa relação risco/recompensa, são incentivados a fazer pausas para fazer exercício físico, têm mesas de jogos, acesso a massagens, etc. Mas e Portugal? De acordo com Sofia Llano, «quando comparamos Portugal a outros países europeus, ainda existe um grande trabalho a fazer relativamente à felicidade e à qualidade de vida dos colaboradores. Temos uma herança histórica e cultural que nos torna menos otimistas e menos accountable [responsáveis] pela nossa própria felicidade, mas estamos a evoluir de forma positiva e com uma preocupação crescente por estes temas».

Publicado originalmente na edição impressa do b,i. de 29 de abril