Operação Marquês. Gestor fazia contratos ‘fictícios’ para justificar pagamentos de Salgado

Ex-vice-presidente do BESI e da ESCOM assume que fazia contratos ‘fictícios’ para justificar pagamentos de Ricardo Salgado a José Sócrates. E desfaz a ‘tese’ apresentada por Carlos Santos Silva para explicar o seu enriquecimento.

Pedro Ferreira Neto, antigo vice-presidente do BESI e administrador da ESCOM, admitiu ter sido usado como ‘peão’ nos negócios que levaram a PT à ruína. No segundo interrogatório a que foi submetido pelo MP, Neto disse que Ricardo Salgado passou dinheiro ao então primeiro-ministro José Sócrates, no sentido em que este usasse a sua influência para travar a OPA da Sonae sobre a PT e apoiasse a compra da Oi.

Esta transferência de dinheiro era feita através de uma offshore – a Pinsong – onde Neto figurava como diretor mas que na realidade era controlada pela ES Enterprises, o saco azul do BES.

Neste interrogatório, Neto também desmentiu Carlos Santos Silva, dizendo que os milhões que foram transferidos para a sua conta nada têm que ver com a venda de umas salinas em Angola, como este afirmou (justificando com isso a sua grande fortuna).

 

O falso negócio das salinas

No DCIAP, Pedro Ferreira Neto foi igualmente confrontado com a hipótese de o pagamento que fez ao primo de Sócrates, José Paulo Pinto de Sousa, de 6 milhões de euros, estar relacionado com a aquisição de terrenos dessas salinas. Mas Neto negou tal consideração, explicando que as transações foram reaem 2007 e 2008 – e que a ESCOM só começou a entrar no negócio da venda das salinas de Benguela em 2009.

O MP suspeita que o montante que Neto passou a Pinto de Sousa está, mais uma vez, relacionado com os negócios da PT e com a compensação dada ao então primeiro-ministro pela sua intervenção nos mesmos.

Note-se que, antes daquelas transferências, já tinham existido (em setembro de 2005) transações financeiras entre a conta de Pedro Ferreira Neto e a de José Paulo Pinto de Sousa, que era na altura o testa-de-ferro de Sócrates, saindo de cena quando estoira o caso Freeport.

Neto afirmou que essas transferências foram feitas a pedido de Hélder Bataglia, não sabendo para que conta estava a transferir o dinheiro e julgando mesmo tratar-se de uma conta do próprio Bataglia. 

Salgado queria apoios para contrariar a OPA

Depois, em 2006, Ricardo Salgado terá também pedido a Pedro Neto que se deslocasse ao Dubai para uma reunião com responsáveis de uma operadora daquele país, com o objetivo de convencê-los a investir na PT.

Salgado queria que se tornassem acionistas da empresa portuguesa e, consequentemente, seus apoiantes na votação contra a OPA da Sonae. No seu depoimento, Neto conta que foi acompanhado por Hélder Bataglia, que conhecia membros da empresa em causa, mas que o acordo acabou por não ser formalizado.

No ano seguinte, Salgado convidou Pedro Neto para ser o rosto da Pinsong, uma sociedade controlada pela ES Enterprises, que o MP suspeita que serviu para forjar acordos escritos com uma offshore de Hélder Bataglia, a Markwell. Esses contratos fictícios, feitos por Pedro Neto a pedido de Ricardo Salgado, tinham referências a negócios de petróleo, mas Neto admitiu terem-lhe dito que, na verdade, os montantes tinham como objetivo servir de ajuda em negócios da PT. E o MP suspeita que o destinatário era José Sócrates, como contrapartida da sua intervenção na OPA sobre a PT e no negócio da compra da operadora brasileira Oi, em 2010.

 

Neto ‘corrobora’ depoimento de Bataglia

No seu depoimento, Pedro Ferreira Neto referiu ainda que Salgado temia que a OPA sobre a PT avançasse, pondo em causa o seu poder enquanto acionista da operadora portuguesa.

Este testemunho é semelhante ao de Helder Bataglia, que confessou ter-lhe Ricardo Salgado pedido para transferir dinheiro para uma conta que veio a saber-se pertencer a Carlos Santos Silva, o testa-de-ferro de Sócrates.

E como o SOL revelou na semana passada, um ex-administrador da PT disse aos investigadores que Sócrates se empenhou muito no chumbo da OPA da Sonae, e que levou uma reprimenda do então ministro Mário Lino por ter votado no sentido contrário.