O Caminho do Peregrino

Também hoje estou em Fátima, perto de um Papa que cativa, aproxima e seduz

Há pouco tempo li um deslumbrante livro de Laurentino Gomes e Osmar Ludovico com o sugestivo título de O Caminho do Peregrino. 

Ali se escreve que «há uma diferença entre ser turista e peregrino. O turista olha para fora, o peregrino volta-se para dentro de si, mesmo enquanto caminha». E os autores acrescentam que «a riqueza da jornada é feita mais pela disposição interna de quem caminha do que pela paisagem que se vê». Daí que «o peregrino leva um destino na mente e um propósito no coração». 

Percebi tudo isto ao longo desta semana. Duas ‘Isabéis’, com uma força única, assumiram que ser peregrino – do latim per agrum – é também palmilhar ‘através do campo’. 

E de Lisboa a Fátima, onde ontem chegaram, com sol e chuva intensa, com fé e riqueza espiritual, quiseram ser peregrinas autênticas. Tendo-me a mim e ao Joaquim como companheiros permanentes e dedicados auxiliares. 

Quando em março de 2013 o então cardeal Bergoglio foi eleito Papa e escolheu o nome de Francisco, o mundo ficou surpreso. 

Procurei na altura saber o percurso de vida do jesuíta Jorge Bergoglio. Ele assume que teve inquietações políticas, porventura algumas similares às que Fidel Castro desenvolveu no Colégio de Belén, em Havana, dirigido pela Companhia de Jesus. 

Recordei, desculpem a ousadia, Fidel Castro quando proclamava «Pátria ou morte!» – e, ao mesmo tempo, lembrei-me de Santo Inácio de Loyola quando escrevia que «em fortaleza assediada, toda a dissidência é traição». 

Também percebi depois – a partir de uma visita a Havana – que, para alguns cubanos, o papel da Igreja Católica terá sido bem importante no restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos da América. 

Antes desta visita marcante e simbólica a Fátima, o Papa Francisco esteve no Egipto. 

E é interessante o facto de o então cardeal Bergoglio ter escrito um curioso texto sobre os Diálogos entre João Paulo lI e Fidel Castro, em que assume que «na sua diversidade encontraram-se, falaram, escutaram-se com afeto e respeito, e inauguraram o caminho do diálogo». 

É aquela construção de uma cultura de encontro, neste mundo de múltiplos desencontros, que está a marcar o singular pontificado do Papa Francisco. E que leva centenas de milhares de peregrinos a Fátima. E outros milhões a acompanharem-nos pela televisão, com a certeza de que «é possível ser um bom peregrino sem nunca sair de casa ou deixar a cidade em que nasceu». 

Este Papa, também peregrino, assim o proclama, dizendo-nos que «ainda assim caminhamos». 

Por ele, e pelas queridas ‘Isabéis’, também hoje estou em Fátima. A simplicidade de Francisco toca e cativa, aproxima e seduz, sensibiliza e enriquece, motiva e consola. O seu sorriso entusiasma. A sua austeridade interpela-nos. A sua voz paciente e meiga é um marco de tolerância. Um dom de Deus. 

E é esta sua permanente construção de uma cultura de encontro que nos faz aproximar. Dele e da Igreja Católica. Por este mundo que o Papa Francisco reconciliou com a Igreja Católica!