BES. Lesados têm até hoje para decidirem se vão aderir à solução

Maioria investiu até 300 mil euros.

Os clientes lesados do papel comercial do BES têm até hoje para indicarem se aceitam aderir ao mecanismo que os visa compensar pelas perdas sofridas. Esta auscultação não tem caráter vinculativo, mas servirá para saber quantos clientes lesados querem de facto assinar o contrato de adesão à solução encontrada.

Fonte ligada ao processo garantiu ao i que está otimista em relação ao resultado final e espera obter entre 90 e 95% de adesão – ou seja, um valor bem superior ao que está estabelecido no acordo e que prevê a adesão de 50%+1 para que a solução possa avançar.

Os clientes que aceitem a solução proposta irão recuperar 75% do valor investido, num máximo de 250 mil euros, isto se tiverem aplicações até 500 mil euros. Já acima desse valor, irão recuperar 50% do montante investido.

Já ontem, o presidente do Novo Banco tinha garantido que solução apresentada para os lesados do papel comercial do Banco Espírito Santo estava a ser "muito bem recebida".

"Temos estado a receber as diversas intenções e, por aquilo que tenho conversado com os coordenadores desta iniciativa, tem corrido particularmente bem. As intenções parecem ser em número muito significativo, o que significa basicamente que a proposta terá sido muito bem recebida por parte das pessoas a quem foi oferecida", afirmou António Ramalho.

Maioria investiu até 300 mil euros

Os lesados do BES com investimentos até 500 mil euros – e que, de acordo com a solução acordada com o grupo de trabalho, poderão recuperar 75% do investimento com um teto máximo de 250 mil euros por aplicação – representam 95,1% do total dos 2100 investidores abrangidos por esta solução, apurou o i.

No entanto, a grande fasquia dos investidores aplicou até 300 mil euros, concentrando 87,7% do total, e foi a pensar neste grupo que foi sugerido este acordo, uma vez que as perdas serão menores, já que conseguem recuperar 75% do montante investido e não ultrapassam o limite máximo de 250 mil euros.

A verdade é que serão estes dois grupos a aceitar mais facilmente o acordo, principalmente quando está em cima da mesa a hipótese os lesados poderem vir a deduzir em sede de imposto as perdas que irão sofrer. “A presente solução poderá ainda eventualmente ser complementada por propostas comerciais a obter junto dos bancos, bem como pela possibilidade, que se encontra em análise, da dedução fiscal das perdas sofridas até ao montante do capital investido”, diz o acordo.

E, se isso acontecer, o acordo facilmente será aprovado, uma vez que precisa de ser aceite por 50% dos lesados. No entanto, para isso renunciam “expressamente a todos os direitos, reclamações e processos contra o Novo Banco, o BEST, o Banco Espírito Santo dos Açores, o Banco de Portugal, a CMVM, o Fundo de Resolução, os futuros acionistas do Novo Banco, o Estado e quaisquer organismos públicos”, salienta o acordo.

Emigrantes falam em abandono

Sem fim à vista continua a estar a situação da associação dos emigrantes lesados pelo BES, que já veio dizer que se sentem “abandonados”, esperando que também se encontre uma resolução para o seu caso. Esta associação fala mesmo em “crime” e em “vergonha”.

Recorde-se que, após a resolução do BES, cerca de oito mil clientes emigrantes do banco reclamaram um total de 728 milhões de euros, acusando a instituição financeira de ter aplicado o dinheiro em produtos arriscados sem o seu consentimento.

Para tentar minimizar as perdas, o Novo Banco propôs a este grupo uma solução comercial que teve a aceitação de cerca de seis mil clientes (80% do total), que tinham 500 milhões de euros em produtos de poupança.

No entanto, houve dois mil clientes que não aceitaram a solução por considerarem que não era justa e não se adequava ao seu perfil. O Novo Banco também não fez qualquer proposta aos clientes dos produtos EG Premium e Euro Aforro10, argumentando que tal não era possível devido ao tipo de instrumentos financeiros abrangidos por estes produtos, sendo, assim, a única alternativa a reclamação do dinheiro em tribunal.