Taça de Inglaterra. Sir Charles Alcock inventou-a e ficou com ela

Disputa-se amanhã em Wembley, sob um rígido sistema de segurança provocado pelo recente atentado em Manchester, a 136.ª final da Taça de Inglaterra, essa competição mítica cuja história se perde na memória do tempo. Arsenal e Chelsea – para os primeiros, uma saída lavada de uma época fraca; para os segundos, o objetivo da dobradinha.

F. A. Cup – Football Association Cup. A Taça de Inglaterra!

Podia muito bem escrever-se sempre assim: com ponto de exclamação e parágrafo logo a seguir.

Falamos de uma das mais extraordinárias competições de toda a história do futebol. E a mais antiga também, é claro!

136.a edição.

Começou em 1871. É de estalo!

Para quem quer saber tudo sobre a Taça de Inglaterra, há um livro fundamental: precisamente “The F. A. Cup – The Complete_Story”. Vão à procura. Mesmo que seja difícil encontrá-lo nas livrarias portuguesas, agora há um sem-número de maneiras de adquirir livros para quem não é pura e simplesmente infoexcluído.

Gy Lloyd e Nick Holt contam-nos tudo.

Explicam como a grande base da filosofia que sustentou a prova desde os seus primórdios não se prende com os grandes nomes, ainda que Arsenal, Manchester United, Tottenham, Chelsea e Liverpool se encontrem hoje no topo dos mais vitoriosos. Ainda assim: para uma competição que vai na sua 136.a edição, perceber que já houve 45 vencedores e que os mais titulados não ultrapassam a dúzia de triunfos – o Arsenal pode amanhã chegar ao 13.o – é entender que algo de muito especial se passa. “If you’re in the draw, you can meet anyone”, era o lema.

Qualquer pode defrontar não importa quem.

Os clubes mais pequenos e mais insignificantes, que vegetam nos campeonatos amadores, têm a ambição de defrontar gigantes e abatê-los como Golias, nem que seja com uma pedra atirada de uma simples funda.

Billy Bremner, extraordinário jogador do Leeds United dos anos 70, que atingiu a final da Taça dos_Campeões Europeus, disse em 1972, na véspera de entrar no inconfundível Wembley: “Tenho uma medalha de campeão inglês, uma de vencedor da Taça das Feiras, uma de vencedor da Taça da Liga, umas dúzias de internacionalizações, mas sinto que trocaria tudo isso por uma vitória na Taça de Inglaterra.”

É este ponto que, por vezes, não se explica. Ao contrário do que acontece um pouco por todo o resto da Europa, a Taça de Inglaterra confere ao vencedor um prestígio inigualável, ainda que algo desse brilho possa ter-se embaciado nos últimos anos.

Desde que Charles Alcock, antigo presidente da Football Association, lançou a ideia de uma prova a eliminar que deveria concentrar todos os clubes ingleses que quisessem participar nela, a Taça de Inglaterra tornou-se um mito. O próprio Alcock não se limitou a inventar a competição. Foi o capitão do primeiro vencedor: o Wanderers, que bateu o Royal Engineers por 1-0 no dia 16 de março de 1872, no Kennington Oval. Tempos curiosos, esses. Reparem: os lançamentos pela linha lateral faziam–se com uma só mão; só havia as marcas exteriores do campo, nada de meio–campo nem grande área; as equipas mudavam de campo de cada vez que surgia um golo; os jogadores tinham equipamentos de todo o género, as equipas diferenciavam-se apenas pelas cores dos chapéus ou das ligas; em vez de calções usavam-se bombachas – aquelas calças meia-perna à moda do Tintim.

A primeira edição da Cup só teve quatro participantes: Wanderers, Royal Engineers, Queen’s Park e Crystal Palace.
A segunda foi pior ainda: o Wanderers, como vencedor da prova, foi diretamente para a final, esperando que os outros decidissem entre si o seu adversário – foi a Universidade de Oxford. E um nome ficou para o anedotário do futebol em Inglaterra: Harrow Chequers. Inscreveu-se para disputar as três primeiras Taças de Inglaterra e desistiu sempre antes de entrar em campo. Ficou de fora até hoje.