Touradas descem 20%

A crise já chegou à festa brava. Este ano, os aficionados das touradas vão ter menos 61 espectáculos nas praças de todo o país. A estimativa é da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET).

«pela primeira vez em muitos anos, esperamos um decréscimo nos festejos tradicionais na ordem de, pelo menos, 20%», avança o responsável daquela associação, paulo pessoa de carvalho.

se no ano passado, entre fevereiro e o início de novembro (altura em que terminam as touradas em portugal), houve 311 corridas de touros, em praças fixas e desmontáveis, este ano estão previstas «cerca de 250», acrescenta o mesmo responsável.

segundo as contas da apet, a descida só não é maior porque o norte compensa a diminuição das festas no centro e sul do país, normalmente mais afoitas à tradição tauromáquica. «no norte, temos descoberto cada vez mais afición», revela pessoa de carvalho.

«as pessoas sabem o que estão a ver. e as praças desmontáveis têm esgotado sempre». é o caso de vinhais, no distrito de bragança; da póvoa do varzim, ponte de lima, seia ou da figueira da foz. hugo ferro,da associação nacional dos toureiros, confirma: «temos cada vez mais corridas no norte. as pessoas estão a descobrir o culto do toiro», diz, dando como exemplos de praças cheias as de lousada, trofa, baião e chaves.

mas, lamenta o toureiro, este aumento não chega para suprir a falta de espectáculos no sul. «em portalegre, por exemplo, este ano não há touradas. almeirim e albufeira também reduziram as corridas».

mas é «no número de espectáculos apresentados em cada praça que a redução se faz notar mais, explica, por seu lado, pessoa de carvalho, sublinhando que a redução está a verificar-se tanto nas «praças fixas como desmontáveis».

para tentar diminuir os prejuízos, os empresários estão mesmo a articular-se, evitando, por exemplo, que existam ao mesmo tempo touradas em locais próximos, refere o responsável da apet.

‘as touradas tradicionais acabaram’

além disso, as empresas estão a apostar em promoções, parcerias e reduções de preços, que oscilam entre os dez e os 40 euros. «as touradas tradicionais acabaram. agora é preciso apostar na comunicação, oferecer outro tipo de propostas. tem de haver uma compensação no brinde ou na oferta cultural associada»,confessa pessoa de carvalho, falando na sua experiência nas caldas da rainha.

«além de homenagearmos o toureiro d. francisco mascarenhas, tivemos um espectáculo de fado». além disso, por cada dois bilhetes, ofereciam o terceiro. na praça de touros de vila franca de xira, a aposta centrou-se nos mais novos. «fizemos descontos de 50% para jovens até aos dez nos», explica o gerente da praça, ricardo levezinho, garantindo que conseguiu esgotar no último fim-de-semana os 3500 lugares da praça.

a mais emblemática praça do país também não está a passar ao lado da crise. este ano, há menos espectáculos no campo pequeno, que está a vender bilhetes desde os dez euros e que inclui na sua oferta concertos e visitas de famosos.

excesso de touros

mais protegidas estão as touradas associadas a datas e festejos tradicionais. aliás, durante este mês de agosto –um dos três fortes da festa brava – está confirmada, entre outras, a realização da famosa tourada na praça das caldas da rainha, a 15 de agosto, a de 17 em coruche e em barrancos, no último fim-de-semana do mês. para os criadores de touros, os bolsos mais vazios dos portugueses não são o único problema.

«há excesso de touros». explica joão santos andrade, da associação portuguesa dos criadores de toiros, referindo-se ao facto de os muitos criadores espanhóis estarem a vender para portugal devido à falta de espectáculos que se verifica no país vizinho.

além disso, o número usado nas touradas diminuiu: «em vez dos tradicionais seis touros por corrida, é mais frequente ter quatro». «estamos todos apreensivos», avisa joão santos pereira, explicando que um toiro podia valer entre 1500 e 2500 euros e que hoje há quem venda apenas por mil.

sonia.balasteiro@sol.pt