NBA. Uma espécie de dejá-vu que está para durar

Pela terceira época consecutiva, Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers discutem o título na NBA  

Aí estão as tão aguardadas finais da NBA. Depois de mais uma época desgastante, que começou em força na última semana de outubro, duas equipas discutem o título depois de deixar outras 28 pelo caminho. Neste caso, foi apenas mais do mesmo: é que a esta fase, a de todas as decisões, chegaram exatamente as mesmas equipas das últimas duas temporadas – Golden State Warriors, vindos da Conferência Oeste, e Cleveland Cavaliers, da Conferência Este. Em 2014/15, foram os Warriors a festejar; na época passada, a glória final sorriu aos Cavaliers, levados às costas por um LeBron James no melhor momento de uma retumbante carreira – isto, depois de terem virado um cenário de derrota por 3-1 para vitória final por 4-3. 

Dejá-vu? É que até à madrugada de hoje, em que voltou a haver nova final [depois do fecho da edição do i], os Warrios venciam por 2-0, depois de terem derrotado os Cavaliers , num primeiro momento, por 113-91, e, no segundo jogo, por 132-113. 

Miguel Barroca, ex-base português (bicampeão nacional pelo Benfica entre 2008 e 2010) e atual comentador na Sport TV, contactado pelo i ainda antes de ser disputada a primeira final, apostou em Kevin Durant, Stephen Curry e companhia. “Para mim, vai ficar 4-2 para os Warriors. Parecem-me ser a melhor equipa. Defensivamente estão muito bem preparados para parar os Cavs, porque têm jogadores como Durant e [Draymond] Green, capazes de limitar o LeBron. Não direi parar, porque é quase impossível parar um jogador destes, mas vai ter certamente mais trabalho para fazer o que melhor sabe. Depois têm o Curry, o [Shaun] Livingston… São uma equipa muito equilibrada. E têm um estilo de jogo muito dinâmico, são todos bons lançadores. Para quem está a defender… é daquelas coisas: tapa-se de um lado, destapa-se do outro. Mas as duas equipas estão a preparar-se muito bem para estes jogos e acredito que iremos assistir a finais épicas, que ficarão na história da NBA”, salientou o antigo atleta.

Uma hegemonia natural

E como explicar este domínio de Cavaliers e Warriors nas últimas três temporadas? Para Miguel Barroca, não é difícil. “Têm sido claramente as equipas mais fortes, os outros vão ter de se mexer muito bem para se aproximar deste nível. Prevejo uma era com muitas finais seguidas entre estas duas equipas, é a tendência natural. O LeBron continua a um nível incrível, os Warriors, que já tinham o Curry, reforçaram-se este ano com o Durant… São equipas com estrelas rodeadas de muitos outros bons jogadores. Era previsível que fossem estes os finalistas”, realçou Barroca. 

Na fase regular, os Golden State foram a melhor equipa (67 vitórias e 15 derrotas); nos play-off, melhor ainda: superaram as três eliminatórias só com vitórias (12-0), algo inédito na história da prova. Os Cavaliers tiveram mais dificuldades na primeira fase (51 vitórias e 31 derrotas), mas recuperaram a forma nos play-off: só não venceram um jogo, na final da Conferência Este, perante os Boston Celtics. 

Nessa final, LeBron bateu um recorde que era até então pertença do maior de todos: Michael Jordan. King James tornou-se o jogador da história com mais pontos em play-off: 5989, mais dois que Jordan. Esta edição, de resto, foi pródiga nesse sentido: recordes míticos, vistos como quase inatingíveis, foram quebrados. E nesse particular, um jogador destacou-se dos demais: Russel Westbrook, armador dos Oklahoma City Thunder. “Ninguém no seu perfeito juízo diria que era possível bater aquele recorde dos triplos-duplos [igualou o feito de Oscar Robertson em 1962 com um triplo-duplo de média na temporada, além de estabelecer o recorde de maior número de triplos-duplos numa época: 42]. Fez dos Thunder uma equipa competitiva. Se não fosse ele, nem tinham ido aos play-off. O [James] Harden [Houston Rockets] só não é o MVP desta temporada porque houve o Westbrook. Claro que os recordes existem para ser batidos, mas há recordes e recordes… Este é absolutamente de loucos!”, considera o ex-base português. Mas também Curry, que bateu o recorde de triplos num jogo (13). No entender de Miguel Barroca, não se pode dizer que tenha havido jogadores a desiludir nesta temporada. Por outro lado, há vários que se destacaram e poderão ser figura de proa num futuro próximo: “O [Giannis] Antetokounmpo, dos [Milwaukee] Bucks. É muito novo [22 anos] mas já é incrível. Vai ser um dos melhores jogadores da liga. Depois, há o [Kawhi] Leonard, dos [San Antonio] Spurs: foi a sua lesão que os tirou da corrida nos play-off. Entra facilmente num top-5 da liga.”

Grandes desiludiram

Em termos coletivos, o caso já muda de figura. Houve equipas a surpreender pela positiva, mas também há o reverso da medalha. “Os Orlando Magic desiludiram. Numa época em que pareciam estar mais competitivos, nem chegam aos play-off… Foi completamente ao lado. Os [New York] Knicks também foram uma desilusão, numa Conferência Este que é muito mais fraca que a Oeste. Os [Los Angeles] Clippers… foi mais um ano que ia ser deles, mas depois nunca é. São uma equipa em fim de ciclo, o Chris Paul e o [Blake] Griffin devem sair. Pela positiva, de destacar os Boston Celtics, um exemplo perfeito de reconstrução: ganharam títulos, a equipa desfez-se e agora voltou outra vez à luta. Mas também os Utah Jazz: ninguém dava nada por eles, mas chegaram ao play-off e só foram eliminados pelos Warriors, o que é perfeitamente natural. Não tinham uma única estrela e fizeram uma época muito interessante. E os Miami Heat. Com limitações, jogadores que saíram, acabaram por fazer uma época bastante positivo. O Erik Spoelstra mostrou que é um bom treinador”, salientou Barroca. 

Voltando às finais: será a oitava da carreira de King LeBron James, sétima consecutiva. Ganhou três: duas com os Miami Heat e uma com os Cleveland – primeira na história do clube. Curry, MVP e campeão em 2014/15, vai para a terceira final, enquanto Durant disputou apenas uma pelos Thunder, perdida em 2012 para os Miami Heat. 

Quanto aos duelos entre as duas equipas na fase regular, os Cavs venceram o primeiro, por 109-108, na noite de Natal, mas acabaram arrasados no segundo, menos de um mês depois: 126-91 para os Warriors. Falta falar de outra particularidade: os Warriors têm sido orientados pelo adjunto, Mike Brown – treinador… dos Cavs de LeBron na final de 2007, perdida para os Spurs -, devido a problemas de saúde do técnico principal, Steve Kerr.