Pés Firmes

Sei bem que a liberdade se conquista todos os dias. Ser livre é ter a ousadia de pensar e agir, de ter memória e consciência, de ter dúvidas e também fraquezas, de ser paciente mas exigente, de ser tolerante mas com limites, de conhecer a realidade e não temer as dificuldades. E, nos momentos em que…

É que, como nos ensinou Gandhi, «a força não provém da capacidade física mas da vontade férrea»! Mesmo em tempos difíceis, em que muitos fogem do combate ou se recusam a assumir responsabilidades.

De repente, a unanimidade acerca da vontade do Governo – e do Parlamento! – de trazer a Agência Europeia do Medicamento para Lisboa revelou-se uma imensa ‘diversidade’.

Escutámos vozes diferenciadas e lemos artigos em que a superioridade da escrita se combina com a falsidade dos argumentos. Já percebemos que há argumentos que coincidem com propósitos eleitorais. E que há ‘alianças verbais’ que são, apenas, ‘articulações conjunturais’!

A decisão europeia só ocorrerá em meados de Outubro, bem depois da data das eleições autárquicas. E, de repente, sucedem-se as candidaturas, as vontades ditas sérias, o talento e a tristeza, o centralismo e a descentralização, o Terreiro do Paço e – desculpem a ousadia – até o ar saudável da Serra do Caramulo. Sempre atrativo para europeus a precisarem, nesta Europa caótica, de um ar ‘respirável’ e bem saudável.

Mas como escreveu Paul Valéry – numa obra bem interessante e com o sugestivo título Pensamentos Maus e Outros – «a fraqueza da força é só crer na força». Acreditar, aqui e agora, que Lisboa – e a sua Área Metropolitana – é forte e atrativa, sugestiva e diversa, entusiasta e com interesse, diferente e reconhecida. E cada vez mais conhecida.

Sabemos que a disputa europeia vai ser intensa e imensa. Os ‘despojos britânicos’ são alvo natural de muitas disputas. E múltiplos interesses. Conhecemos legítimas paixões empresariais e sentimos interessantes vontades políticas.

E ser em Lisboa é bom para Portugal. Mesmo muito bom. Quem vem a Lisboa vai ao Porto e a Braga, ao Algarve e à Madeira, a Coimbra e aos Açores, ao Douro e ao Alqueva, à Ericeira e à Nazaré, a Sines e a Peniche, a Évora e a Viseu.

Quando, com toda a honra, representei Sintra na Organização das Cidades Património da Humanidade, tudo fiz para que o Alto Douro Vinhateiro não entrasse na ‘classificação de risco’. E fi-lo em direta articulação com os responsáveis dessa paisagem singular – e juntos tivemos força para convencer a Unesco a sentir a beleza dos lugares e a riqueza única de uma paisagem deslumbrante. E cada um e cada uma dos responsáveis mundiais que levámos ao Douro no final de um dia de múltiplas descobertas acreditou que, quando estamos unidos, somos bem fortes e temos a certeza de poder negociar. E, logo, de fazer acreditar.

Nestes dias de muito calor acredito que algumas das vozes que se levantaram para proclamar, em total liberdade, a sua opinião não deixarão de sentir, nos seus leves pés, a espuma das ondas e de se refrescar nas águas limpas das nossas douradas praias. Não deixarão de sentir e refletir.

E, nem pensando nos medicamentos e nesta Agência que podemos acolher, recordarão o Marquês de Maricá a dizer que «a força sem inteligência é como o movimento sem direção»!

É mesmo!  

* Advogado