Confesso que tinha enorme curiosidade de ver o que sucederia na greve dos professores aos exames nas semanas que antecederam o 21 Junho. Percebi rapidamente que o principal sindicato, leia-se Mário Nogueira, não iria recuar depois de tanta argumentação a defender reivindicações mais ou menos difíceis de serem aceites, mais ou menos populistas, todas do agrado dos sindicalizados.
Os professores da Função Pública gostam de ouvir – e até, com certeza, acham justo – que se façam exigências como o regime especial de aposentação aos 60 anos, com 36 de exercício. Ou até pedir o descongelamento de carreiras, passando pela abertura de concursos de vinculação extraordinária para docentes contratados ou redefinição de horários de trabalho. Quem não gostaria?
Todos, a começar por mim. Que também gostaria de já estar reformado (embora não sendo atualmente professor), ou ter redefinidos horários de trabalho (isto é: menos trabalho). Claro que o grevista não perde tempo a pensar em quem teria de suportar os encargos inerentes, por via de mais impostos. Adiante, vamos para a greve e em dia que faça mais mossa!
O 21 junho tinha exames? Tanto melhor! Este dia vinha mesmo a calhar. O facto de os alunos ficarem stressados, dias ou semanas, a pensar que o estudo poderia ser em vão, era detalhe que não importava. Se os pais idem, idem, a sofrerem revoltados vendo os filhos em stresse, também não era importante – pois os sindicatos sabiam que, a 21 junho ou noutro dia, haveria o tal exame e o assunto cairia no esquecimento.
Mas havia um risco que o Governo sabia como ninguém e Mário Nogueira também tinha de levar em conta: os custos políticos desta greve! Aqui tinha eu curiosidade em ver como iriam dar a volta, para todos poderem sair a ganhar sem danos colaterais. Ora, a resposta veio a dias da greve e da forma mais simples de todas: o Governo decretou serviços mínimos! Mário Nogueira aceitou, certamente agradado com a solução, e a greve foi o sucesso esperado. Todos saíram a ganhar! Até os miúdos e pais a quem o stresse se acabou! Tiro o chapéu!
No dia da greve, Mário Nogueira explicou, com as escolas encerradas e em que não houve exames, o sucesso quase total. E nas escolas em que houve exames, só falou nas greves a «conselhos de turma» e outras atividades – passando praticamente por cima da comparência total dos professores, explicando com ar cândido e compreensivo que «naturalmente, em função dos serviços mínimos, havia que respeitar». E mais umas tiradas a defender a gestão democrática das escolas (suponho que se deva referir ao controlo sindical total das mesmas).
A festa (leia-se ‘greve’) ficou feita! Tudo na mesma, sem mossas em ninguém.
Em ninguém? Apenas nos professores usados nestas utopias, naqueles que vão acreditando sinceramente nestas promessas impossíveis de cumprir, como são as reformas antecipadas nos tempos que correm. Podem até no futuro receber umas migalhas, como um pequeno descongelar de carreiras, ou uns tantos (poucos) se vincularem por concurso. Mas, na verdade, são expectativas criadas a toda uma classe que deveria pensar mais pela própria cabeça.
Conclusão? Greves assim são até gostosas para o Governo, desenvolvendo aparências como estas lutas com os sindicatos, sobretudo comunistas. Contudo, na minha opinião, são estes os autênticos baluartes do Governo, como se viu neste exemplo ou se pode constatar nos transportes.
P. S. – Inesperadamente faleceu Miguel Beleza! Perdeu-se um indivíduo brilhante, com humor notável a adornar profundos conhecimentos técnicos, um economista de eleição. Não tendo convívio com ele, era um prazer ouvi-lo, mesmo quando falava do seu FCP! Visita habitual de grande amigo meu, onde por vezes nos encontrámos, vou sentir a sua falta!