No dia 5 de Março de 2001, Jorge Coelho pediu a demissão na sequência da tragédia queda da ponte de Entre-os-Rios. «A culpa não pode morrer solteira e nesse sentido têm que se tirar as consequências políticas. Não ficaria bem com a minha consciência se continuasse», disse o então ministro do Equipamento Social de António Guterres na hora em que de demitiu. O caso de Jorge Coelho abriu um precedente e voltou à baila acompanhado da pergunta: deve a ministra Constança Urbano de Sousa ter a mesma atitude, perante a tragédia de Pedrógão Grande?
A resposta não é imediata. Numa primeira fase e antes de serem apuradas responsabilidades sobre o que se passou naquele dia, o primeiro-ministro e o PS dão todo o apoio à ministra da Administração Interna. «Tem sido uma excelente ministra», disse António Costa, numa entrevista, esta semana, à TVI. Costa elogiou Constança Urbano de Sousa por ter «enfrentado esta situação que é muito difícil» e lembrou que já foi ministro da Administração Interna e conhece a dureza do cargo. «Tenho uma grande admiração por todos os meus ministros. Por ter sido ministro da Administração Interna tenho particular respeito por quem exerce aquelas funções. Sei que são funções de uma enorme dureza», afirmou. O Presidente da República, de acordo com o jornal i, esta semana, ajudou António Costa a segurar ministra.
Constança Urbano de Sousa foi confrontada várias vezes, ao longo da semana, com a possibilidade de apresentar a demissão, perante a dimensão da tragédia. A ministra garantiu, em entrevista à RTP, que «enquanto tiver a confiança do primeiro-ministro não me demito».
«Foi o momento mais difícil da minha vida», diz ministra
Constança Urbano de Sousa considerou que teria sido «muito fácil» demitir-se, mas optou por continuar a «missão de serviço público» e assumir «as responsabilidades. Teria sido covarde da minha parte e não sou uma pessoa covarde. Este foi o momento mais difícil da minha vida», afirmou. Uns dias antes, quando a situação dos incêndios naquela região ainda era bastante crítica, a resposta não foi tão segura. Confrontada com o cenário de demissão, a ministra da Administração Interna admitiu que essa questão poderia colocar-se quando a situação tivesse controlada. «Este é momento de ação, não é um momento de demissão. Depois iremos pensar no assunto, mas neste momento o que me preocupa é tentar debelar esta situação externamente difícil que temos ainda pela frente».
O porta-voz do PS, João Galamba, também rejeitou que seja obrigatório «rolar a cabeça de alguém» na sequência da tragédia de Pedrógão Grande. O socialista, no programa Sem Moderação, na TSF e Canal Q, rejeitou comparar este caso com a queda da ponte de Entre-os -Rios. «É um bocadinho diferente. O governo não tutela os fogos e a natureza». O porta-voz dos socialistas admitiu, porém, que tem de haver «uma averiguação e um inquérito» para perceber o que aconteceu no terreno.
PSD quer comissãoindependente. PS vai apoiar
Passos Coelho – que pediu uma audiência com o Presidente da República e esteve cerca de uma hora em Belém nesta sexta-feira – defendeu a criação de uma comissão independente para apurar as causas da tragédia de Pedrógão Grande. «As explicações são ainda incompletas e vai ser importante que todas as explicações sejam mesmo dadas. E todas significa que é preciso que uma instância que seja constituída por peritos, técnicos com independência sobre a administração, possam elencar todas as questões que são relevantes».
Luís Montenegro enviou uma carta a todos os lideres parlamentares a convidar os restantes partidos «a sugerir os especialistas de reconhecido mérito». O PS já respondeu à carta e apoia a criação desta comissão para apurar as razões da tragédia. O primeiro-ministro também manifestou «total abertura e disponibilidade para apoiar qualquer proposta de comissão técnica independente que venha a ser criada».
CDS questiona PM se mantém confiança na ministra
O CDS enviou 25 perguntas a António Costa. Os centristas querem saber se o primeiro-ministro «mantém a confiança» em Constança Urbano de Sousa. O CDS quer também perceber o que aconteceu no terreno : «Quem deu o primeiro alerta?, que entidade o recebeu?, como foi efectuado o ataque inicial e quanto tempo demorou o despacho de meios terrestres e aéreos?».