Redes sociais. Zuckerberg e a santa madre igreja do Facebook

Pode o Facebook transformar-se num construtor e agregador de comunidades capaz de substituir a igreja? Mark Zuckerberg, que terminou recentemente uma ‘estranha’ viagem pelos EUA, não só acha possível como anunciou que a nova missão da rede social passa por aí

Por detrás dos números astronómicos do Facebook, há uma missão que deixou de ser apenas a de “ligar” as caras por esse mundo fora – objetivo já dado como atingido. Agora, Mark Zuckerberg, CEO daquela que é a maior cabeça da hydra das redes sociais, quer elevar a fasquia de forma quase transcendente e usar o Facebook como substituto virtual das comunidades físicas, sejam elas igrejas ou clubes. Um caminho, diz a imprensa norte-americana, que começa agora a ser percorrido e que poderá ter como destino a Sala Oval.

Por partes. O anúncio da nova missão da rede social surgiu durante a primeira Communities Summit (sim, o Facebook criou uma summit – cimeira – interna, pensada para reunir os administradores de vários grupos) que decorreu em Chicago nos dias 22 e 23 de junho. Zuckerberg anunciou que a sua rede social tem uma nova missão – nada mais nada menos do que “dar às pessoas o poder de construir uma comunidade e aproximar o mundo”.

“As pessoas que vão à Igreja têm mais probabilidade de se voluntariar (…), não por serem religiosos mas porque fazem parte de uma comunidade”, começou por dizer. “Uma igreja não se junta apenas por si própria. Tem um pastor que toma conta do bem-estar da sua congregação (…), as equipas das ligas dos miúdos têm um treinador que os motiva e ajuda a ser melhores. Os líderes definem a cultura, inspiram-nos, dão-nos uma rede segura e olham por nós”, afirmou, induzindo que o Facebook – e ele próprio – podem desempenhar esse papel.

O novo caminho proposto pretende ser uma reação ao “isolacionismo”, aos “nacionalismos” e ao “declínio do associativismo entre membros de grupos de comunidades locais em todo o mundo”, resumiu a Bloomberg. Uma missão que surge numa altura em que o Facebook foi criticado por “permitir a propagação das fake news e de ideologias extremistas” e ter sido citado, inúmeras vezes, como um dos ‘aliados’ da campanha que levou à eleição de Donald Trump. O reposicionamento até pode ter, à partida, um tom nobre, mas é possível que se prenda com outro propósito mais palpável: a candidatura do próprio Zuckerberg à presidência dos EUA.

Mark Zuckerberg já afirmou que não entraria na corrida à Casa Branca, mas a verdade é que o CEO da Facebook terminou recentemente uma digressão completa aos Estados Unidos o que, de acordo com o “Business Insider”, levantou novamente essa lebre.

Consciência pesada?

Durante a viagem, Zuckerberg foi fotografado a trabalhar numa linha de montagem de uma fábrica ou a visitar bases militares, por exemplo. Imagens que todos conhecemos como as típicas de uma candidatura política.

No entanto, Nathan Hubbard, antigo CEO da Ticketmaster (uma das maiores empresas de vendas de ingressos online), acredita que o périplo norte-americano de Zuckerberg mais não foi do que uma tentativa do magnata para tentar perceber o relacionamento das pessoas com a sua rede social e em que medida é que essa relação de forças teve peso nas últimas presidenciais norte-americanas. Segundo Hubbard, Mark não “percebeu o papel que o Facebook teve na eleição do ano passado e no discurso político”, pelo que viajou pelo país para tentar perceber como “pode ter o Facebook contribuído para a eleição do presidente Trump”.

Os verdadeiros motivos da viagem não passam de especulação, mas caso a candidatura à Casa Branca se concretize em 2020, Zuckberg tem muito mais do que uma conta bancária estupidamente cheia como ponto de partida. É que a rede que começou como uma brincadeira, criada num quarto de faculdade, atingiu um número sem precedentes de utilizadores, o que lhe dá um estatuto de influência muito difícil de ombrear.

A maior rede do mundo

Na semana passada, o Facebook atingiu a marca de dois mil milhões de utilizadores. O feito foi anunciado na terça-feira e é um número ainda mais avassalador se tivermos em conta que a atual população mundial ronda os 7,2 mil milhões. Ou que os relatórios mais recentes da ONU garantem que um em cada sete habitantes do planeta ainda vive sem eletricidade.

“O mundo está um bocadinho mais brilhante agora”, escreveu Zuckerberg. “A partir desta manhã, a comunidade Facebook tem agora oficialmente 2 mil milhões de pessoas! Estamos a fazer progressos a conectar o mundo e agora vamos aproximar ainda mais o mundo. É uma honra fazer este percurso convosco”, acrescentou. Resta saber se falou como CEO ou como político.