Diplomacia. EUA azedam o elo chinês com sanções, armas e um navio de guerra

Os americanos regressaram às operações de livre navegação no Mar Meridional da China e enviaram uma remessa de mais de mil milhões de dólares em armas para Taiwan. Pequim não ficou calada. 

O governo norte-americano parece regressar à rota de maior confronto com Pequim, ao ver que o dossier norte-coreano não avança na velocidade desejada. Depois de emitir um rol de sanções na quinta-feira contra um banco e vários cidadãos chineses por negócios realizados com Pyongyang, a marinha americana regressou às operações de livre navegação no Mar Meridional da China, um vespeiro de tensões militares e territórios disputados.

No domingo, o destruidor americano USS Stethem – que transporta mísseis Tomahawk – navegou a 12 milhas náuticas de um pequeno arquipélago no Mar Meridional da China reclamado pelo Vietname e Taiwan, testando o limite das águas territoriais e a paciência chinesa, que considera estes territórios vitais e as operações uma provocação à sua soberania. Pequim respondeu enviando os seus próprios navios de guerra e aviões militares para a zona.

“Trata-se de uma provocação militar e política”, disse o governo chinês das manobras americanas ao largo das pequenas ilhas, pensadas para sublinhar a ideia de que aqueles territórios são de livre circulação. “As ilhas Xisha são uma parte inerente ao território chinês. Os Estados Unidos, que estão a espoletar problemas na região, caminham na direção oposta dos países que aspiram à estabilidade, cooperação e desenvolvimento.”

A manobra americana parece ter sido um sinal da impaciência em Washington com os progressos chineses no tema da Coreia do Norte. A Casa Branca considera que a marcha militar norte-coreana é uma das mais urgentes ameaças internacionais e entregou a liderança do processo a Pequim, depois de um encontro entre Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping na Florida, em abril, que iniciou semanas de declarações contidas e vários elogios americanos.

O período de cautelosa amizade parece esvair-se. Para além da manobra militar americana no Mar Meridional da China, Washington aprovou na sexta-feira uma venda de armas no valor de 1420 milhões de dólares a Taiwan, uma prática antiga que contradiz a política de “uma só China” que Pequim considera vital. E, num telefonema no domingo, Xi comunicou ao presidente americano que a relação entre os dois está a ser prejudicada por “fatores negativos”.

O telefonema de domingo demonstra o desgaste diplomático entre Washington e Pequim. Os presidentes americano e chinês preparam-se para um encontro no final desta semana na cimeira dos G20 na Alemanha, e se é verdade que ambos reconheceram o princípio de "uma só China" e denunciaram a marcha nuclear da Coreia do Norte – segundo os relatos governamentais da conversa –, a Casa Branca fez questão de dizer que procura uma “relação comercial mais equilibrada” entre os dois países, regressando a um dos temas mais beligerantes da campanha de Trump.