“Todos os bancos vão precisar de mais capital daqui a seis meses.” A garantia é do presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) ao lembrar que, em janeiro, termina o prazo para as instituições financeiras reforçarem as suas almofadas de capital por exigência do Banco de Portugal (BdP).
Ainda assim, Paulo Macedo acredita que, mesmo com este reforço de capital, é possível que esta verba extra não venha a repercutir-se em termos de concessão de crédito. “Houve uma redução do crédito. Era o que se pedia ao país, às empresas e às famílias”, referiu numa conferência promovida pelo ISEG.
O responsável diz, no entanto, que isto não quer dizer que os “bancos não tenham capacidade para emprestar”. E dá como exemplo a situação da Caixa que, no seu entender, “tem claramente liquidez que permite ter uma concessão de crédito” muito além do que tem. Daí garantir que a Caixa “quer” dar mais empréstimos.
“Os bancos têm de ter mais capital. É uma realidade que os bancos têm mais exigências em termos regulamentares”, revela.
Esta não é a primeira vez que o presidente da Caixa chama a atenção para a necessidade de aumentar a concessão de crédito. Paulo Macedo já veio garantir que o banco público tem mais de quatro mil milhões de euros para financiar o tecido empresarial.
“O orçamento existe, a liquidez existe, os rácios de capital existem, assim haja projetos que seja possível aprovar”, revelou, acrescentando ainda que “a Caixa quer conceder crédito aos bons projetos porque tem liquidez, tem rácios de capital e tem rácios de transformação abaixo de 100%”, salientou.
Recorde-se que o Banco de Portugal deu um ano aos maiores bancos para que constituíssem uma reserva adicional de capital. E este prazo acaba em janeiro, quando as novas regras entram em vigor, com o objetivo de garantir a estabilidade do sistema financeiro. “Há maiores exigências para o mesmo nível de concessão de crédito”, explica.
Regresso aos lucros
Ainda na semana passada, o Banco de Portugal afirmou que os bancos que operam no mercado português voltaram a ter uma rentabilidade positiva no primeiro trimestre do ano, em termos conjuntos, depois de terem tido prejuízos em 2016.
“Face ao trimestre homólogo, verificou-se uma melhoria da rendibilidade, suportada pelo crescimento da margem financeira e dos resultados de operações financeiras, e uma diminuição do fluxo das imparidades”, revelou o órgão regulador.
O BdP sublinhou ainda que “o ativo total do sistema bancário permaneceu estável face ao último trimestre de 2016” e que “os processos de recapitalização da CGD e do BCP contribuíram para alterações na estrutura do balanço, traduzindo-se num reforço do capital do sistema”.
Segundo a entidade liderada por Carlos Costa, “a desconsolidação de ativos/passivos no âmbito do processo de venda parcial da participação do BPI na operação angolana conduziu, também, a uma alteração da estrutura do balanço do sistema”.
Quanto à liquidez e financiamento, a entidade liderada por António Costa assinalou que “o financiamento obtido junto do Eurosistema aumentou, contrariamente ao que vinha sucedendo nos últimos períodos”, ao passo que “o rácio de transformação e o gap [diferencial] comercial diminuíram ligeiramente em relação ao trimestre anterior, evidenciando uma tendência de relativa estabilização nos trimestres mais recentes”. Já no que diz respeito à solvabilidade, chamou a atenção para o facto de “após uma redução temporária no último trimestre de 2016, relacionada em grande medida com o aumento extraordinário do nível de imparidades, os níveis de solvabilidade voltaram a cifrar-se em valores próximos dos registados no terceiro trimestre de 2016”.