Pode não ter sido consensual mas, amado ou odiado, o MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia fez-se acontecimento. Projeto de 19 milhões de euros da Fundação EDP para aquele que seria um museu dos novos tempos, a fazer confluir arte, arquitetura e tecnologia, e ao mesmo tempo muito mais do que isso: um novo espaço para a cidade. Eficácia provada logo na inauguração, que juntou tanta gente que teve de ser encerrada a ponte de acesso pedonal, cuja estrutura cedeu com as 60 mil pessoas que acorreram à zona de Belém para ver ao vivo o edifício que fazia chover fotografias nas redes sociais.
Agora, o projeto da arquiteta britânica Amanda Levete é um dos 16 finalistas do prémio de edifício do ano do World Architecture Festival, na categoria de Cultura, cujos vencedores serão anunciados em novembro, em Berlim, na segunda edição em que o festival nascido em Barcelona decorre na capital alemã. Para os prémios, distribuídos por 20 categorias ao todo, estão nomeados edifícios de 68 países, divididos também entre projetos finalizados e futuros.
Foi em 2011 que António Mexia, presidente da EDP, encomendou o projeto para o que seria o museu da fundação à arquiteta britânica, que logo na primeira visita ao local deixou as duas horas previstas estenderem-se para oito, contou a própria na visita guiada à imprensa por ocasião da inauguração. “Ficámos esmagados pelo local e pela luz”, recordou então a arquiteta britânica, que já em 2013 tinha participado, em colaboração com a Corticeira Amorim, num projeto para a Experimenta Design, com a criação de uma estante modular. Depois dessa visita, veio então a ideia de que o que quer que fosse construído ali teria de ser “paisagem”, de deixar a vista livre para ambos os lados – o do rio e o da cidade, com uma cobertura que sem grande esforço se atravessa de uma ponta à outra.
Um edifício sem colunas
O resultado foi um edifício sem colunas – todo ele é suportado pela estrutura da já icónica pala, graças a um tubo concebido pela afaconsult, uma empresa portuguesa de engenharia –, nascido do chão como se sempre ali tivesse existido. Já o revestimento, os azulejos tridimensionais em forma de escamas, são de fabrico catalão, da Cumella, uma empresa familiar que ficou conhecida pelas colaborações com Antoni Gaudí.
E mais do que um museu, o MAAT surgiu em Lisboa como um novo espaço público, de relação com o rio, em linha com as várias intervenções que têm sido feitas ao longo dos últimos anos por toda a zona ribeirinha, caso da Ribeira das Naus ou da Fundação Champalimaud, por exemplo. A prova é que dos mais de 38 mil metros quadrados ocupados pelo edifício, apenas 4 mil correspondem à área coberta. João Santa-Rita, presidente da Ordem dos Arquitetos, destacava na altura a cobertura como um dos pontos fortes do edifício, por estabelecer “uma continuidade da área pública” ao criar “uma varanda ou terraço do tamanho do edifício todo”, ajudando a resolver o problema que Lisboa teve durante tantos anos na relação com o rio. “Desse ponto de vista, é conseguido […] e quem passa na avenida também se apercebe que, de alguma forma, [o MAAT] se vira para a cidade, com a cobertura em degraus a descair e a convidar-nos.”
A dimensão pública do edifício foi uma das grandes preocupações de Levete quando projetou o edifício do museu que a Fundação EDP criou com o objetivo de fazer confluir arte, arquitetura e tecnologia. “Queríamos um espaço onde as pessoas pudessem vir não apenas como um museu, mas um local de espaços públicos onde se pudessem encontrar nesta época em que se comunica à distância”, explicou ainda a arquiteta aos jornalistas por ocasião da inauguração. Altura em que repetiu também em várias entrevistas, uma delas ao “Guardian”, que um edifício assim nunca teria sido possível num país como o Reino Unido, por exemplo – “ainda bem que Lisboa tem uma atitude mais liberal em relação à gradação”. E nem em Lisboa seria consensual, mas ainda bem que o temos.