Turismo. Burocracia empurra investidores para alojamento local

Para os responsáveis do setor, é mais fácil abrir uma unidade de alojamento local do que um hotel. Pedem maior flexibilidade

A burocracia e a falta de flexibilidade da legislação são as principais razões para os investidores apostarem em unidades de alojamento local (AL) em detrimento dos hotéis. Esta foi uma das conclusões do debate organizado pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) com o tema “Hosteleiros vs. Hoteleiros”.

De acordo com vários responsáveis do setor, assiste-se a uma grande inflexibilidade na legislação no que diz respeito à edificação de uma unidade hoteleira, mas o mesmo não acontece quando a aposta é num estabelecimento de AL. 
No entender de Cristina Siza Vieira, presidente da direção executiva da AHP, a explicação é simples: “Basta um reaproveitamento ou uma reinstalação” do edifício para que o investimento dê lugar a um projeto de alojamento local, ficando para segundo plano a aposta numa unidade hoteleira.

Mas nem tudo são vantagens para este segmento de mercado. A dificuldade no acesso ao financiamento, a distribuição – nomeadamente em plataformas digitais como o Booking – e, principalmente, a falta de associativismo são alguns obstáculos que esta área de negócio enfrenta, revela Bernardo D’Eça Leal, do The Independente Hostel & Suites. “As associações de hostels não têm força”, acrescenta. 
No que respeita ao mercado em geral, os responsáveis reiteraram a necessidade de se alterar a legislação no setor hoteleiro e apontaram como principais preocupações num futuro mais imediato o estrangulamento da capacidade aeroportuária de Lisboa e a falta de recursos humanos qualificados.

oferta em números

De acordo com os dados de Cristina Siza, a maioria do número de camas registado em Portugal já é representada pelo alojamento local: 54% do total da oferta. Até ao início de julho estavam registadas 44 427 unidades de alojamento local, das quais 441 classificadas como hostels, num total de quase 42 mil camas, 22 mil das quais em hostels. 
Já no Registo Nacional de Turismo (RNT), o número de hotéis em território português é de 1238, dos quais 36 pousadas e 140 hotéis-apartamentos, num total de quase 205 mil camas.

Em Lisboa existem 8752 unidades de alojamento local, num total de 49 655 camas, 6500 em hostels. Quanto a hotéis, existem 192 unidades, com 36 511 camas. Mas no distrito de Lisboa estão registados 11 407 estabelecimentos de AL, dos quais 176 na categoria de hostels.

Feitas as contas, na região de Lisboa e Vale do Tejo, a divisão de camas está entre 58% para o alojamento local e 42% para os hotéis. E a nível nacional, a capital representa 20% da oferta de AL, enquanto no distrito ascende aos 26%.

No Porto existem 3650 AL, dos quais 30 hostels, que representam 19 600 camas. No RNET encontram-se registados 79 hotéis e 12 mil camas.
Neste segmento, o AL representa 62% da oferta, estando contabilizados no distrito do Porto 4537 AL e 46 hostels. O concelho do Porto tem um peso de 11% na oferta de AL nacional, e o distrito de 16%.
Já no Algarve, onde o alojamento local é mais significativo, o distrito de Faro apresenta 20 239 registos de estabelecimentos de AL, dos quais 39 hostels, num total de 105 mil camas. O número de hotéis é de 135, com 41 608 camas. Ou seja, o AL representa 72% da oferta de alojamento local e 46% no todo nacional.

Crescimento do setor abranda O turismo continua a crescer, mas os últimos dados disponíveis já revelam uma desaceleração em maio face ao mês anterior. Segundo os últimos dados do INE, Portugal registou dois milhões de hóspedes e 5,4 milhões de dormidas. O crescimento homólogo foi de, respetivamente, 7,9 e 7,2%.
Com uma estada média de 2,73 noites, os estabelecimentos hoteleiros estiveram com uma ocupação de 55% em maio, mais 3,3 pontos percentuais do que no mesmo mês de 2016.

Mas quanto a proveitos nota–se uma evolução mais positiva, mais 19,5%, com o setor a encaixar 318,8 milhões de euros. Além disso, também os hoteleiros conseguiram aumentar mais as receitas por cada quarto vendido, com 52,6 euros, ou mais 20,9%.

O INE destaca o “crescimento expressivo” da região Centro – onde se integra Fátima, que recebeu a visita do Papa –, sem o qual o balanço nacional teria sido agravado. Esta região registou uma subida de 20,3% nas dormidas para as 515 mil. A evolução dos mercados externos foi ainda mais notória: 32%.

O INE destaca a evolução dos mercados espanhol e francês – os principais –, assim como do Brasil, Itália, Estados Unidos da América e Polónia.

Desde o início do ano, o setor tem vindo a crescer a um ritmo de 10%, totalizando 7,3 milhões de hóspedes e 19,4 milhões de dormidas, e encaixando proveitos de mais de mil milhões de euros em cinco meses.