Villar. Foi detido o bruto que deu um soco em Cruyff

O presidente da federação espanhola foi ontem ouvido pelo juiz Santiago Pedraz no seguimento de uma operação anticorrupção

O futebol espanhol está no centro do furacão! Uma operação levada a cabo pela Fiscalía Anticorrupción, chefiada por Alejandro Luzón, considerado um duro e que ainda há bem pouco tempo tinha tomado conta do cargo, atacou a cúpula dirigente da federação espanhola e particularmente o seu presidente, Ángel María Villar.

Tudo começou com uma denúncia feita no ano passado pelo Consejo Superior de Deportes sobre alegados delitos de corrupção, apropriação indevida de bens e administração desleal que decorreriam desde 2009. “Resultados inexplicáveis”, foi a conclusão sobre uma indemnização de 20 milhões de euros à empresa Samper, que detinha os direitos de exploração dos jogos da seleção espanhola e cujo contrato foi unilateralmente quebrado em 2012. E inexplicáveis porque, até aí, era essa mesma empresa devedora da federação em 24 milhões de euros. Recorde-se que Villar é também alvo de um processo aberto pelo Tribunal de Instrução de Majadahonda, que o instou a explicar o destino dado a uma subvenção pública de 1,2 milhões de euros que deveriam ter sido entregues a países pobres da África e da América do Sul. Para já, de Villar, apenas silêncio.

Ontem, Santiago Pedraz, um dos magistrados mais considerados de Espanha, que teve a seu cargo casos de enorme transcendência envolvendo membros da ETA, ouviu Ángel María Villar, que passou a noite anterior nos calabouços do comissariado de Las Rozas.

Além do presidente da federação, foram igualmente detidos o seu filho Gorka Villar – com um processo aberto pelas suas atividades relativas à direção- -geral da COMENBOL, a confederação sul-americana –, o antigo vice-presidente para a área económica Juan Padrón e o secretário-geral da federação de Tenerife, Ramón Hernández Baussou.

Perante esta espécie de decapitação federativa, o Consejo Superior de Deportes passou a tutelar a situação de forma que o futebol no país consiga arrancar dentro do calendário previsto – Supertaça agendada para os dias 13 e 16 de agosto.

Entretanto, a Liga avançará hoje mesmo com o sorteio do próximo campeonato, tendo anunciado que, com o desenrolar destes factos recentes, o fará à porta fechada.

Serviço Alejandro Luzón assumiu a direção da Fiscalía Anticorrupción no início deste mês e apresentou imediatamente serviço. É tido como um apaixonado pelo futebol e considerado como um justiceiro capaz de uma limpeza total numa organização que está completamente posta em causa.

A imprensa espanhola noticiava ontem que Luzón e os seus colaboradores mais próximos neste processo, Inmaculada Violán e Esther González, requereram ao juiz Pedraz que Villar e seu filho Gorka fossem alvos de prisão preventiva sem fiança. Justificam a medida com a gravidade do alegado desfalque feito à Real Federação Espanhola de Futebol: nada menos do que 45 milhões de euros.

Há 28 anos no cargo de presidente federativo, sendo igualmente presidente do Comité de Arbitragem da UEFA, Ángel María Villar foi jogador do Athletic Bilbao entre 1969 e 1981. A sua carreira ficou fatalmente marcada pelo dia 24 de março de 1974, num jogo entre a equipa basca e o Barcelona em San Mamés. O holandês Johan Cruyff, nessa altura no Barcelona, levou para contar: um murro bem desfechado e de forma naturalmente bruta. “Estava de cabeça quente”, explicaria Villar muitos anos mais tarde. “Na sequência de um canto, no meio da confusão que se gerou na grande área, quis dar-lhe um ‘puñetazo’, mas acho que não lhe acertei em cheio. Mas que queria dar-lhe um murro, isso queria!”

Villar nem esperou pelo cartão vermelho. Saiu direto para o túnel de acesso aos balneários. “O árbitro era o Montesinos e eu percebi que ele tinha visto tudo com clareza. Quando ele levantou o cartão, já eu ia a sair de campo.” Em seguida confessou que nessa noite dormira em casa da namorada com medo que lhe fizessem alguma espera à porta.

Os anos passaram e Villar está perante uma situação bem mais grave. Alejandro Luzón parece não ter dúvidas de que ele tirou benefício das verbas pagas à federação por particulares realizados pela seleção. “Este golpe no futebol espanhol que teve eco em todo o mundo deve servir para que se imprima um novo e definitivo impulso que o venha a redefinir”, escrevia o jornal “Marca” em editorial. Nada ficará como até aqui…