Sucede que, como uma vez escrevi, as opiniões na Quadratura do Círculo foram-se progressivamente aproximando. No sentido, se não do politicamente correcto, pelo menos do ‘politicamente conveniente’.
Há dois dias, naquele programa, Lobo Xavier disse surpreendentemente que o PSD e o CDS tinham de «pedir desculpa» (sic) pelas suas declarações sobre o incêndio de Pedrógão. Pedir desculpa, porquê? Se 40 dias depois da tragédia as autoridades ainda não tinham apresentado a lista de vítimas, não era legítimo a oposição interrogar-se sobre o seu número exacto? Dizer isso era insultar as vítimas?
Na 2ª feira, depois de se levantarem novas dúvidas sobre o número de mortos em Pedrógão, o líder parlamentar do PSD veio pedir a divulgação da lista de vítimas num prazo de 24 horas. E o Ministério Público, que vinha invocando estranhamente o segredo de Justiça, recuou e divulgou de facto a lista. O PSD teve, pois, nesse processo um papel decisivo, que vai agora permitir verificar se a lista está correcta ou não.
Até aqui, essa confirmação era impossível.
Portanto, o PSD e o CDS têm de pedir desculpa porquê e de quê? Digo mais: todos os partidos, o PS, o PCP e o BE, já deviam ter feito o mesmo, pedindo a publicação da lista de vítimas. Mas os partidos da esquerda estão mais empenhados em ‘malhar na direita’ do que em fiscalizar a acção do Governo e das autoridades.
Mas se isto já é normal, o estranho é que, em Portugal, haja tantas figuras de direita e centro direita, como Lobo Xavier, que se dizem afectas ao PSD ou ao CDS mas que estão sempre prontas a fazer coro com a esquerda para atacarem o PSD e o CDS. Do outro lado da barricada, isso não se verifica: durante este período, não ouvi uma única voz afecta à esquerda manifestar-se contra o Governo, apesar do número anormal de mortos em Pedrógão e do estranho roubo em Tancos.
E isto deve levar-nos a pensar. No espaço público português, a opinião está muito desequilibrada a favor da esquerda. Que, além de ser mais combativa e militante, tem poderosos aliados no campo contrário.