Bolt. O campeão do povo afinal também era humano

Na despedida da modalidade onde inscreveu para sempre o nome em letras douradas, Bolt fraquejou: ficou com o bronze

Não foi o fim sonhado: foi o possível. Usain Bolt despediu-se dos 100 metros, modalidade onde foi rei e senhor na última década, com um surpreendente terceiro lugar, vendo o último título mundial que disputou seguir para os Estados Unidos. Um desfecho que fica, ainda assim, longe de beliscar o legado e o estatuto que o relâmpago jamaicano deixa na modalidade – e que ficou bem à vista no fim da corrida, quando o público presente no Estádio Olímpico de Londres vaiou o campeão, Justin Gatlin, e aplaudiu Bolt de pé, num cenário que se repetiu na entrega das medalhas.

Os apupos a Gatlin, refira-se, não ocorreram só devido à vitória sobre Bolt. Na verdade, o velocista de 35 anos foi assobiado pelos 55 mil adeptos presentes no recinto de todas as vezes que pisou a pista, o que poderá estar relacionado com as duas suspensões por doping, embora o próprio considere que terá a ver de facto com a sua rivalidade com o jamaicano. “A noite é dele, é o maior. Inspira-me a ser um atleta mais forte e rápido. A Imprensa pensa que nos odiamos, mas é o oposto: rimos, vamos a festas juntos… Só tenho respeito por ele”, realçou (já depois de mandar calar o público e de fazer uma vénia a Bolt) aquele que se tornou no mais velho de sempre a levar o ouro da prova mais rápida de atletismo.

Mas o protagonista desta história era mesmo Usain Bolt. O jamaicano, que até havia visto o principal adversário (Andre de Grasse) desistir poucos dias antes do início do evento, por lesão, arrancou muito mal e a recuperação, que lhe permitiu mesmo fazer o seu melhor tempo do ano (9s95), só deu para o bronze – a prata foi para outro norte-americano, o novato Christian Coleman. “Claro que fiquei um pouco desapontado, não ganhei… Sabia que se a largada não fosse boa, seria uma corrida muito difícil e foi exatamente o que aconteceu. Mas é difícil ficar triste com tanta energia e tanto amor que o público me passou”, salientou Bolt, que assim termina a sua história na prova ao lado de outros dois grandes nomes do desporto: Carl Lewis e Maurice Greene, todos com três títulos.

Futuro no futebol? Bolt nunca escondeu a sua paixão pelo futebol, tendo já por diversas ocasiões revelado que o seu sonho era jogar pelo Manchester United. Muito dificilmente o conseguirá, pelo menos a nível oficial – até por já ter 30 anos –, mas o namoro com a modalidade sempre lhe vai rendendo algumas alegrias. Como o convite do Borussia Dortmund – e mais 11 equipas, de acordo com o seu agente – para ir treinar às suas instalações. “Ele já nos disse que quer treinar aqui e correr contra o Aubameyang. Estamos à espera: quando quiser, será bem-vindo”, realçou o assessor do gigante alemão, Daniel Stolpe. Não será também de negligenciar o facto de o Dortmund ter como acionista a Puma, que por sua vez patrocina… Bolt.

Para já, o futuro próximo do recordista do mundo dos 100 e 200 metros, bicampeão olímpico e o homem mais rápido do mundo, com um currículo e marcas muito difíceis de repetir, ainda passa pelos Mundiais de Londres. No sábado, Bolt será o último homem da Jamaica nos 4×100 metros estafetas, em busca do pentacampeonato. Depois disso, todo um novo mundo de oportunidades se abrirá.