Mauro Xavier. ‘Um PSD apenas economicista é pouco’

Independentemente do resultado nas autárquicas, o antigo dirigente do PSD/Lisboa diz que haverá “um debate a fazer”. Mantém o apoio a Leal Coelho, mas não se arrepende de ter esperado por Santana Lopes

Diretor de campanha de Pedro Passos Coelho na campanha que fez dele líder do PSD em 2010, presidente da concelhia do PSD/Lisboa durante cinco anos e próximo de alguns dos quadro de maior peso (antigo e de promessa), Mauro Xavier tem uma história para contar: a do partido que o viu sair este ano, do ponto de vista local, e a do partido que gostava de ver diferente, do ponto vista nacional, já para o ano que vem.

E porquê? “Um PSD economicista, apenas como objetivo e como fim, é pouco”, avalia. Então o que falta? Não há pausa entre a questão e a explicação. “A célebre reforma do Estado, por exemplo, nunca foi discutida. Se fossemos governo amanhã, quais eram as primeiras cinco reformas que fazíamos? Eu, que sou militante, não sei”, confessa.

Há, reconhece, quem “ache que a liderança [de Passos] deve ir a 2019 disputar legislativas” e, por outro lado, há quem “ache que o partido deve já começar a debater ideias”. Xavier, nesse sentido, está “mais próximo” da via alternativa, ainda que admita ser sempre “mais difícil ser líder da oposição que primeiro-ministro”. No entanto, afirma que é “preciso mostrar aquilo que queremos fazer e não dizer só que ‘queremos ganhar’”. As divergências com Passos, assim, não são tanto em relação às ideias, mas “à sua implementação”.

“Já deveríamos ter começado a debater qual é a política do século XXI para Portugal e tem que haver uma geração nascida depois do 25 de Abril para a fazer. Eu acredito que há. Tem é que se começar o debate”.

Queridos, mudem a casa

Mauro Xavier mudou-se e fez obras. Não no PSD, mas na casa onde o i foi recebido para entrevistar o homem que deixou este ano de liderar os sociais-democratas da concelhia de Lisboa. Em constante movimento devido à vida profissional, o panorama político também foi mexido este ano. Depois de não conseguir o ‘sim’ de Pedro Santana Lopes para a Câmara de Lisboa, o presidente da concelhia local viu o processo autárquico passar para as mãos de Pedro Passos Coelho e a nomeação acabar em Teresa Leal Coelho, a vice-presidente mais próxima de Passos. Xavier assumiu que não voltaria a apoiar internamente o atual presidente do PSD e Leal Coelho recusou reunir com ele. Não vendo a porta do diálogo aberta, Mauro Xavier decidiu bater com a sua e demitiu-se. Ao i explica porquê: “Quando há um bloqueio político são os agentes políticos que têm de resolvê-lo”. E sobre a razão de ser do bloqueio – a tal porta fechada – o político escapa-se: “Tem que perguntar à Teresa Leal Coelho”.

Apesar disso, mostra fé na candidatura do partido à capital e mantém-lhe o seu apoio como militante. “Nunca houve condições tão válidas para ganhar a Câmara de Lisboa”, adverte ao mesmo tempo que recorda “vitórias eleitorais inesperadas” como a primeira de Rui Rio, no Porto.

Rio, de quem não desmentiu aproximações após romper com a direção de Passos, é nome menos referido durante a conversa. Tal como quando inquirido sobre o nome para Lisboa antes de Santana confirmar a recusa, Xavier tem a resposta consigo: “É o tempo de ideias, não de nomes. Não personalizo”. Mas não deixa de piscar o olho às alas mais jovens dos ‘laranjas’, que podem surgir no congresso do próximo ano entre Passos e Rio. “Muito mal estaria o partido se não houvesse candidatos contra Passos, mas quem quiser ser candidato que o diga. Eu espero até que haja mais que um”, incentiva. E se não houver ninguém? “Voto em branco”, vaticina. Em Passos é que não.

Acerca de Leal Coelho também reserva o mesmo argumento que guardou sobre Passos Coelho: “São questões políticas, não são questões pessoais”. Passos “seria sempre melhor primeiro-ministro que António Costa” como Teresa Leal Coelho “seria uma melhor presidente de Câmara que Fernando Medina”.

Do lado da candidata, lembra que não foi “incluído no processo da escolha” e que a “estratégia deveria ter sido outra”, nomeadamente “no calendário”. “Não me revi no resultado final e havia que assumir responsabilidades. Não o fiz de imediato, mas quando senti que estava a perder tempo e a não acrescentar valor”, conta. E se votará nela? “Sem dúvida. O resto é um assunto encerrado”. Reconhece-lhe “conhecimento da cidade”, na medida em que “é a terceira vez que é candidata a Lisboa em listas do PSD”, mas não se arrepende de ter esperado por Santana Lopes até à última: “Foi um grande presidente de Câmara e daria um grande presidente de Câmara outra vez. Há um reconhecimento disso no partido”.

Há tempo para tudo

Não vê a vida interna dos sociais-democratas como “agitada”, mas antes “própria dos tempos autárquicos”. “Havendo uma campanha faz sentido que haja debate”, defende, embora esteja ao lado da sede nacional no que diz respeito à ausência de relação entre o “resultado das autárquicas e a liderança nacional”. “De maneira nenhuma torceria para que o meu partido tivesse dificuldades”, justifica. “Mesmo que ganhemos as autárquicas, há um debate e uma mudança de rumo a fazer”.

Questionado sobre José Eduardo Martins, que convidou para ser coordenador do programa da sua concelhia, ter criticado o PSD local por “falta de oposição”, Xavier diz que “são palavras de cada um”, que está “confortável” com a oposição feita em Lisboa e que valoriza “o contributo do amigo”. Sobre o facto de não ter conseguido acompanhar Martins na lista à Assembleia Municipal, revela: “Estava disponível, mas a distrital entendeu que o meu contributo não era importante nesta fase”.

À saída, uns caixotes de mudanças ainda por desempacotar merecem a pergunta – há quanto tempo se mudou? – e a hesitação repete-se como breve. “Há uns meses… sabe, é como no partido: haverá tempo para tudo”.