Donald Trump poderá continuar a controlar o seu Twitter?

O presidente dos EUA deu ao seu novo chefe de gabinete, John Kelly, total poder para decidir quem trabalha na Casa Branca, para impor ordem e estruturar a equipa da administração. E é isso que o antigo militar está a fazer. Será que vai conseguir supervisionar o @realDonaldTrump? 

Donald Trump poderá continuar a controlar o seu Twitter?

Na série televisiva The West Wing (Os Homens do Presidente), Josiah Edward ‘Jed’ Bartlet, o presidente dos EUA interpretado por Martin Sheen, dialogava a certa altura com um seu secretário, que o substituiria no cargo caso acontecesse alguma coisa: «Tem um melhor amigo? Sim. É mais inteligente que o senhor? Muito mais… Então esse é seu chefe de gabinete.»

O cargo de chefe de gabinete é o mais importante na Casa Branca, uma espécie de braço direito do presidente que controla as políticas, as pessoas e a comunicação, interna e externa. E todos estes aspetos da administração estavam a falhar com Reince Priebus, um dos últimos dispensados por Donald Trump.

Para o seu lugar entrou John Kelly, que desde logo impôs a sua lei numa West Wing dilacerada por conflitos internos, divisões e desorganização: acabar com as tricas, chegar cedo e agendar audiências e reuniões. 

E a marcação de reuniões com o presidente estende-se mesmo ao chefe de estratégia de Trump, Steve Bannon, e ao genro e filha do presidente, Jared Kushner e Ivanka Trump, que são também conselheiros do presidente. A única coisa para a qual Kelly não tem poder é para dispensar, além da família e de Bannon, Kellyanne Conway e Corey Lewandowski, que formam a equipa mais próxima e de maior confiança de Trump. Isso e o acesso à conta de Twitter de Trump. 

O espelho de Trump

O @realDonald Trump é o meio de comunicação privilegiado pelo presidente – até a nomeação de Kelly para o seu novo cargo foi anunciada por Trump via Twitter, com elogios a um «grande americano» e um «grande líder». De resto, este é um meio usado pelo presidente com frequência e intensidade. E para tudo, desde as questões mais importantes às trivialidades, passando pelos ataques aos adversários políticos e à comunicação social, o seu alvo predileto.

Daí que as recentes notícias de que John Kelly quer supervisionar a conta de Twitter do Commander and Chief, incluindo mesmo acesso antecipado aos posts que este pensa publicar, terá deixado Trump para lá de furioso. 

Pessoas próximas citadas pela imprensa norte-americana retratam Trump como «genuíno, que não obedece a guiões ou ensinamentos, nem lê discursos preparados ou está preocupado com o que as sondagens ou ‘focus groups’ lhes dizem».

A conta @realDonaldTrump é o espelho desta personalidade e lidar com ela será, talvez, a missão mais difícil da carreira de John Kelly.

O general dos Marines na reforma tem 67 anos e começou por ser secretário da Segurança Interna nesta administração, cargo a quem Trump confiava a travar a imigração ilegal e garantir a segurança das fronteiras, para além de estruturar o muro na fronteira dos EUA com o México. Kelly foi militar durante quase cinco décadas, tendo chefiado durante quatro anos o Comando do Sul – América do Sul, América Central e Caraíbas – e sido responsável pela controversa prisão de Guantánamo, em Cuba. Esteve em missões no Iraque e Afeganistão e foi o elo de ligação do ramo militar ao Congresso em meados da primeira década deste século. Nascido em Boston e formado na Universidade de Massachusetts, em 2010 perdeu um filho que estava em missão no Afeganistão e em 2016 falou diretamente sobre o que é perder um filho – «não há nada pior do que isso» – e do que é perder um filho em combate – «há um certo orgulho, um orgulho que me diz que ele não tinha de estar lá mas estava porque se voluntariou para estar». Para Kelly, a luta dos soldados que morrem em combate é a luta dos americanos. «Se alguém pensar que pode de alguma forma agradecer-lhes pelo serviço que prestam e não apoiar a causa pela qual eles lutam – que é o nosso país – então está a mentir a si próprio». 

O novo chefe de gabinete da Casa Branca é descrito como leal, respeitador da hierarquia, adepto da disciplina e disciplinador. «Toda a gente na Casa Branca se refere a Kelly como o ‘General’», disse uma fonte ao WSJ.