Fonte próxima do Governo de Pedro Passos Coelho tentou avisar José Sócrates de que estava em curso uma investigação que o visava. O deputado socialista João Galamba foi o elo usado para transmitir a informação.
Em outubro de 2014, um mês antes de Sócrates ser detido no aeroporto de Lisboa, Galamba entrou em contacto com ele.
Diz-lhe ter recebido um sms de uma pessoa próxima do Governo, que lhe pediu para avisar Sócrates de que a Justiça o tinha na mira. E de seguida reencaminhou-lhe a mensagem: «Fala com o JS. Há sururus de que vai ser feito qualquer coisa contra ele muito rapidamente. Se souber algo mais aviso».
Três meses antes, no último dia de julho, já a revista Sábado noticiara que José Sócrates poderia vir a ser detido para interrogatório no âmbito da Operação Monte Branco, a maior rede de fuga ao fisco e branqueamento de capitais. A notícia era incorreta e acabou por ser desmentida pela PGR. Mas tinha uma base verdadeira.
Esquema para despistar as autoridades
Foi nessa altura que Sócrates traçou um esquema com Carlos Santos Silva para se livrarem de provas. O esquema consistiu na criação de um fundo imobiliário – uma espécie de refúgio, onde os imóveis e alguns produtos financeiros que o MP suspeita pertencerem a Sócrates seriam empacotados – para criar obstáculos quase intransponíveis às autoridades.
Ora, as informações veiculadas por Galamba em outubro ressuscitavam o pânico vivido no verão com o texto da Sábado. Sócrates pede então ao amigo mais detalhes, quer saber se a sua fonte é fidedigna. Galamba confirma que é um amigo seu que, apesar de não estar no Governo, «é de um partido do Governo e tem muitos amigos no Governo». Questionado por Sócrates sobre se está mais próximo «do maior partido ou do mais pequeno», Galamba esclarece que «é do mais pequeno» (o CDS-PP).
«Deve ser para compensar as coisas da Tecnoforma…», comenta Sócrates, para desvalorizar o seu caso. Tratava-se de uma alusão à notícia do jornal Público, que avançara que o Organismo Europeu de Luta Antifraude teria detetado a prática de infrações penais na aplicação ou na atribuição de fundos europeus àquela empresa, onde Passos Coelho fora consultor e administrador.
Novo sms de Galamba
No mesmo dia, Galamba diz a Sócrates que recebeu uma mensagem da mesma fonte: «Não sei o que é, mas vai ter exploração mediática. E certamente que não surge agora por acaso. É suposto acontecer esta semana, embora já não falte muito. Se calhar esperam por sexta para não dar margem de reação».
De facto, José Sócrates seria detido 13 dias depois, a 23 de novembro de 2014, por suspeitas de corrupção passiva para a prática de atos contrários aos deveres do cargo, fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais, falsificação, recebimento indevido de vantagem e tráfico de influências. Onze meses depois, deixou o Estabelecimento Prisional de Évora e encontra-se neste momento com Termo de Identidade e Residência.