Poluição. Mais lixo do que peixes no mar? Sim, já em 2050

Investigadores têm alertado para a necessidade de adotar novas medidas de combate à poluição das águas. Um dos maiores problemas é o plástico, que demora vários anos a degradar-se e é responsável pela morte de várias espécies

A quantidade de lixo que vai parar ao mar tem sido motivo de grande preocupação. Apesar de todas as campanhas e chamadas de atenção para o tema, a verdade é há cada vez mais lixo marinho. De acordo com os dados mais recentes, estima-se que, se nada fizermos, em 2050, poderá haver no mar mais plástico do que peixes.

A conclusão surge a par da campanha “O que não acaba no lixo acaba no mar”, da Fundação Oceano Azul e do Oceanário de Lisboa, que visa alertar e modificar o comportamento dos portugueses. Um dos maiores problemas é o plástico: cerca de 8 milhões de toneladas acabam no oceano todos os anos. Uma quantidade que, de acordo com muitos investigadores, poderia cobrir 34 vezes toda a área da ilha de Manhattan, em Nova Iorque, EUA, com uma camada de lixo à altura dos joelhos de uma pessoa.

“A quantidade de lixo no mar tem aumentado de uma forma exponencial. Temos estado a plastificar completamente o mar e, por isso, é cada vez mais imperativo mudarmos a nossa relação com este material”, explica ao i Tiago Pitta e Cunha, CEO da Fundação Oceano Azul, acrescentando que “não há, ainda, uma consciência inequívoca sobre a importância de colocar o lixo no sítio certo. O que pretendemos com esta campanha é alertar as pessoas para a possibilidade de o lixo acabar no mar, degradando assim o ambiente marinho e atingindo milhões de espécies”. 

A mensagem da campanha é clara e os dados também. “Se nada fizermos, o lixo no oceano continuará a matar milhares de animais marinhos todos os anos. Se nada fizermos, haverá no mar mais plástico do que peixe daqui a 30 anos”, esclarece Tiago Pitta e Cunha. Até porque 80% do lixo marinho tem origem na terra e 80% é plástico. 

O Pacífico é o oceano com mais lixo no mundo, estimando-se “que o plástico que aí existe seja 6 seis vezes superior à vida marinha”. E falamos de um material que mata. Os dados mostram que a poluição proveniente do plástico mata, por ano, 100 mil mamíferos marinhos e um milhão de aves marinhas. 

“Falamos, acima de tudo, da necessidade de mudar comportamentos. Nós reciclamos menos do que outros países da Europa, por isso, há mais lixo a ir parar ao mar”.

Ásia preocupa A luta contra a poluição marinha tem estado na ordem do dia e há países que preocupam cada vez mais. De acordo com Tiago Pitta Cunha, “há países na Ásia com rios de plástico, praticamente não se vê a água. Há muito a fazer ainda”. 

Um estudo recente mostra que China, Indonésia, Filipinas e Tailândia descartam 60% dos resíduos de plástico encontrados no oceano. Ao Business Insider, Nicholas Mallos da Ocean Conservancy, sublinhou que, “ao ritmo a que vamos, teremos quase uma tonelada de plástico por cada três peixes nos nossos oceanos até 2025”.

A questão tem estado também na agenda da Organização das Nações Unidas (ONU), que já enumerou várias medidas que devem ser tomadas. Entre os pontos mais importantes está a necessidade de aplicar novas regras para reduzir o uso de plásticos. As empresas devem arranjar alternativas e os consumidores mudar os comportamentos. A ONU recomenda ainda a imposição de multas altas para as embarcações que deitem lixo no mar.

Erik Solheim, da ONU, esclarece que “já passou da hora de abordarmos o problema do plástico que aflige os nossos oceanos. A poluição de plástico está a aparecer nas praias da Indonésia, a repousar no leito marinho do Polo Norte e a ascender na cadeia alimentar até às nossas mesas”.

Portugal na lista negra Um trabalho de novembro do ano passado mostrava que o lixo à superfície do mar corresponde apenas a uma pequena parte dos detritos presentes em águas portuguesas. De acordo com o estudo do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, a costa portuguesa tem mais de 750 mil objetos a flutuar ao longo da Zona Económica Exclusiva. A equipa de investigadores sublinha que a quantidade de lixo em águas nacionais é comparável com o cenário dos países com as águas costeiras mais contaminadas.

Contactada pelo i, Paula Sobral, presidente da Associação Portuguesa do Lixo Marinho, discorda que Portugal seja um dos piores casos: “Seria mais cautelosa. Comparado com a Ásia, não é nada. O problema lá é brutal”.