Por uma saúde digna, pelo meu dever de cidadania

É tempo de dizer basta a esta degradação. É tempo de reivindicar um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde

Considere-se a greve de enfermeiros que decorreu esta semana como ponto de partida para uma chamada de atenção.
Portugal é um país pequeno na sua dimensão geográfica, quando comparado com outras nações europeias. Temos uma população que ronda os 10 milhões. Temos uma história longa e uma democracia que, sendo ainda jovem, já garante a todos os que aqui nascem e escolhem morar um conjunto de direitos indispensáveis à possibilidade de uma vida digna. Neste contexto, é impossível fechar os olhos a problemas básicos como a instabilidade que atingiu a prestação da saúde pública e às limitações impostas aos recursos das unidades de saúde.

As greves de enfermeiros e médicos são o ponto mais visível de um agravamento de tensões, relatado diariamente nos jornais, TVs e redes sociais.
A saúde pública não pode chegar a uma situação limite como colocar em causa o atendimento a grávidas ou agravar as listas de espera para consultas e cirurgias. Não podemos aceitar recuos civilizacionais no acesso rápido e digno à saúde pública.

Não podemos aceitar que as unidades de saúde fiquem em risco de não conseguir prestar os cuidados médicos devidos, porque os seus fornecedores deixam de prover os recursos necessários ou porque os seus profissionais – que dão provas diárias de seriedade – são sacrificados na sua dignidade.

É tempo de dizer basta a esta degradação. É tempo de reivindicar um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde. Para todos e por todos. Não vale a pena estar à espera que o acaso bata à porta e que o rumo se inverta. É tempo de despertar para a necessidade de lutarmos pelo SNS, pelo que é nosso. É chegada a hora de denunciar as situações indignas que conhecemos, que vivemos ou por que passam os nossos familiares.

Este não é um apelo político, mas um dever de cidadania. Temos, nós cidadãos, de nos bater por uma saúde pública de qualidade, temos de travar essa batalha, porque a alternativa – o deixa andar – não é aceitável para Portugal.
A urgência de uma solução digna para profissionais, utentes e fornecedores (a regularização de dívidas comerciais) sobrepõe-se a qualquer disputa partidária. Mas não sejamos ingénuos ao ponto de achar que a política pode ser colocada à margem desta urgente solução. Na verdade, impressiona ver os diferentes intervenientes da saúde pública ultrapassarem a tutela da pasta e dirigirem-se diretamente às mais elevadas instâncias – como se de um último recurso se tratasse.
Portugal não merece estar no limite, à beira do precipício, seja ele qual for.