Margarida Montenegro. “Temos duas coleções importantes em qualquer parte do Mundo”

Para o ano, a  SCML terá  outro enorme desafio: a  abertura de um novo museu de arte oriental. Parte da coleção foi doada pelo colecionador Francisco Capelo, a outra parte foi adquirida pela instituição.

Margarida Montenegro. “Temos duas coleções importantes em qualquer parte do Mundo”

Durante 17 anos, Margarida Montenegro dirigiu do Palácio Nacional de Mafra, cargo que trocou, em 2012, por um novo desafio: liderar a recém-criada Direção de Cultura da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). À luz dos mais de quinhentos anos de história da instituição, os 5 anos de vida de uma direção, cuja espinha dorsal é a cultura, podem parecer pouco. Mas também significaram uma tela em branco que a Direção da Cultura começou a pintar com dedicação e criatividade, visando proporcionar o acesso à Cultura a públicos economicamente desfavorecidos, abrindo as portas ao património histórico-artístico da Santa Casa. Uma conversa rodeada pelo Barroco de São Roque, em que o significado de “compromisso” marcou o compasso do início ao fim. 

É a primeira pessoa a ocupar este cargo, uma vez que foi criado pela atual Mesa e que depende diretamente do Provedor.

Atenção, já existia Cultura na Santa Casa antes de mim! Não de uma forma tão lata, isto é, não de uma forma que abrangesse todo o património histórico da Instituição. Por exemplo, no domínio das visitas guiadas, o que me diz a minha equipa, é que existiam fundamentalmente visitas ao Museu e à Igreja, mas hoje desenvolvemos actividades desde o Convento de São Pedro de Alcântara ao Hospital de Sant’Ana, na Parede, desde o Mosteiro de Santos-o-Novo à residência Faria Mantero. Hoje também temos um leque de atividades mais diversificado, desde visitas guiadas a teatro de marionetas, de ateliers para crianças e jovens a itinerários pedestres e de bicicleta. Anteriormente à criação da Direção da Cultura, em 2012, a Cultura da Misericórdia estava na Secretaria-Geral. Foi entendimento desta Administração que a Cultura, tinha peso suficiente para dar origem a uma área dentro da Misericórdia; não se esqueça que o Provedor foi Secretário de Estado da Cultura. Até porque, a Cultura está consignado nos próprios estatutos da Instituição, como uma forma de dignificar o Homem.

Nos primeiros estatutos, os tais que vêm de há séculos?

Sim. Os estatutos da SCML, antes designados por Compromisso da Confraria da Misericórdia, assentam fundamentalmente nas 14 obras da Misericórdia, que são princípios muito simples mas que continuam atuais nos dias de hoje. Por exemplo “Dar bom conselho”, uma das 14 Obras de Misericórdia, pode ser entendido hoje através das atividades que apresentamos ao público. Por outro lado, não serão os refugiados de hoje os peregrinos de ontem que temos de apoiar (“dar pousada ao peregrino”)?

Ou seja, são os estatutos iniciais lidos à luz das necessidades modernas.

Exatamente, interpretados à luz do século XXI. Aliás, fizemos agora uma exposição que terminou no dia 10 de setembro, que decorreu no âmbito da celebração dos 500 anos da primeira edição impressa do Compromisso da Confraria da Misericórdia, ou seja, o documento fundacional da Instituição. Quando a Confraria da Misericórdia se formou tinha um programa, a que hoje chamaríamos estatutos. A primeira edição impressa é de 1516, mas a Santa Casa foi fundada em 1498. Foi engraçado porque o título da exposição “Um Compromisso para o Futuro”, tinha duas intenções, referir-se ao Compromisso (documento de 1516) e o compromisso da SCML para o futuro, ou seja um comprometimento com os mais desfavorecidos, expresso na leitura actual das Obras de Misericórdia, que foi apresentada num dos núcleos que mostrava exemplos das obras de Misericórdia vistas pelo olhar de fotojornalistas contemporâneos. 

Foram portanto ler o código básico que vos foi deixado…

Mas com o olhar do século XXI. 

E a própria direção da Cultura insere-se, portanto, nessa senda.

Exatamente. Colocar em prática o nosso Compromisso fundacional. Esta Direção é composta por cinco serviços: o Museu e a Igreja [de S. Roque], o Arquivo Histórico, a Biblioteca, o Centro Editorial – a SCML também faz as suas edições – e um Serviço de Públicos que, no fundo, é o que chamaríamos um serviço educativo, que desenvolve a programação cultural que é transversal a três destes serviços – à Biblioteca, ao Arquivo e ao Museu e até ao restante património da SCML. Aliás, a qualidade da nossa programação e dos Técnicos que a executam tem sido reconhecida com a atribuição de vários prémios da Associação Portuguesa de Museologia (APOM). Também outras áreas da Cultura da Santa Casa têm merecido um reconhecimento da sua qualidade e rigor científico por parte desta Associação Museológica, nomeadamente, no caso das edições de catálogos de exposições. Também o site do Trip Advisor, que reflete as opiniões dos visitantes, nos atribuiu o certificado de excelência para a Igreja.

Quais foram os grandes desafios que encontrou quando aqui chegou? 

Acho que essencialmente foram dois grandes desafios. Por um lado, desenvolver um plano de atividades que fosse mais transversal a todo o património cultural da SCML, não só a estas áreas que acabei de referir – a Biblioteca, o Arquivo e o Museu e Igreja – mas também divulgar o património mais desconhecido da Misericórdia de Lisboa. A maior parte das pessoas só conhece a Igreja e o Museu de São Roque. Ora nós hoje desenvolvemos um programa de atividades com visitas, itinerários pedestres e de bicicleta [no verão] a vários pontos do património da Santa Casa: ao Hospital de Sant’Anna, na Parede, onde fazemos visitas temáticas; ao Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, que exemplifica uma arquitetura do séc.XX; à residência Faria Mantero, que foi doada por um benemérito, que hoje é “Casa” para pessoas de idade ligadas à cultura (artistas, intelectuais, etc). Disponibilizamos ainda um itinerário pedestre pelas sedes da Misericórdia, desde a Capela da Terra Solta, que foi a primeira sede, na Sé de Lisboa, passando pela Igreja da Conceição Velha (segunda sede) e terminando em S. Roque. Por outro lado, a divulgação desse património e de toda a actividade que lhe está associada, é um desafio permanente.

São Roque que é a joia da coroa?

Exatamente, mas há que relembrar que a Misericórdia só ocupou S. Roque a partir do reinado de D. José. Depois fazemos outro [percurso] também muito interessante pelas casas dos Jesuítas em Lisboa, porque viemos ocupar a Casa Professa da Companhia de Jesus, aqui em São Roque. Esta era a principal casa dos Jesuítas em Portugal. Esse percurso começa logo na primeira casa, que é o Coleginho ali na Mouraria, ao pé da Igreja do Socorro. Depois vamos ao colégio de Santo Antão-o-Novo, hoje Hospital de São José, seguimos para a Cotovia, o noviciado, onde era a antiga Faculdade de Ciências, hoje Museu de História Natural e, finalmente, acabamos aqui em São Roque. Portanto um dos grandes desafios foi alargar a programação e dar a conhecer às pessoas este vasto património cultural da Instituição. Mas desenvolvemos mais actividades até em parceria com outras entidades, por exemplo, “Os Itinerários da Fé” visitas nas igrejas da Baixa-Chiado. Eu diria que era pouco conhecida a acção da Misericórdia nesta área da cultura.

Está a falar até que ano?

Pelo menos culturalmente não se ouvia falar muito da Misericórdia. Talvez o projeto mais divulgado tenha sido o grande trabalho de conservação restauro e estudo da Capela de São João Baptista da Igreja de São Roque, que ocorreu, em 2010, antes de ser criada esta Direcção e que constituiu um marco muito importante no património da Misericórdia de Lisboa. Portanto, este foi um grande desafio, dar a conhecer e, por outro lado, desenvolver um leque de atividades para os vários públicos.

O Museu de São Roque já está adaptado a pessoas com necessidades especiais?

Sim, tanto o Museu como a Igreja estão adaptados a pessoas com necessidades especiais em termos motores. Neste momento estamos a preparar o nosso site para pessoas com necessidades especiais ao nível visual e auditivo. No que diz respeito às edições estamos a converter para áudio artigos da revista “Cidade Solidária”, que é uma edição semestral da SCML que nos remete para as várias áreas de atuação da Misericórdia. Temos visitas orientadas para públicos com necessidades especiais e temos também, por exemplo, o projecto de Voluntariado da leitura organizado pela Biblioteca que se destina às pessoas de idade dos equipamentos da instituição.

Além do auditório que está a ser construído [ver páginas anteriores], há a ideia de continuar a alargar o leque de equipamentos culturais da SCML?

Há um enorme desafio já para o ano. A Misericórdia tem sido uma instituição que ao longo dos seus 519 anos de vida tem continuado a reunir a confiança da população. Nesse âmbito, a SCML é herdeira dessa confiança que se traduz em legados, doações, etc. A SCML recebeu agora uma coleção de arte asiática de um colecionador particular, Francisco Capelo. Uma vez concluído o enquadramento jurídico dessa coleção, estamos agora a trabalhar na criação de um novo museu que irá albergar este importante acervo. Este novo museu, “Casa-Ásia – Coleção Francisco Capelo”, ficará instalado no Largo Trindade Coelho, num dos dois edifícios, propriedade da Misericórdia, que estão em reabilitação.  

O acervo dessa coleção é composto apenas de arte asiática?

Sim, proveniente de variadíssimos países da Ásia, desde China, Japão, Birmânia, Tailândia, Índia, entre outros. E é bastante curioso porque se pode criar aqui um diálogo interessante entre o museu já existente, o de São Roque, e este novo museu. O museu de S. Roque é um museu de arte sacra, mas que possui um núcleo de arte oriental, mais ligado à presença dos portugueses no oriente. As peças que lá temos são fruto dessa interculturalidade entre Ocidente e Oriente. Por outro lado, não nos podemos esquecer de que o Museu está ligado à igreja de S. Roque, uma igreja jesuíta. Ora os jesuítas estão intimamente ligados à missionação, nomeadamente no Oriente.

Foi pena não terem conseguido a abertura a par do filme do Scorsese sobre a presença dos Jesuítas, nomeadamente portugueses, no Japão.

Ainda não possuíamos a coleção, mas a propósito disso tivemos aqui uma série de atividades de que vou só destacar uma. Tivemos em exposição, uma carta de despedida à família de um dos mártires do Japão, o Beato Miguel de Carvalho. A carta esteve aqui em S. Roque fruto dessas ligações de que lhe estive a falar. E na sacristia de S. Roque, que vale a pena visitar, temos um ciclo pictórico inteiramente dedicado à vida de S. Francisco Xavier, o Apóstolo das Índias. É praticamente uma banda desenhada, feita pelo pintor português André Reinoso. Em resumo, cá estão os ingredientes que nos vão permitir estabelecer pontes e outros diálogos com o novo museu que vai surgir. O novo Museu que não está tão ligado a essa interculturalidade Ocidente /Oriente, mas que retrata essencialmente as civilizações milenares da Ásia. O acervo começa no século IV antes de Cristo e vai até ao século XIX. Podem portanto criar-se aqui pontes de diálogo muito interessantes entre estes dois museus da Misericórdia de Lisboa.

Para quando está prevista a abertura?

Para o ano.

A par da divulgação do património que passa pela programação, tinha começado por falar noutro grande desafio. Qual era?

Não é só divulgar a Cultura da SCML internamente, é também promover a internacionalização desse património. Nesse sentido, estabelecemos uma parceria com a Google Art Project, onde estão os principais museus do mundo, e passámos a ter aí uma galeria com o acervo mais importante do Museu e da Igreja de S. Roque, acessível a qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Para além dessa galeria, são apresentadas também três exposições virtuais e já está concretizada a visita virtual ao museu e à igreja, aguardando apenas que a Google a disponibilize online. Por outro lado, lançámos agora uma edição inglesa, com os últimos estudos sobre o grande tesouro do património da Misericórdia: a Capela de S. João Batista  da Igreja de S. Roque. Durante o processo de recuperação, requalificação e restauro dessa capela, foram chamados vários especialistas nacionais e internacionais, principalmente italianos, porque esta capela foi toda feita em Itália. Decorrente desse trabalho, foram publicados os últimos estudos sobre este tesouro nacional. Para além da edição em língua inglesa, foi também realizada outra em italiano, já que a capela, juntamente com o seu tesouro, para além de ter sido toda construída em Itália, é considerada a melhor coleção de ourivesaria romana fora de Itália. Estas edições foram realizadas com a Scala, editora inglesa que trabalha para muitos, eu diria até, os melhores museus internacionais. Será portanto esta editora que irá fazer a sua distribuição e por conseguinte divulgar a capela no mundo.

Encontraram algum aspeto anteriormente desconhecido no processo de requalificação?

É evidente que há sempre situações novas que se descobrem, até pela proximidade dos restauradores à obra de arte. Por exemplo, identificações de autores que trabalharam na metalística da Capela ou elementos que documentam intervenções anteriores. Outra situação interessante é que após a recuperação da capela fizemos duas exposições sobre esta obra-prima. A primeira, executada em parceria com o MNAA, chamou-se “A Encomenda Prodigiosa. A segunda exposição foi realizada tendo por base um documento que pertencia à coroa portuguesa e que, infelizmente, já não é propriedade nacional, está na biblioteca da École de Beaux-Arts de Paris: o “álbum Weale”. Esta segunda exposição recebeu o nome “De Roma para Lisboa – um álbum para o Rei Magnânimo”. Este álbum foi feito pelo embaixador Manuel Pereira de Sampaio, representante de D. João V em Roma, num período de grande intensidade das encomendas régias. Ora tendo chegado aos ouvidos deste embaixador que, na corte em Lisboa, corriam rumores de que ele não estava a ser rigoroso nos gastos, resolve, num tempo curtíssimo, reunir num só documento, o registo escrito e desenhado de todas as encomendas destinadas a Lisboa. Este documento Libro degli Abozzide Disegni delle Comissioni che si fanno in Roma per Ordine della Corte é conhecido hoje, por “álbum Weale”, uma vez que após uma série de peripécias, foi parar às mãos do editor inglês John Weale, no séc. XIX. A SCML patrocinou o restauro integral desse documento para o poder apresentar pela primeira vez aos portugueses e ao mundo. Com esta exposição foi realizada uma edição, uma espécie de fac-símile, com a reprodução completa de todo o álbum e que constitui um instrumento de trabalho para todos os investigadores. Agora qualquer investigador não precisa de ir a Paris, basta comprar o libro, para poder estudar este importante documento relativo à História de Portugal. É um documento importantíssimo, pois através deste álbum podemos conhecer algumas peças que não chegaram até nós, mas que ali se encontram registadas. 

A capela tem atraído estudantes de outras nacionalidades?

Tem, mas não só a capela. Por exemplo, no passado mês de Agosto, decorreu aqui em Lisboa, a 15ª Conferência Internacional da European Association for Japanese Studies, promovida pela Universidade Nova, e cá estiveram uma série de especialistas nessa área de estudos que vieram visitar S. Roque, nomeadamente o ciclo pictórico da vida de São Francisco Xavier, apóstolo das Índias. Mas como dizia, não é só a capela que concita esse interesse. Há outras áreas das artes decorativas da Igreja de S. Roque que suscitam o interesse de especialistas internacionais. Só para dar um exemplo, em abril saiu na Art History, uma revista da associação de historiadores de arte da Grã-Bretanha, um artigo sobre uma outra grande coleção do Museu de São Roque, a dos relicários. Eu diria que este é um museu pequeno com duas coleções muito importantes em qualquer parte do Mundo, duas coleções de nível internacional: a relacionada com a Capela de São João Baptista (tesouro) e a dos relicários. Prova disso são os inúmeros pedidos de empréstimo de grandes museus mundiais. 

Por exemplo?

Neste momento vamos emprestar várias obras para a primeira grande exposição sobre Portugal, que decorrerá em Moscovo. Já emprestámos também peças à National Gallery em Washington, ao Museus de Singapura, do Prado, da Smithsonian Institute, do Boston College, mas há muitos mais. Por exemplo, a grande exposição que o Victoria and Albert Museum fez sobre o barroco, em que nós fomos um dos parceiros, da qual resultou um filme sobre a arquitetura barroca em Portugal. 

Falávamos das duas grandes coleções do museu.

Sim. A primeira, como já referi, é o tesouro da Capela de S. João Batista. Resumindo, D. João V encomenda em Roma, a capela com as suas alfaias litúrgicas (cálices, píxides, lavabo e gomil, naveta para o incenso, etc). A segunda grande coleção é a de relicários. E é essa coleção que eu diria que, em termos europeus, é a segunda melhor da Europa. A primeira é a do Escorial. Ora, requalificada e estudada a capela de São João Baptista, estamos agora a iniciar um projeto de estudo e conservação dos relicários. Os relicários podem ser vistos tanto na igreja de S. Roque como no Museu. Quando este projecto estiver terminado, queremos assinalar esse momento com uma exposição que possa ser realizada em parceria com o Escorial. Curiosamente, a coleção do Escorial, é do tempo de Filipe II, assim como a nossa, já que é em grande parte formada por um enorme conjunto de relíquias, provenientes das igrejas antigas da Boémia, Hungria, Colónia e Roma entre outras, reunida por D. João de Borja, embaixador do mesmo monarca, na corte da Saxónia. Este precioso acervo foi levado, por este diplomata para o Escorial, local onde lavrou uma escritura de doação à Igreja de São Roque, em 1587.

Temos então muitas peças da Europa central.

Muitas. Os relicários estão expostos no Museu, mas no arquivo guardamos as autênticas das relíquias, documentos em pergaminho e papel com a chancela da autoridade eclesiástica. Cada relíquia tem a sua autêntica, que, certifica que aquela é a relíquia daquele santo. Este aspecto é muito relevante, porque há museus que têm coleções de relíquias mas não têm as respectivas autênticas. Esta situação confere ainda maior importância a este precioso conjunto.  

Pensam expor as autênticas ao lado de cada um dos relicários?

Claro que sim. Será uma apresentação muito mais completa desta colecção, depois de mais bem estudada e de ser objecto de uma intervenção de conservação e restauro. Gostava de salientar este aspecto, do especial cuidado que a Santa Casa coloca na salvaguarda do seu património na senda do que é o compromisso desta Instituição com os seus beneméritos. A Misericórdia tem concitado, ontem como hoje, a confiança das pessoas, porque cumpre sempre com as suas obrigações, daí a doacção de bens pelos beneméritos. Ora estas doações implicam, entre outros deveres, conservar os bens e aplicar rendimentos em boas causas.

Por isso continuam a receber doações.

Sim. Se hoje for ao Museu, nesse núcleo de arte oriental de que já falámos, vê lá um cofre lavrado em prata indiana que contém uma relíquia de S. Francisco Xavier e que foi doado pela Sr.ª D. Teresa Mendia de Castro, da família Nova Goa, que como o nome indica, esteve ligada à Índia. E isso só é possível graças a quê? Voltamos ao Compromisso. Esta é uma casa de compromisso, não só com o passado, mas também com o futuro. Em todos os níveis. E as pessoas sentem que a casa cumpre.

Como fiéis depositários?

Exato.

Além desses eventos passados, quais são os planos para os próximos anos?

A abertura do novo museu “Casa Ásia – Coleção Francisco Capelo” e estamos também a preparar uma candidatura ao Registo de Memória do Mundo para a série documental dos “Sinais dos Expostos”. Temos um conjunto documental que será talvez o maior do mundo e estamos a preparar esta candidatura em rede com o Ospelade Degli Innocenti, em Florença, o Arquivo Distrital do Porto e com algumas Misericórdias do Brasil.