Uma paixão louca por porcelana antiga

O que tem de especial esta pequena taça para atingir perto de 30 milhões de euros? Os colecionadores asiáticos adoram porcelana antiga e, quando surge a peça certa, estão dispostos a quase tudo

O objeto em si nada parecia ter de muito especial. Aos olhos de um leigo, tratava-se apenas de uma tacinha verde-água, do tamanho de um pires, e sem qualquer decoração além do vidrado. De excecional, só mesmo a antiguidade (data do século XI), a raridade e o preço-base: 80 milhões de dólares de Hong Kong, o equivalente a 8,75 milhões de euros.

Mas nem a aparente banalidade nem a elevada estimativa estabelecida pela Sotheby’s dissuadiram dois colecionadores asiáticos de disputarem a pequena taça “Ru” com 900 anos, outrora usada para lavar pincéis – e uma das únicas quatro do seu género ainda em mãos privadas. Ao fim de 30 licitações, o objeto foi arrematado por telefone pelo valor recorde de 260 milhões de dólares locais (perto de 30 milhões de euros).

O nome do comprador não foi divulgado mas o chinês Liu Yiqian perfila-se como o principal suspeito. Há três anos este magnata de Xangai (dono de uma fortuna estimada em mil milhões de dólares) e colecionador de antiguidades adquiriu por um valor idêntico a ainda mais pequena ‘Taça de Frango’ Meiyintang. A façanha ficou célebre não apenas pela soma envolvida, mas também por Yiqian ter usado o seu cartão de crédito American Express preto para pagar a transação, o que lhe permitiu ganhar milhas aéreas suficientes para viajar de avião em classe executiva durante um ano inteiro. Dias depois do leilão, o milionário voltava a causar sensação nas redes sociais com uma pequena provocação, ao publicar no instagram uma foto sua a beber pela dita taça, o que suscitou comentários indignados.

Bagatela de cinco milhões

A porcelana antiga está a tornar-se um forte alvo de cobiça por parte dos milionários asiáticos. Há dez dias, um vaso com 60 centímetros de altura foi vendido em Genebra, Suíça, por um valor dez mil vezes superior às estimativas.

Segundo a nota de catálogo da leiloeira Genève-Enchères, tratava-se de uma peça do século XX com uma marca da era Qianlong (século XVIII) que carecia de verificação. Mas os colecionadores acreditaram na sua autenticidade e rapidamente a licitação evoluiu para uma luta acesa entre dois compradores. O valor subiu dos iniciais 500 francos suíços (ou seja, 430 euros, uma verdadeira bagatela) para uns impressionantes cinco milhões. Em alguns minutos, o vaso valorizou 4.999.500 francos suíços: a diferença entre o original e uma cópia.