Las Vegas. Do mistério, as teorias

As autoridades pensam num cúmplice e num plano de fuga. Paddock arrendou um quarto perto de outro festival de música no fim de semana anterior. 

A investigação ao tiroteio mais sangrento da História recente americana joga com várias teorias sobre Stephen Paddock, os dez anos que levou a amealhar armas de alto calibre, os derradeiros momentos no 32.º andar do Mandalay e até sobre se pretendeu sobreviver ao ataque de domingo. “Acham que isto foi tudo realizado a sós?”, questionou o xerife Joseph Lombardo, numa conferência realizada na quarta-feira à noite.

O xerife do condado a que pertence Las Vegas levantou mais questões do que respondeu a perguntas e sugeriu a dado momento que, para além de um cúmplice, Paddock pode ter também pensado em sobreviver ao ataque. Lombardo não explicou em detalhe as teorias, mas mostrou-se cético quanto às chances de o atirador ser “um super fulano” capaz de se preparar a sós, e mencionou uma nota escrita por Paddock na suite onde acabou por se matar.

“Não era uma carta de suicídio”, lançou aos jornalistas. “Sinto-me confortável em afirmá-lo.”

As teorias de Lombardo não são consensuais na investigação, que apurou também que o atirador arrendara um quarto via Airbnb no fim de semana anterior ao ataque e com vista para um outro festival de música em Las Vegas. O responsável do FBI que falou em seguida aos jornalistas pareceu até censurar a candura do xerife.

“As teorias são ótimas e toda a gente pode tê-las”, atirou Aar Rouse, o diretor do departamento do FBI em Las Vegas, voltando a sugerir que as autoridades continuam sem ter grande ideia sobre o que pode ter provocado Paddock.

Tanto o xerife Lombardo como o agente Rouse falavam horas depois de se saber que a namorada de longa data do atirador pouco disse às autoridades para além de que não tinha ideia do que planeava o seu companheiro.

“Preciso de lidar com factos; o xerife precisa de lidar com factos”, afirmou Rouse, numa crítica pouco disfarçada ao companheiro. “Ele não vai presumir nada. Eu não vou presumir nada”, prosseguiu. “Ainda não o compreendemos. Têm de ter paciência connosco.”

Trump e armas

A namorada, Marilou Danley, não parece ter levado a grandes avanços na investigação. Aterrou nos Estados Unidos na terça-feira, vinda das Filipinas, o seu país de origem e onde se encontrava no momento do ataque. Danley recebeu 100 mil dólares de Paddock poucos dias antes do tiroteio, mas, segundo disse à polícia e ao público num comunicado, o dinheiro preocupou-a por pensar que Stephen estaria a terminar a relação.

“Nunca me ocorreu em qualquer aspeto que ele estaria a preparar um ato violento contra quem quer que fosse”, fez saber a australiana, de 62 anos, através dos advogados. “Nunca me disse nada ou teve algum comportamento que me fizesse ver um aviso de que uma coisa horrível como esta fosse acontecer.”

Na última avaliação, as autoridades reduziram o número de mortos de 59 para 58. Mas 50 pessoas estão ainda em estado crítico em dois hospitais de Las Vegas e os congressistas Republicanos davam ontem os primeiros sinais de que podiam vir a legislar pelo menos contra as ferramentas que Paddock usou para converter as suas espingardas semi-automáticas em armas quase automáticas.

Os Democratas exigem mais, mas podem vir a ter de se contentar.

Donald Trump, que esteve quarta-feira em Las Vegas para falar com as vítimas e a polícia, recusa para já discutir leis para restringir a venda de armas. ´”É um dia muito, muito triste para mim, pessoalmente”, disse, ao encontrar-se com feridos e agentes.. “É uma coisa muito triste”, prosseguiu, à chegada. “Viemos recordar as vítimas e ver os polícias que fez realmente um trabalho fantástico em pouquíssimo tempo.”