Santana soma apoios e Rio tenta descolar do Norte

O último congresso com um cavaquista (e o primeiro sem barões) será disputado entre dois sexagenários. Rui Rio quer ser poder. Santana já está a virar distritais. Mas quanto vale uma?

O menino guerreiro está a ir buscar os meninos passistas. Em menos de um mês, Pedro Santana Lopes, que ainda nem teve apresentação de candidatura (só anúncio) vai somando apoios. O facto de o Conselho Nacional do PSD ter preferido escolher o próximo líder em janeiro do que marcar as diretas já para dezembro, como favoreceria Rui Rio, deu espaço a Santana Lopes. E o provedor, que está então de saída da Santa Casa da Misericórdia, vai aproveitar esse espaço.

Santana já tem a recolha de assinaturas em marcha pelo país, já almoçou com deputados do grupo parlamentar do PSD e já lançou convites. João Montenegro, que foi assessor de Pedro Passos Coelho durante o Governo 2011/15, saiu esta semana de secretário-geral adjunto do partido para ir dirigir a campanha de Santana à liderança. João Montenegro, que correu o país com Passos e conhece de perto a ‘máquina’ do aparelho, é assim um sinal de proximidade: à estrutura, ao ‘passismo’ e a uma geração mais jovem.

Mas este não foi o único recrutamento geracional feito nos últimos dias. Outro, aliás, é um caso evidente de ‘bom filho’ que ‘à casa torna’. Diogo Agostingo, economista e colunista no semanário Expresso, que já fora chefe-de-gabinete de Santana Lopes na Santa Casa, também integrará a equipa. Agostinho, que trabalha hoje com Miguel Pinto Luz na Câmara de Cascais, é outra ponte com uma juventude com que Santana já assegurou contar para futuro.

Aos apoios – ou palavras de incentivo – que o SOL já noticiara na semana passada, como Rui Moreira, Carlos Moedas e Miguel Relvas, somou-se, naturalmente, António Mexia, seu ex-ministro, e a aproximação inesperada de Nuno Morais Sarmento, que se presume estar com Rio. Esta semana, Sarmento disse à RR, comparativamente a Rui Rio: «Eu sempre tive um posicionamento muito mais à direita, como Santana Lopes ou como Marcelo».

O facto de alguns apoios de Pedro Santana Lopes derivarem da necessidade de o ‘aparelho’ contrariar a candidatura de Rio é desvalorizado pelo seu círculo. «Ainda falta muito tempo, as coisas ganham balanço», tranquilizou um deles, ao SOL. O almoço com Marcelo Rebelo de Sousa, independentemente do que foi (ou não) discutido à porta fechada em Belém, teve valor marcadamente simbólico. O favoritismo profetizado por Marques Mendes na SIC também.

Luta pelas distritais? 

Num congresso que conta com Marco António Costa assumidamente mais recatado (não quer assumir cargos executivos no partido nos próximos anos) e com Miguel Relvas já fora da vida política, as distritais apresentarão valor mais relativo do que o costume.

«Não é prudente dividir o país em distritais que apoiam um (Rio) ou outro (Santana) porque os líderes distritais já não federam como antes – representam menos –, o que faz com que vá ser uma eleição mais voto-a-voto. Quem tem mais líderes distritais já não tem, obrigatoriamente, mais votos dos militantes», antevê um ‘senador’ do norte. 

Nesse campeonato, Santana já conta com Lisboa (do ‘companheiro’ Pedro Pinto), apesar de estar dividida, sendo que Setúbal, Santarém, Castelo Branco e Faro também estão mais inclinadas a apoiar o social-democrata. 

Rio tem Leiria e Aveiro asseguradas, apesar de também aí se verificarem algumas divisões. Em abril, o SOL já noticiara a intenção de Portalagre apoiá-lo, sendo que Évora está agora intermitente entre os dois ‘senadores’. O Porto está dividido e a concelhia da Invicta, sabe o SOL, vai a eleições no final do próximo mês. 

Sobra Braga, que tem peso enorme em delegados ao congresso e em militantes para as diretas,  e o telefone do eurodeputado José Manuel Fernandes, que lidera a distrital, não tem parado de tocar. A decisão está por tomar. 
A Madeira, por sua vez, viu Alberto João Jardim apoiar Rio e uma das suas deputadas (Rubina Berardo) marcar presença na apresentação do antigo presidente da Câmara do Porto. Cerca de uma dúzia de membros do grupo parlamentar do PSD também estiveram presentes. 

Foi em Aveiro

E não foi por acaso. Salvador Malheiro, líder dessa distrital, está com Rui Rio desde que o nortenho começou a sua corrida pelo país, há mais de um ano. A apresentação de Rio, esta semana, não falou nem para a esquerda, nem para a direita, nem só para jovens nem apenas para os antigos. Rio saudou «os mais velhos» e «os mais novos». Houve espaço para um elogio a Pedro Passos Coelho («o PSD não esquecerá o dr. Pedro Passos Coelho») e para uma avaliação crítica do estado em que este deixa o partido: «O PSD está hoje numa situação particularmente difícil».

O nortenho reclama que «novas normas de funcionamento» e um «um banho de ética» é a reforma interna de que o PSD precisa. Para o país, o projeto é de valores (igualdade de oportunidades, solidariedade social e liberdade) como direitos que «todos temos».

Os aplausos mais intensos foram para um realinhamento ideológico: «Somos sociais-democratas. Um partido do centro, que vai do centro-direita ao centro-esquerda», defendeu. E «não um partido de direita, como alguns o têm tentado caracterizar». 
Mas se consigo a presidente do PSD o partido não estaria à direita, tal também não significa que queira conversar com a esquerda. O objetivo, garantiu, é «um partido de poder», não um partido que seja «muleta do poder».

A denúncia das «contradições da coligação parlamentar» de esquerda – PS, BE e PCP – foi algo que manteve do discurso de Passos Coelho como líder da Oposição.