‘A Maria Adelaide rapinou tudo’

Tânia Gouveia diz que Maria Adelaide levou o dinheiro todo do filho após a sua morte e não deixou nada à neta Constança.

Tânia Gouveia, ex-companheira de António Pinto de Sousa, irmão de José Sócrates, disse ao Ministério Público que tudo o que rodeava a família Pinto de Sousa era «promíscuo» e que Maria Adelaide, mãe de António (e de Sócrates), «rapinou» tudo de casa do filho depois da sua morte, não deixando nada a Constança, a sua neta.

«Eu não falo com esta gente… O António morreu e até hoje não houve uma única chamada para saber como é que está a Constança, a única sobrinha, quer dizer, uma das sobrinhas! Uma única chamada! Portanto eu não falo com esta gente há que anos», disse Tânia aos investigadores do Ministério Público e da Inspeção Tributária.

A mulher de António Pinto de Sousa, que morreu em 2011, afirmou que um dia chegou a casa e todos os documentos do antigo companheiro tinham sido levados. Tânia acredita que Maria Adelaide foi a responsável por este ato.

«Tânia Gouveia (TG) – Dois dias depois da morte do António, tive que mudar as chaves de casa porque a Maria Adelaide entrou lá dentro e rapinou tudo o que era documentos, eu não encontrei um extrato bancário em minha casa!

Inspetor Tributário (IT) – Mas ela tinha chave, foi?

TG – Ela tinha uma chave. Depois tive que mudar a fechadura!»

Durante o interrogatório, Tânia revelou também que tem um processo contra Maria Adelaide por a filha não ter sido contemplada nas heranças após a morte do pai. Além disso, a ex-companheira de António afirma que não viu um tostão do dinheiro que o irmão de Sócrates tinha nas contas antes de morrer.

«IT – Na venda [dos imóveis do Cacém], foi-lhe comunicada alguma situação dessa venda, por causa da Constança?

TG – Zero.

IT – Zero?

TG – Zero.

IT – Não tiveram o beneficio dessa venda?

TG – Zero, zero.

IT – Por isso, da venda desses imóveis, a sua ideia é que nada tocou à sua filha?

TG – A minha filha?! Zero!»

A ex-cunhada de Sócrates afirma que António lhe disse antes de morrer que tinha dinheiro nas contas por si tituladas e num cofre, mas que Maria Adelaide conseguiu autorização para esvaziá-los: «Quando o António morreu, havia umas contas em nome dele com pouco dinheiro, uns vinte e tal mil euros, ou trinta e tal mil euros e que ela rapinou tudo! O Armando Vara deu-lhe autorização e ela chegou lá e rapinou tudo!».

Férias de luxo e tratamentos pagos pelo cunhado

Tânia foi também confrontada com os tratamentos a que António Pinto de Sousa foi submetido nos últimos meses de vida – tratamentos esses que implicaram deslocações de avião a Espanha. A ex-cunhada de Sócrates afirma que nunca pagou as contas de saúde do antigo companheiro. O mesmo acontecia com os tempos de lazer: durante as férias que fez no Algarve, no Brasil e na Áustria, todas as contas eram pagas pelo então primeiro-ministro.

«MP – Quanto ao falecimento do António, houve um período em que foi deslocado de avião para o norte de Espanha.

TG – Nós estávamos lá em baixo, no Algarve, ele já veio na ambulância lá de baixo para o Santa Maria.

IT – E como foi para a Corunha?

TG – Foi de avião.

MP – Quem é que suportou esses custos da deslocação dele para a Corunha?

TG – Era tudo o irmão. O irmão é que suportava os custos todos, as nossas férias, era tudo o irmão.

MP – José Sócrates.

TG – Suportava tudo, sim.

MP – Ele nunca falou consigo no sentido de haver alguma repartição, haver alguns encargos, designadamente, essas despesas de avião?

TG – O Sócrates? Nunca!

MP – Ele assumiu diretamente essas coisas, ou seja, sem nunca ter falado consigo?

TG – Nunca falou comigo. Eu lembro-me de às vezes achar estranho como é que nós íamos passar aquelas férias e quem é que as pagava, era tudo a assinar e era tudo hotéis de cinco estrelas».