Combate ao phubbing. Amigos amigos, telemóveis à parte

O vício dos telemóveis é, acima de tudo, um problema das gerações mais jovens. E, por isso, são os próprios a encontrar soluções para combater o fenómeno.

Não são raras as vezes que estamos num restaurante e, ao deitar um olhar para a mesa do lado, nos apercebemos que não há qualquer tipo de comunicação entre o casal, o grupo de amigos ou a família que ali está. A razão para isso acontecer é normalmente uma: os gadgets. Seja telemóveis, a maioria deles smartphones, iPad, ou simplesmente qualquer outro dispositivo eletrónico portátil, a tecnologia está, claramente, cada vez mais presente na nossa rotina, muito além daquilo que achamos que precisamos. Longe vão os tempos em que os telefones móveis eram usados apenas para as chamadas essenciais, de emergência, ou o meio que passou a permitir contactar uma pessoa que não está perto de nós. Mas também é indiscutível que os jovens são os principais utilizadores dos telemóveis, um acessório indispensável que até os leva a criar formas de combater o phubbing, um termo criado para descrever o ato de ignorar alguém através do uso desse aparelho.

Toca, paga! “A verdade é que muitas vezes pego no telemóvel sem razão nenhuma. Já é um tique”, diz Maria, que aos 20 anos estuda Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras. “É um mal geral. Afinal, se olharmos à volta, todos nós temos sempre o telemóvel na mão”, acrescenta. O seu colega David dá palmadinhas no bolso como que a tentar a sua defesa, mas aproveita o balanço para ver “as últimas” do grupo de amigos no WhatsApp. Apesar disso, Maria explica que não há nada que a “irrite mais” do que estar num jantar e estar constantemente “a falar com pessoas que cortam a conversa para mostrar o que o João acabou de partilhar ou que a Joaquina deixou de seguir o não sei quantos” – uma situação que se agrava quando “conseguem perder mais de dez minutos a tirar uma fotografia ao bitoque”. “Isso acho ridículo”, diz, convicta. Foi a partir desse aborrecimento nos jantares de grupo em que participava que Maria passou a apresentar uma proposta para lutar contra o phubbing. “Quando chegamos ao restaurante colocamos os telemóveis no centro da mesa, em cima uns dos outros. O primeiro a pegar… paga”, explica, enquanto se vai rindo porque sabe “que nunca há de ser a primeira”. Aqui, a regra é simples e a única exceção são os telefonemas dos pais. 

“Podes ficar à rasca!” Do outro lado do jardim, um pouco abaixo, encontramos a Faculdade de Psicologia de Lisboa. Não era difícil de apanhar e, assim, vamos diretos ao primeiro grupo de jovens de caderno na mão e… telemóvel, claro está. Não hesitámos em perguntar, logo de início, o que faziam. “Estamos no intervalo. ‘Tou no Facebook. Só a fazer scroll [mostra o polegar a percorrer o feed da rede social].” Enquanto António queima os 15 minutos de pausa a ver as novidades do dia, André escreve uma mensagem. “É para a minha namorada, que estuda aqui ao lado”, atira, num momento em que, tendo em conta o contexto da conversa, se regozija. “Não tenho redes sociais. Facebook, Twitter, Instagram, nada, nada.” António não perde tempo a justificar a ausência do amigo nas redes: “A namorada é muito controladora.” Riem-se os dois. Chega mais um colega que se junta e acende um cigarro. Passam a palavra ao “Lino, o rei dos jogos”. “Este é aquele tipo que te pode deixar à rasca.” Depois de estar a par do tema, Lino fala como se dividíssemos carteira nas aulas. “Ah, o jogo é muito simples, e é sobretudo muito divertido. Imagina, estamos seis pessoas numa mesa, todas passam o seu telefone à pessoa que está à direita [exemplifica passando o telefone ao colega António] e, basicamente, se receberes uma mensagem ou uma chamada tem de ser essa pessoa a ler ou atender.” A gargalhada é inevitável quando atira: “Já vi muitos viciados a esquecerem-se do telemóvel por horas…” Os três amigos trocam olhares e falam em código, como que a lembrar uma situação recente em que a pessoa visada “ainda está chateada”. Vão para dentro do edifício como os encontrámos: olhos postos no telemóvel.

Quando a solução está no telemóvel Teresa tem 21 anos e admite que gasta demasiado tempo no telemóvel. “Serve para todas as pausas”, “companhia em algumas refeições”, “antes de deitar” ou “quando acorda”. Entre redes sociais e vídeos e música no YouTube, “a bateria vai-se”. Sem terapias de grupo para combater o fenómeno, a jovem fala de uma aplicação que “sacou” para os momentos em “que precisa mesmo de estar concentrada”. A app chama-se “Forest: Stay Focused” e a utilização não podia ser mais simples, dado que o objetivo é mesmo deixar o aparelho de lado pelo tempo que o próprio utilizador assim desejar. “Quando tenho trabalhos ou exames, vou à aplicação, que consiste em plantar árvores. Cada árvore tem um tempo de crescimento: tu escolhes a que queres. Meia hora, uma hora… És tu que escolhes. Depois não podes mesmo mexer no telemóvel antes de terminar esse tempo, senão a árvore morre. Por outro lado, se cumprires com sucesso, ganhas moedas para novas plantações”, esclarece, e mostra com orgulho o seu jardim. E as notas? “A minha mãe não me tem dado nas orelhas, o meu pai é mais tranquilo.” 
Às vezes, a solução pode mesmo ser encontrada no problema. Teresa, pelo menos, está satisfeita.