Campeonato. A longa viagem da águia triste…

Vai o Benfica a Guimarães com um peso terrível sobre as costas: digerir a sua quinta derrota consecutiva na Europa. Algo de inédito!

Campeonato. A longa viagem da águia triste…

Vai, no domingo, o Benfica a Guimarães carregando nas costas, tristemente, a sua mais negra fase de uma história europeia cheia de momentos extraordinários. Mas os factos não se desmentem: por isso são factos, realidades indiscutíveis e irretocáveis. Nunca, até agora, as águias tinham sofrido cinco derrotas consecutivas nas provas internacionais – quatro esta época seguem-se à goleada de Dortmund, na época passada. Algo que nenhum treinador gostaria de ver sublinhado a vermelho no seu currículo, mas que Rui Vitória se vê obrigado a engolir, custosamente, a seco. Para um clube que conta no currículo duas Taças dos Campeões Europeus e mais cinco finais perdidas da mesma prova, estes números são duros. Pior: são duríssimos. A precisar de profunda reflexão.

Dir-me-ão que isso não se pode reflectir em campo a partir do momento em que o campeão nacional entrar no relvado do Afonso Henriques. Terão muito provavelmente razão, os meus leitores. Provas diferentes, perspectivas diferentes, motivações diferentes. Mas, por outro lado, o mesmo Benfica, com as suas poucas virtudes deste início terrível de época e com os muitos defeitos que tem deixado ver à transparência.

Defendem alguns que o Benfica de Manchester esteve bem mais arrumadinho do que se tem apresentado no campeonato nacional. Não discordo. Mas também não deixou de enfermar de uma série de deficiências que já lhe custaram, ao fim de dez jornadas, sete pontos desperdiçados, o que é muito, convenhamos. Sobretudo quando, por seu lado, o FC Porto parece exibir uma saúde física e mental mais do que suficiente para se manter firme na liderança da classificação.

Diferenças Diferentes estados de espírito e diferentes graus de dificuldade para os três primeiro classificados do campeonato este fim de semana – e até se pode falar nos quatro primeiros já que o Braga tem marcada deslocação a Alvalade.

Entra em liça o FC Porto, primeiro do que os rivais, cabendo-lhe ser anfitrião do Belenenses. Seria preciso uma surpresa de estalo para que os dragões não permanecessem nessa sucessão de sucessos, com perdão da cacofonia, pondo em risco a liderança que têm sabido conservar sem rebuço. Aquilo que fizeram perante um muito sólido Red Bull de Leipzig, na quarta-feira, só pode manter o seu treinador satisfeito e os seus adeptos confiantes como há muito não se via.
Ao Sporting, que recebe o Braga, reticências… 

A equipa de Jorge Jesus tanto assina momentos de rara qualidade como se deixa cair um fases de inequívoca mediocridade. E, assim sendo, tudo se pode esperar. Mesmo com a consciência de que os bracarenses terão menos 48 horas de descanso e uma digressão à Bulgária para digerir no interim.

Voltamos, portanto, ao caso bicudo deste nacional: o Benfica e as suas tremedeiras. Quem diria que, após anos de solidez considerável, de momentos indiscutíveis de capacidade competitiva, Rui Vitória ser veria a contas com tantos problemas e com claras dificuldades em resolvê-los. Também há 48 horas de vantagem a beneficiarem os encarnados na sua deslocação ao Minho. O pior é que muitos jogadores fundamentais na estrutura do campeão parecem presos por arames ou, pior ainda, entregues a uma depressão que entra pelos olhos dentro com a claridade de um domingo solarento pela manhã. Nunca se pode apostar ao certo naquilo que este Benfica pode, ou não fazer. A incógnita envolve as exibições benfiquistas e não deixa descansados os seus apoiantes que não lhe negam apoios, tal como se viu em Old Trafford. 

Mas há, igualmente, uma justificada desconfiança. Porque o conjunto dos campeões portugueses passa demasiado tempo sujeito aos caprichos dos opositores para se afirmar como favorito, seja em que jogo for, e a recepção ao Feirense, ainda há bem pouco, está fresca na memória colectiva. 

E assim, antes de mais uma interrupção nos jogos da Liga, para que a selecção nacional faça mais dois amigáveis pouco interessantes, dir-se-ia que a grande dúvida da ronda, o ponto de interrogação mais gordo, se ergue sobre o Estádio D. Afonso Henriques, pelas 18 horas de depois de amanhã. Ficaremos atentos e venerandos… O futebol, como sempre, iluminará o seu próprio caminho.

O fim de semana está aí: venham as habituais tranquibérnias lusitanas. Inevitáveis