Agressões e castigos. O pontapé de Evra e mais (maus) exemplos – também em Portugal

O francês foi suspenso pela UEFA (sete meses) e despedido do Marselha após a infame agressão a um adepto em Guimarães. É o último caso do género, numa lista que tem Cantona e Barton, mas também Sá e João Pinto, Hulk e o rei dos vilões: Ricardo Ferreira, suspenso por 50 anos na Suíça!

Guimarães, o berço da nação portuguesa, foi também palco da última aparição de Patrice Evra nos grandes palcos. Pelo menos nos próximos sete meses. O pontapé que aplicou num adepto da sua própria equipa, ainda antes do apito inicial do jogo entre o Vitória e o Marselha para a Liga Europa, no passado dia 2, valeu- -lhe a pesada suspensão da UEFA e o despedimento por parte do clube francês. Aos 36 anos, não é crível que Evra consiga voltar a um patamar semelhante após a conclusão do castigo, a 30 de junho do próximo ano – e o antigo lateral esquerdo do Manchester United não parece muito preocupado, pelo menos a julgar pela atividade nas redes sociais: há poucos dias publicou um vídeo no Instagram onde aparece a puxar… um jipe. E com várias mensagens de positivismo na legenda.

O pontapé “kung fu style” de Evra de imediato trouxe à memória dos adeptos de futebol um incidente muito semelhante – e, curiosamente, também protagonizado por um francês: Cantona, pois claro. A 25 de janeiro de 1995, aquele que é reconhecido pelos adeptos do United como um dos melhores jogadores da sua história, não se conteve e pontapeou um adepto do Crystal Palace que o insultava nas bancadas após ver vermelho direto. Foi suspenso por oito meses pelo próprio clube e por nove pela Federação inglesa, sendo ainda acusado criminalmente – a sentença de duas semanas de prisão acabaria por ser reduzida para 120 horas de trabalho comunitário. Nunca se arrependeu. “Foi um dos melhores momentos da minha carreira”, diz ainda hoje “Le Roi”.

Esta era, até há pouco tempo, a maior pena de suspensão aplicada pela Federação inglesa – aparte o caso de Enoch West, também um antigo atleta do Manchester United, que em 1915 foi banido do futebol por 30 anos sob acusações de manipulação de resultados, juntamente com outros sete jogadores. Foi-lhes oferecida a possibilidade de retirar o castigo se se alistassem na i Guerra Mundial – os outros sete aceitaram; West não. A suspensão acabou em 1945, tinha ele 59 anos.

Mais recente foi o castigo aplicado a Joey Barton. Dono de um considerável registo de ações menos dignas dentro e fora dos relvados – chegou a cumprir uma pena de prisão de 77 dias em 2008, após agredir dois indivíduos no centro de Liverpool –, já havia cumprido suspensões de seis e 12 jogos por agressões a adversários e até a colegas de equipa quando, em abril deste ano, foi banido pela federação por um período de 18 meses por apostar em jogos de futebol (muitos dos quais com ele em campo) entre 2006 e 2016.

Maradona e um vilão luso na Suíça Um dos grandes nomes – se não o maior – da história do futebol também sempre esteve intimamente ligado a polémicas. Em 1991, Diego Maradona – que nunca escondeu ser consumidor de cocaína – foi suspenso por 15 meses após acusar positivo num controlo antidoping. Três anos depois seria afastado da seleção argentina em pleno Mundial pela mesma razão.

Em fevereiro deste ano, dois jogadores de futebol vietnamitas foram suspensos por dois anos, depois de terem protestado contra a marcação de uma grande penalidade no campeonato local. O guarda-redes Nguyen Minh Nhut virou as costas ao jogo aquando da marcação da grande penalidade e o resto da equipa do Long An ficou parada no relvado até ao final do encontro, o que permitiu ao Ho Chi Minh City chegar ao 5-2 final. Nhut e o capitão Huynh Quang Thanh acabaram por ser os únicos castigados – além do treinador, suspenso por três anos.

Mas a maior suspensão de sempre aconteceu na Suíça… e fala português. Em 2014, Ricardo Ferreira, jogador do Portugal Futebol Clube – uma equipa das divisões regionais fortemente ligada à comunidade portuguesa naquele país –, foi castigado por… 50 anos! E tudo devido a um acesso de fúria, após ser expulso, que o levou a chutar uma bola contra a cara do árbitro, despejando-lhe ainda uma garrafa de água por cima quando se encaminhava para o balneário. Isto, já depois de ter cumprido um ano de castigo por ter tirado o apito da boca de um árbitro em 2009, além de ter ainda cumprido outra suspensão de 45 jogos por agressões a adversários e insultos a árbitros. Um verdadeiro especialista que só está autorizado a voltar ao futebol a 5 de junho de… 2064, quando tiver 78 anos.

Parecido, talvez só Gerardo Bedoya, o recordista de expulsões na história do futebol: 46, motivadas por tudo e mais alguma coisa – desde insultos aos árbitros a cotoveladas, cabeçadas e entradas a pés juntos sobre adversários. Em 2007 cumpriu uma suspensão de nove jogos por ter apertado o pescoço de um árbitro; em 2012, depois de pontapear a cabeça de um adversário que estava deitado no relvado, foi suspenso por mais 11 partidas e obrigado a cumprir trabalho cívico, dando palestras em escolas e orfanatos contra a violência no desporto.

Os Pintos, Paulinho e Hulk Mas Portugal também tem a sua quota-parte de casos infames. Como o de Ricardo Sá Pinto em março de 1997, quando foi ao Estádio Nacional agredir o selecionador Artur Jorge. O conselho de disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) aplicou-lhe um ano de suspensão de todas as competições, pena ratificada depois pela FIFA.

Há ainda os nove meses aplicados a Abel Xavier, oito a Nuno Gomes e seis a Paulo Bento pelos incidentes no fim do jogo das meias-finais do Euro 2000, contra a França. Ou os quatro de João Vieira Pinto, após o famoso murro no estômago do árbitro Ángel Sánchez na partida frente à Coreia do Sul, no Mundial 2002. João Pinto, de resto, foi protagonista de um dos mais surreais imbróglios do futebol português: em 1997/98, na fase em que era ainda o nome maior do Benfica, a enésima altercação com o portista Paulinho Santos acabou com ambos os jogadores expulsos após agressões mútuas. Uma cotovelada do médio do FC Porto resulta em fratura do maxilar do atacante benfiquista. Inicialmente, o conselho de justiça da FPF aplica um castigo de dois jogos a cada um, mas acaba depois por tomar uma decisão nunca antes vista – nem depois: Paulinho ficou impedido de jogar enquanto João Pinto não voltasse. Foram três meses.

Exatamente o mesmo tempo que Fernando Mendes cumpriu em 1998, depois de agredir um bombeiro no Estádio José Gomes, durante um Estrela da Amadora-FC Porto. Mais recentemente, em 2010, os também portistas Sapunaru e Hulk foram castigados com seis e quatro meses de suspensão, respetivamente, acusados de agredir um assistente de recinto desportivo. E há ainda o caso de Dyego Sousa, castigado por nove meses por uma agressão a um árbitro assistente num jogo particular com o Tondela, em julho de 2016, quando o atual avançado do Braga ainda representava o Marítimo. Mais tarde, a suspensão foi reduzida para seis meses.