A formiga e a cigarra em Lisboa

No dia mais difícil para o PSD em Lisboa, Teresa Leal Coelho não apareceu

Rui Rio disse a semana passada em Oeiras que os resultados do PSD nas legislativas crescem ou descem abruptamente, e que é necessária a implantação do partido nas autarquias. Defendeu um «trabalho de formiga», concelho a concelho, e referiu-se aos maus resultados nas autárquicas. Eu não podia estar mais de acordo com estas afirmações.

As vitórias autárquicas são o ‘pão com manteiga’ do PSD e do PS, são a base, são o sustento dos grandes partidos.

É aquilo que assegura a ligação emocional, física, capilar entre os cidadãos, as empresas, as instituições, a igreja, as agremiações, a cultura, as instituições de solidariedade social, os clubes.

É a presença diária e constante de rostos familiares que assegura que, no dia das eleições, as pessoas vão votar em determinado partido. Chama-se a isso uma relação de confiança. Não brota das pedras, precisa de tempo, tempo para as pessoas conhecerem e acreditarem.

Esta semana aconteceu em Lisboa o impensável.

Como se sabe, o executivo da Câmara tem 17 vereadores. E Fernando Medina (PS) – já de si coligado com os movimentos de Roseta, Sá Fernandes e partido Livre – só conseguiu eleger 8 vereadores e perdeu a maioria, sendo obrigado a coligar-se com o Bloco de Esquerda.

Esta coligação das esquerdas, que conta agora com 9 vereadores, vai ter brutais implicações na vida da cidade. Nos transportes públicos (o BE quer muito mais investimento), na hotelaria (o BE é contra a atribuição de mais licenças), no alojamento local (o BE quer limitá-lo fortemente), no aumento de taxas (o BE quer duplicar a Taxa de Proteção Civil).

Na Oposição vão estar 8 vereadores: 4 do CDS, 2 do PSD e 2 do PCP. O CDS vai liderar a oposição, tendo a vantagem adicional de Assunção Cristas ser a líder do partido. Os jornais, sempre presentes nas reuniões públicas da CML e nas sessões da Assembleia Municipal, darão maior eco às posições da presidente do CDS.

O PSD parte, por isso, numa posição de fragilidade e desvantagem, ditada pelos resultados eleitorais, estando obrigado a trabalhar o dobro.

Ora, esta semana, na primeira sessão da Assembleia Municipal, sem surpresa, Assunção Cristas apresentou-se triunfante com mais três vereadores. O PSD apresentou apenas um vereador. No primeiro dia de oposição, no primeiro de um longo mandato de quatro anos, nesse dia duro e difícil para os deputados municipais e para o PSD de Lisboa, Teresa Leal Coelho resolveu não aparecer nem fazer-se substituir, deixando a cadeira vazia.

A candidata, que depois do resultado historicamente mau nunca deveria ter assumido sequer o mandato, acabou de demonstrar que não o tenciona exercer.

Não sei se Rui Rio acha que o trabalho das formigas em Lisboa só deve começar em fevereiro, caso ele seja eleito líder do partido. O meu entendimento é muito simples: a primeira tarefa das formigas é subirem e sentarem-se nas cadeiras.

Tem de haver um fim imediato para as cadeiras vazias.

sofiarocha@sol.pt