Um Governo provinciano e precipitado

Rui Moreira está a adorer o ressabiamento de alguns com a mudança do Infarmed para o Porto. Mas está a adorar o quê?

Portugal está na moda, mas não é por isso que perde os tiques de provinciano. Esta semana, o Governo deu mais uma prova de como lhe falta mundo e inteligência. Ao tomar conhecimento de que o Porto tinha sido afastado do concurso para receber a sede da Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês), logo o Executivo se agitou para ‘calar’ o presidente da Câmara da Invicta anunciando, de uma forma atabalhoada e precipitada, a transferência da sede do Infarmed para a cidade. Nem se dando ao trabalho de saber se essa mudança se enquadrava na lei, como o jornal i demonstrou que não se enquadra, o ministro da Saúde ficou tão emocionado que deu o facto como consumado, um dia depois do chumbo de Bruxelas à sede da EMA. Diga-se em abono da verdade que já a troca de Lisboa pelo Porto, no que diz respeito a essa candidatura, foi um momento cómico. Mal Rui Moreira se queixou do centralismo logo apareceram os apaniguados de Costa a confortar o autarca nortenho. Era óbvio que nenhuma cidade podia apresentar uma candidatura decente em tão pouco tempo, sendo Portugal afastado logo na primeira ronda.

Voltando ao Infarmed, mesmo que o Governo tivesse essa intenção há mais tempo, não seria de esperar uns meses até anunciar a decisão? É que cheira por todos os lados a prémio de consolação e mesmo as peixeiras do Bolhão, por quem tenho toda a consideração, se devem ter rido desta decisão. Ninguém duvida que é preciso descentralizar e deixar de se olhar para Lisboa como sendo o coração do mundo português. Levar alguns organismos para outras cidades faz todo o sentido, e não apenas para o Porto. O país tem de se desenvolver e precisa de tirar serviços e pessoas da capital. Só dessa forma se pode combater a desertificação, mas não se pode fazê-lo de uma forma provinciana e ao sabor das reivindicações do imperador do Norte. Rui Moreira, reavivando a sua faceta de comentador desportivo, escreveu no seu Facebook: «A ADORAR O RESSABIAMENTO DE ALGUNS. ASSIM VALE A PENA», afirmou em caixas altas. Diria depois uma coisa espantosa: «Ainda não tive tempo de avaliar as externalidades da vinda do Infarmed para a cidade, mas o Porto provou com a candidatura à EMA que tem todas as condições para acolher investimentos desta natureza». É para rir ou chorar? Provou com a candidatura à EMA? O quê? Um valente chumbo dá para provar alguma coisa? Sim, incompetência. Repito, com o tempo seria difícil fazer melhor, mas cantar vitória numa derrota é caricato.

Mas esta semana um facto verdadeiramente relevante aconteceu na Assembleia da República. Por iniciativa do PCP, e com os votos do PS, BE e CDS, foi aprovada a proposta de acabar com o pagamento dos subsídios de férias e de Natal em duodécimos. Os partidos até podem ter a melhor das intenções, mas não se lembraram de perguntar aos patrões e aos empregados se estão de acordo? Isto é: por que razão não deram a possibilidade de os trabalhadores decidirem se querem ou não receber em duodécimos? E as empresas? Já estão todas preparadas para cumprir com o fim dos duodécimos? Há muita precipitação no reino dos lusitanos, umas vezes ao sabor das redes sociais outras da ‘geringonça’…

vitor.rainho@sol.pt