A Ordem dos Médicos deverá pronunciar-se sobre o uso terapêutico de canábis até ao final do ano. A perspetiva foi dada ao i pelo bastonário Miguel Guimarães, que há vários meses solicitou ao Conselho Nacional da Política do Medicamento da Ordem dos Médicos que avaliasse fundamentação científica para o uso de canábis em contexto clínico bem como as experiências internacionais. Esse parecer já foi entregue ao bastonário mas terá de ser apreciado pelo conselho nacional da Ordem, a quem cabe este tipo de deliberações, o que deverá acontecer na próxima reunião.
Sem antecipar o teor do parecer entregue pelo Conselho Nacional da Política do Medicamento da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães sublinha que a Ordem irá apenas pronunciar-se sobre o uso da canábis para fins terapêuticos e o contexto em que isso pode acontecer.
Embora o Bloco de Esquerda tenha relançado esta semana o debate com uma audição pública no parlamento e não pretenda ir de imediato tão longe como iniciativas anteriores, que previam a despenalização do consumo desta droga, Miguel Guimarães sublinha que a Ordem quis preparar-se para esta discussão por antecipação. “Até ao momento não nos foi solicitado formalmente qualquer parecer”, diz o bastonário, admitindo que tal possa vir a acontecer no âmbito até dos trabalhos na comissão parlamentar de saúde quando houver projetos de lei em apreciação.
A intervirem, será apenas na questão terapêutica, garante o médico. “Sobre a questão da despenalização do consumo, não digo que seja má ou boa, mas é uma questão política”.
O Bloco de Esquerda propõe a venda de canábis para fins terapêuticos em farmácias, com a implementação de um regime jurídico que permita prescrever canábis em planta, noticiou o “Público”. De acordo com o diário, o BE pretende também consagrar a hipótese de os doentes poderem vir a cultivar para consumo próprio.
Atualmente a canábis para fins terapêuticos já é legal em 29 estados norte-americanos mas também no Canadá ou Israel, países onde estão localizadas algumas das maiores produtoras mundiais da planta.
A vinda da canadiana Tilray para Portugal este ano, depois de uma empresa israelita, colocou Portugal neste mapa.
De acordo com a última revisão feita a pedido da Organização Mundial de Saúde, em 2015, a utilização ainda requer alguma cautela.
A utilização por parte de doentes com esclerose múltipla, dor crónica, doentes de Alzheimer mas também na gestão de náuseas após quimioterapia e sintomas de sida são alguns dos campos em que têm vindo a ser recolhidos dados, exemplificou a OMS. O uso de canábis para alívio de sintomas é também reportado por doentes com Crohn, stress pós-traumático e glaucoma. Marta F. Reis