Intoxicações por monóxido de carbono. Um perigo invisível

Nos primeiros dias do ano, o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) do INEM recebeu dois pedidos de ajuda devido à exposição a monóxido de carbono e no ano passado houve 38 casos. Com a previsão de descida de temperaturas para o final desta semana, responsável alerta para os cuidados a ter em casa.

É uma ameaça invisível e os primeiros sintomas, como dor de cabeça ou náuseas, podem não ser de imediato atribuídos a estar há demasiado tempo junto à lareira, a uma braseira ou a qualquer aquecedor ou esquentador por combustão que possa ter alguma avaria ou estar num espaço sem arejamento. A morte de uma jovem surfista nos Açores chamou a atenção para o perigo da intoxicação por monóxido de carbono e, apesar de não serem casos muito frequentes, é no inverno que há mais pessoas a precisarem de socorro devido à intoxicação acidental com este gás, produzido na combustão com pouco oxigénio. 

Com previsão de descida das temperaturas para o final da semana, Fátima Rato, médica e coordenadora do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) do INEM, sublinha que nunca é demais sensibilizar a população, embora acredite que, nos últimos anos, alguns fatores têm contribuído para que haja menos situações de perigo. O facto de muitas lareiras, em particular nos centros urbanos, já terem recuperadores de calor ou de terem sido proibidos os esquentadores e caldeiras de queima nas casas de banho contribuíram para maior segurança, embora possa haver algumas casas onde ainda existam estes equipamentos, ciclicamente associados a acidentes. A lei mudou em 1975, quando o Regulamento Geral das Edificações Urbanas passou a referir que “em caso algum” deverá ser prevista a “utilização de aparelhos de combustão, designadamente esquentador a gás, nas instalações sanitárias”. Também nas cozinhas modernas são hoje mais utilizados exaustores, até com diferentes níveis de sucção de ar.

De acordo com a responsável, ainda assim, nos primeiros dias do ano, o CIAV recebeu dois pedidos de ajuda relacionados com exposição a monóxido de carbono. Já no ano passado verificaram-se 38 casos, uma subida face aos 29 registados pelo Centro de Informação Antivenenos em 2016, números que podem não refletir o total de ocorrências, já que nem todas as situações a nível nacional passam pelo CIAV. 

Das que avaliam, Fátima Rato sublinha que o mais importante a ter em atenção é a necessidade de manter sempre o espaço arejado, mesmo que seja uma janela ligeiramente aberta, seja numa sala aquecida por uma lareira, braseira ou qualquer outro sistema de queima ou mesmo quando se está a cozinhar, por exemplo, utilizando os vários bicos do fogão e durante um período prolongado. “Hoje em dias, as cozinhas são mais pequenas e, muitas vezes, as pessoas não têm isto em conta”, sublinha a médica. Outra ideia que importa contrariar é que qualquer corrente de ar é de evitar, já que é um mito que haja perigo para a saúde por se ter pelo menos uma nesga da janela aberta. Tomando todas as precauções, importa depois conhecer os sintomas. “São bastante inespecíficos, por isso, nem sempre as pessoas os associam a terem estado expostas ao monóxido de carbono e tomam medidas”, explica Fátima Rato. 

Um dos conselhos é abandonar o local e arejá-lo. Náuseas, dores de cabeça e tonturas são os sinais de alerta a ter em conta. 

Perante suspeita de intoxicação pode ligar para o CIAV (808 250 143, 24 horas por dia). Em casos graves, contacte o 112.