A natureza irá revoltar-se?

Está-se a ir depressa demais e longe demais nas mudanças ditas fraturantes.Os arautos do politicamente correto começaram a dar tiros nos pés.

A maior parte da população – não só da nossa mas da mundial – gosta de andar em manada. E com a globalização será cada vez mais assim. Os habitantes das grandes cidades e arredores, com acesso à informação, adoram andar atrás das ondas mediáticas, vibrar e indignar-se com esses fenómenos que de vez em quando irrompem como vulcões nas redes sociais. As pessoas simples, que vivem longe da civilização, são as que ainda escapam e se vão safando da tonteria geral.

Escrevi há muitos anos que a globalização tenderia a formar uma ‘opinião única’. Mas nunca esperei ter tanta razão tão cedo.

De facto, espanta a facilidade e a falta de sentido crítico com que as massas urbanas vão hoje atrás dos tsunamis mediáticos. 

E quem se atreva a enfrentar esses movimentos é brutalmente agredido. Eu que o diga. Já me chamaram todos os nomes, sem eu ter chamado o que quer que fosse a alguém. 

E quando a polémica envolve questões relacionadas com o feminismo, há um problema acrescido: se um homem abre a boca e fala contra a corrente é logo apelidado de machista, misógino, etc. Não tem direito a ter opinião.

Vem este arrazoado a propósito, como o leitor já terá percebido, da recente vaga de denúncias públicas de assédio sexual, que originou uma verdadeira caça às bruxas em Hollywood e um pouco por todo o mundo. 
O assédio não existiu e existe? É óbvio que sim. E é deplorável. Mas também não é aceitável ver estrelinhas que andaram de braço dado com celebridades, sorridentes, em passerelles, virem dizer 20 anos depois que eles lhes fizeram propostas indecentes ou lhes puseram a mão no rabo. Não é sério. 
Há uma responsabilidade do assediador. Mas também há uma responsabilidade do assediado. É tão criminoso tentar corromper como deixar-se corromper. Cada pessoa tem a hipótese de dizer ‘não’, a menos que seja ameaçada com uma pistola. 
Compete, pois, perguntar frontalmente: as assediadas e os assediados o que fizeram nessas alturas? Cederam ou resistiram? E beneficiaram ou não dessas cedências? Se sim, tratou-se de uma certa forma de prostituição.

Quem escrevesse isto até há quinze dias seria arrasado. E agora continuará a ser. Mas há uma importante diferença: num artigo publicado no Le Monde, uma mulher culta, madura, experiente e prestigiada – Catherine Deneuve – criticou esta histeria coletiva e lamentou a caça às bruxas. E defendeu esta ideia: acabe-se com o assédio mas não se acabe com a sedução.

Claro que lhe caíram logo brutalmente em cima. A ela e a 90 mulheres que a acompanharam na subscrição do texto. Chegou-se a dizer, com todas as letras, que as mulheres que manifestavam aquelas opiniões é porque não conseguiam viver sem a atenção dos homens. Edificante!

É óbvio – insisto – que o assédio existe e ninguém honesto o nega. Como existe o oferecimento de favores sexuais de jovens que querem ser estrelas. Mas isso não pode chegar para estragar as relações entre homens e mulheres. Para acabar com a sedução. Para introduzir uma suspeita sempre que um homem olha para uma mulher. Para se ver em cada homem um monstro predador e em cada mulher uma vítima indefesa. Isso seria o princípio do fim da humanidade tal como a conhecemos. 

As mudanças impostas pelo politicamente correto têm sido tão profundas, e a sua propaganda tão violenta, tão agressiva, que pode virar-se contra si própria.

Está-se a ir depressa de mais e longe de mais. Nos últimos 50 anos tem sido uma loucura: destruição da família tradicional, legalização das drogas leves, salas de chuto, legalização do aborto, legalização do casamento gay, adoção por casais homossexuais, operações de mudança de sexo, ataques a pessoas com opiniões diferentes, etc. Chega-se ao ponto de querer omitir o ‘género’ no bilhete de identidade! E há um index de palavras e temas proibidos. 
Tudo o que é natureza se põe hoje em causa – e tudo passa a ser ‘opção’. Quer ser homem ou mulher? Quer ser heterossexual ou gay? E por aí fora.

Ora, pode chegar um momento em que a natureza se revolte e diga: ‘Basta’!