‘Os rankings têm de ser vistos no contexto’

A escola pública secundária com os melhores resultados nos exames nacionais pensa fora da caixa desde o primeiro dia.

A pala do edifício da biblioteca, projeto do arquiteto Ricardo Bak Gordon, costuma ser motivo de visita de muitos curiosos à Escola Secundária Garcia de Orta, no Porto – a nós não é isso que nos traz aqui. É que esta foi a escola pública com melhores resultados nos exames nacionais e o b,i. quis vir conhecê-la. E antes de entrarmos, a escola já nos espanta pela dimensão – como nos explica o diretor Rui Fonseca Silva, tem uma área total de 27 mil metros quadrados.

«Temos quatro pavilhões com salas de aula, um polivalente, um campo de jogos e um pavilhão desportivo», continua. Nos planos está também fazer mais um campo de jogos. «Já comprámos as balizas», diz ao b,i. o diretor. A escola surpreende também pelas condições: está toda renovada, quer a nível de infraestruturas, quer a nível de equipamentos. «Foi remodelada em 2010, ano em que construímos a biblioteca, o auditório e o bar», conta.

E o ranking, é importante? «Tem de ser visto no contexto. Agora, claro que nos deixa contentes, e para os pais, professores e alunos é um incentivo a continuarem o trabalho. A mais valia do ranking é reconhecer o trabalho que vai sendo desenvolvido e o sucesso que os alunos têm», acredita Rui Fonseca Silva, que dirige o agrupamento Garcia de Orta, com escolas desde o pré-escolar. Consequência dos rankings é o facto de a procura ter vindo a aumentar nos últimos anos, até porque estar entre os lugares cimeiros não é uma estreia para este estabelecimento de ensino. «A lista de espera é grande todos os anos. Se aceitássemos toda a gente, teríamos mais duas turmas em cada ano. O problema é que depois não temos condições…», lamenta o diretor. Os únicos critérios de aceitação de alunos são os que estão na lei: local de residência, ter irmãos na escola e idade.

 

A receita para o sucesso

Os bons resultados não se alcançam sem trabalho, mas também há outros fatores importantes. «O que nos distingue é o nosso projeto educativo assentar no rigor, com um clima de escola favorável à aprendizagem e com bom ambiente», explica o antigo professor de Inglês. O objetivo do agrupamento é «formar cidadãos dotados de competências que lhes vão permitir ser responsáveis e ativos na sociedade. Para nós, os exames acabam por ser uma consequência», admite Rui Fonseca Silva. A escola aposta também muito no desporto, tendo criado a academia Go Sport, que permite que os alunos fiquem na escola a praticar vários tipos de desportos que podem não ser os mais usuais, como é o caso do Krav Maga [um desporto de combate]. Procura, a par disso, envolver os alunos em vários projetos internacionais, como o BSMUN – Oporto British School Model United Nations, conferência realizada em novembro do ano passado que promoveu uma discussão sobre a atualidade mundial segundo o modelo das Nações Unidas.

Mas o sucesso deve-se também aos professores: na Garcia, como é conhecida, 85% dos professores são do quadro e o diretor não lhes poupa elogios. «São muito empenhados e disponíveis». Os alunos concordam. «É uma escola muito boa, tem ótimos professores. Temos imenso apoio», afirma Sofia Oliveira, 17 anos, aluna do agrupamento desde o infantário. «Há um ótimo apoio da parte dos professores, a relação que têm com os alunos é muito importante», diz Benedita Rosa, 17 anos, aluna desde o décimo ano. João Nugent, da mesma idade e a frequentar o agrupamento desde o infantário, também destaca a disponibilidade dos docentes. «Os professores estão sempre prontos para nos ajudar, sejam quais forem as circunstâncias».

Ana Luísa Santos, professora de Biologia, tem 57 anos e dá aulas na escola há 16. Também ela reconhece a boa relação típica aqui entre professores e alunos, mas não resume a isso a obtenção de bons resultados. «A escola distingue-se pelo trabalho que desenvolvemos, é um trabalho colaborativo», que passa pela estreita comunicação entre todos os professores. O lugar no ranking é sempre motivo de orgulho, mas para esta professora não é suficiente. «Queremos sempre mais e enquanto tivermos um aluno para recuperar, temos trabalho para fazer».

Inovar para formar

A escola já não é nova e por lá passaram vários rostos conhecidos: Henrique Cymerman, jornalista, a atriz Dalila Carmo ou Rui Moreira, atual autarca do Porto, são alguns dos exemplos. E se quando abriu, em 1969, optou pelo modelo misto – uma exceção nos tempos da ditadura –, hoje continuam a ser pensar para além da norma.

Isso passa pela relação com a tecnologia, uma aposta em que Rui Fonseca Silva não tem dúvidas. «Acho que temos de começar a pensar em formas de dar a volta a essa questão», defende. Nesta escola, por exemplo, alguns professores usam já os telemóveis nas aulas, para que os alunos façam, entre outras coisas, pesquisas.

Enquanto passeamos no enorme pátio, onde não faltam espaços verdes, o diretor revela-nos outra faceta da casa – a inclusão. «O jardim é arranjado por uma empresa que só emprega pessoas com deficiência. É uma forma de ambientarmos os alunos para essa diferença».