Félix Morgado sai do Montepio até ao carnaval

Atual presidente sai com vários processos de contraordenação do BdP. Um deles diz respeito à maquilhagem das contas do banco em 2016.

O atual presidente da Caixa Económica, Félix Morgado, tem ordens para sair da instituição financeira antes do Carnaval, ou seja, até ao próximo dia 13 de fevereiro, apesar do seu mandato só terminar no final deste ano, apurou o SOL. Até lá, a associação mutualista Montepio Geral – detentora de 100% do banco – terá de convocar uma assembleia-geral para nomear a nova administração. Mas o SOL sabe que essa convocação poderá ser feita em menos de 24 horas e a própria associação já confirmou em dezembro, o nome de Nuno Mota Pinto para suceder a Félix Morgado.

A saída do atual presidente da instituição financeira fica ainda marcada pelos processos de contraordenação avançados pelo Banco de Portugal. Ao que o SOL apurou, um deles diz respeito à operação financeira que a administração do Montepio tentou montar em 2016 para «maquilhar» as contas. O negócio, que envolvia uma participação na empresa de minas I’m Mining, foi feita na véspera da apresentação de contas do terceiro trimestre, mas acabou por ser travada pelo Conselho Geral e de Supervisão do banco, depois de questionada pelo auditor (KPMG). 

Com a venda dos 19% que o Montepio tinha na I’m Mining — controlada pelos irmãos Jorge e Carlos Martins, da Martifer — à Vogais Dinâmica (criada para o efeito), era esperada uma mais-valia de 24 milhões de euros através da valorização daquela empresa de 360 milhões para 492 milhões de euros. Este movimento permitiu aumentar o valor da participação do banco de 69 milhões para 93 milhões de euros, posição que seria comprada pela Vogais Dinâmica (de Jorge e Carlos Martins), a sua holding IM e o Montepio. 

O órgão regulador detetou ainda graves irregularidades do departamento de contabilidade no modelo de análise de risco de crédito, assim como conflito de interesses em determinadas funções desempenhadas por atuais administradores. Um desses casos é do administrador João Neves que acumula a direção do departamento financeiro com o da contabilidade. O outro caso diz respeito a João Lopes Raimundo que acumula o pelouro de direção de empresas e o da recuperação de crédito, apurou o SOL. 
Contactado, o Banco de Portugal não quis prestar qualquer tipo de esclarecimento.
 
Nova direção

A lista dos sete administradores executivos e dos oito não executivos já está nas mãos da entidade regulada por Carlos Costa para receber luz verde, sabe o SOL. Ao nome de Nuno Mota junta-se ainda Carlos Leiria Pinto, que vai ser o número dois da administração da instituição financeira que também ele vem do Banco Mundial. Juntam-se ainda Pedro Alves e José Carlos Mateus que saem da direção da Associação Mutualista para a  Caixa Económica. 

Já Francisco Fonseca da Silva transita do conselho geral de supervisão para chairman do banco. O mesmo acontece com Vítor Martins e Luís Guimarães, já que esta mudança de administração da instituição financeira implica a aprovação prévia dos novos estatutos, que irão trazer um novo modelo de governação no banco, deixando de existir o atual conselho geral de supervisão e o conselho fiscal. 

A nova lista de administradores apresentada ao Banco de Portugal reúne o consenso da estrutura acionista e «adequa-se ao perfil requerido para a execução da estratégia definida no sentido de dar cumprimento aos objetivos de transformação da CEMG na instituição financeira portuguesa de referência para a economia social».

Ainda assim, continuam a existir incertezas em relação à data da entrada da Santa Casa no capital do banco. O provedor Edmundo Martinho tinha garantido no Parlamento, em dezembro passado, que gostaria de tomar uma decisão até ao final do mês de janeiro, independentemente do seu desfecho. No entanto, esse prazo não foi cumprido, o que significa que esta nova administração poderá ser eleita antes de a Santa Casa ficar com os 10% da instituição financeira. No entanto, fonte ligada ao processo garantiu ao SOL que os nomes que têm sido escolhidos têm tido o aval das duas partes.
Aliás, tal como o SOL tem avançado, a definição da nova liderança faz parte do acordo parassocial, uma vez que é entendido que quem entra quer participar na gestão. 

Já na última AG, Tomás Correia revelou que se «pretende no futuro reforçar o aproveitamento do potencial existente, em conjugação com a perspetiva de continuação da melhoria das condições envolventes, tanto a nível de mercado como em termos da exploração da principal entidade do grupo», acrescentando ainda que a Caixa Económica Montepio Geral está estabilizada «através do robustecimento da sua base de capital, para níveis que a tornaram uma das mais sólidas instituições financeiras do nosso mercado».

Até setembro, a Caixa Económica Montepio Geral lucrou 20,4 milhões, depois de ter registado prejuízos no ano passado. Esta melhoria nas contas foi graças a cortes nos custos operacionais, aumento do produto bancário e aumento das comissões.