Fernando Negrão. Escolhido por Rio eleito sem apoio do grupo parlamentar

A votação confirmou algo já sabido: Negrão nunca foi unânime. Nem nos ‘passistas’ nem nos ‘rioístas’

Os apupos, desta vez, vieram em forma de voto.

Ontem, o deputado Fernando Negrão foi eleito presidente do grupo parlamentar do PSD sem conseguir uma maioria, apesar de não enfrentar qualquer lista opositora. 

Negrão, que teve o apoio de Rui Rio após a saída imposta a Hugo Soares, teve 35 votos a seu favor, 32 brancos e 22 nulos, num total de apenas 39,7% dos 88 deputados que votaram – Pedro Pinto, defensor da manutenção de Hugo Soares, não votou.  Tanto Passos Coelho como Luís Montenegro, que estão de saída do parlamento, votaram, sem se saber, claro, o seu voto. 

Em reações aos resultado, Negrão defendeu que a soma dos votos em branco com os votos a seu favor lhe davam uma maioria, interpretando como votos contra somente os votos nulos. 

A isto, o ex-vice-presidente do grupo parlamentar Sérgio Azevedo responde ao i: “Só há dois momentos na história de Portugal em que voto em branco contou como favorável: a Constituição de 1933 e esta eleição de bancada do PSD”. 

O deputado, que foi membro da direção de Montenegro e Hugo Soares, escreveu nas redes sociais: “Teremos que remontar ao plebiscito para a aprovação da Constituição de 1933, num Estado autoritário e fascizante, para se admitir o ‘voto branco’ como um voto favorável ou, se quisermos, de não rejeição”, ainda que não querendo pessoalizar, pois o assunto “é muito mais do que isso”. 

O i sabe que a maioria dos deputados do PSD tem por Negrão um respeito institucional – afinal, foi ministro de Passos, ainda que por 28 dias -, mas que isso não impediu os mais ortodoxalmente favoráveis à manutenção de Hugo Soares de assim permanecerem, nem os deputados que apoiaram Rui Rio de preferirem – e pedirem – outros nomes, como Luís Marques Guedes e Luís Álvaro Campos Ferreira. 

Negrão, em conferência de imprensa, considerou haver “um problema de ética”, na medida em que a lista que apresentou era constituída por 37 nomes (entre vices e coordenadores de comissões parlamentares), mas somente 35 deputados votaram em si. “Houve pessoas que aceitaram integrar a lista mas não votaram”, concluiu, condenando. 

Ora, tal provocou um enorme desconforto – com direito a discussões nos corredores – na medida em que o argumento de Negrão incorria em vários erros. Por um lado, presumia que toda a lista votara em si, e que só dois haviam preferido o voto em branco. Por outro lado, esse raciocínio induz que se todos os 35 votos de Negrão são de deputados membros da sua lista, então deputados que não estavam na lista – mas apoiaram Rio, como o novo secretário-geral do partido, Feliciano Barreiras Duarte – ou mesmo deputados cujo voto é incerto, como o próprio Passos Coelho, haviam votado em branco ou nulamente. 

O i sabe que houve bem mais do que duas traições entre os convidados por Negrão para a sua lista, visto que vários que não a integram assumiram a este jornal terem votado em Negrão. 

Ao acusar os não votantes de “falta de ética”, Negrão chocou os deputados apoiantes de Rio – entre os quais nunca foi unânime – e surpreendeu os que não votaram a seu favor, “pelo tom”. 

A bancada, que foi recentemente informada que decorrerão várias substituições nas comissões parlamentares por ordem de Rio, pretendeu enviar um sinal. A maioria negativa foi vistosa e as conclusões também o são. “O argumento da unidade caiu. E o argumento da sermos a maior bancada do parlamento também”, constata uma deputada, sob reserva de anonimato, ao i. 

Tudo e o seu contrário Negrão, que começou por confirmar ao “Observador”, em entrevista dada no congresso do fim-de passado, que o objetivo era a maioria de 50% “mais um”, corrigira na véspera da votação a existência de “qualquer fasquia”. Agora, quando nem os votos brancos conseguiu vencer, aceita liderar a bancada e diz ter o apoio do novo presidente do PSD – algo que o seu antecessor, Hugo Soares, nunca teve. 

Os deputados demonstraram, ontem não estar em sintonia com essa decisão.