Dívida africana aumenta este ano

A Standard & Poor’s (S&P) prevê que os países africanos se endividem em mais 57 mil milhões de dólares este ano. Angola será o segundo maior emissor de dívida da África subsariana e Moçambique, que tem a maior percentagem de dívida em moeda estrangeira, que não voltará aos mercados antes de um acordo com o…

Segundo a agência de notação financeira, o valor previsto para 2018 compara com os 53 mil milhões de dólares de dívida emitida no ano passado e comprova que a crise dos preços das matérias-primas, iniciada em 2014, continua a afetar fortemente estas economias dependentes dos recursos naturais para equilibrarem os orçamentos.

"Esta subida reflete o aumento das emissões planeadas pelos maiores emissores, do ponto de vista histórico, [que são] África do Sul e Angola", lê-se no relatório, citado pela agência Lusa. No caso angolano, o endividamento "deve-se parcialmente a grandes amortizações previstas para 2018", enquanto na África do Sul a subida explica-se pela "fraca trajetória orçamental".

Nos restantes países, as necessidades de financiamento vão manter-se relativamente estáveis, o que "reflete um equilíbrio entre o ambiente ligeiramente mais favorável no mercado das matérias-primas e o aperto nas condições de financiamento decorrente da normalização da política monetária norte-americana".

No total africano, a S&P espera que o 'stock' de total da dívida atinja os 514 mil milhões de dólares, este ano e o seu relatório está em linha com as preocupações da diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) que admitiu que 2018 pode ser o ano em que o problema da dívida vai explodir em África.

Em entrevista ao site “Quartz”, Christine Lagarde, aponta que "o que pode desencadear esses sérios desenvolvimentos é, na verdade, as melhorias nas economias avançadas, nomeadamente a valorização de algumas moedas e o aperto da política monetária norte-americana e talvez na zona euro, que tornam o fardo da dívida mais pesado nalguns países”.  

'Dívida rolante'  

Segundo a S&P, Angola vai emitir este ano 15,9 mil milhões, mais 26,5% face aos valores emitidos em 2017, e o valor mais alto desde 2014, ano em que Angola recorreu aos mercados para angariar 17,3 mil milhões de dólares.

A S&P argumenta que Angola tem o maior rácio de 'dívida rolante' face ao PIB (quase 36%) – é o país que tem mais dívida a atingir a maturidade -, o que por norma se resolve recorrendo a emissões de dívida de curto prazo para pagar dívida de longo prazo.

Os angolanos serão o segundo maior emissor de dívida, só atrás da África do Sul, que vai endividar-se em 18,7 mil milhões de dólares este ano, o que representa uma subida de 7,8% em relação a 2017.

No que diz respeito a Moçambique, a agência de notação financeira aponta este é o país da África subsariana com a maior percentagem de dívida em moeda estrangeira (84%) e que não voltará aos mercados antes de um acordo com o FMI.

"Moçambique tem a maior percentagem de dívida em moeda estrangeira face ao total de dívida, 84%, em parte devido à emissão do 'eurobond'", revela a S&P, afirmando que o país não deverá voltar aos mercados financeiros internacionais "em 2018, devido ao recente incumprimento financeiro" sobre o pagamento da emissão de dívida em moeda estrangeira ('eurobond') de 2016 e dos empréstimos das empresas públicas.

"Não antevemos que Moçambique vá emitir dívida nos mercados internacionais em 2018; acreditamos que o país vai primeiro tentar negociar um programa com o Fundo Monetário Internacional", acrescenta a S&P.