«Tu és a excepção»

Esta fotografia, tirada pela Margarida, no Passeio Marítimo de Algés, revela a seguinte inscrição: «Tu és a excepção». Esta afirmação aponta rememorativamente para um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, em que a autora declara: «Porque os outros se mascaram mas tu não / Porque os outros usam a virtude / Para comprar o…

Ora, ser uma exceção é, em princípio, algo positivo. Ser distinto dos demais, pelas suas qualidades, é algo merecedor de louvor. Ser capaz de afirmar a sua personalidade única, de forma a que esta se destaque das restantes pessoas é, por vezes, difícil. A vida acaba por nos ir formatando, levando-nos a acomodar-nos, e vai-nos talhando de forma a agirmos em conformidade com o que é social e moralmente aceite. No entanto, há pessoas que conseguem manter a essência, fiéis a si próprias, daí que sejam exceções.

Como afirma José Luís Peixoto: «Há quem julgamos que somos, quem nos permitimos ser e quem somos realmente. (…) Quem somos depende de quem nos permitimos ser, que depende de quem julgamos que somos. Quem somos fica lá no fundo, por baixo de outras camadas, protegido e / ou escondido por elas». Ora, efetivamente, muitas vezes não nos permitimos ser quem realmente somos, não deixamos que a nossa essência transpareça, por estarmos sujeitos ao crivo da avaliação dos outros e, assim, procuramos corresponder àquilo que imaginamos serem as expetativas alheias. Adaptamos o que queremos parecer em função dos outros, daqueles que nos rodeiam, para que nos aceitem, para que gostem de nós, para que não pensem que somos estranhos ou diferentes. Este medo da diferença é, muitas vezes, aquilo que nos leva a retrairmo-nos e a querermos parecer outros.

Como diz ainda José Luís Peixoto: «No fundo, o que importa é sermos, sermos sempre, tudo o resto é uma perda de tempo». Assim, pois, só quem tem a coragem de ser quem julga que é, só alguém assim coerente, consegue ser a tal exceção, consegue marcar a diferença. Precisamos muito de pessoas assim, capazes de nos chamar a atenção para a necessidade de usufruir da vida, de viver aproveitando tudo aquilo que de bom nos acontece, de tomarmos nas mãos as rédeas do nosso destino, de sermos quem realmente queremos ser, sem olhar para o lado, comparando-nos com os demais.

Afirma Ana Bacalhau, em crónica na Notícias Magazine: «somos cativos da "normalidade". Vamo-nos limando, até cabermos no molde apertado do "socialmente aceitável".» E, na linha do que foi afirmado, felizes as exceções, «Preciosos aqueles que enfrentam os holofotes sem se encadearem, porque irradiam uma luz própria, forte, incandescente, singular. Uma luz que todos nós temos, mas que só alguns se permitem acender».

Procuremos, pois, manter acesa esta luz, como obrigação de nos permitirmos ser a exceção que realmente somos. Porque se assim não for, só nos resta dizer «adeus» a nós próprios. E depois do adeus, adeus.

Maria Eugénia Leitão
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services