BCE prevê mais crescimento mas receia guerra comercial

Mario Draghi manteve as taxas de referência em mínimos históricos mas deixou cair a opção de aumentar o ritmo das compras de ativos

O Banco Central Europeu (BCE) deixou as taxas de juro inalteradas em 0% (mínimos históricos) e garantiu que continuarão nesses níveis “durante um período alargado”, mantendo o seu programa de compra de ativos  ao ritmo atual até finais de setembro. Ainda assim, o Conselho de Governadores presidido por Mario Draghi, tal como tem acontecido após cada reunião desde dezembro de 2016, voltou a afirmar que o volume de aquisições do programa, lançado em março de 2015, pode aumentar se for necessário.

“No que respeita às medidas de política monetária não convencionais, o Conselho do BCE confirma que se pretende que as compras líquidas de ativos, ao atual ritmo mensal de 30 mil milhões de euros, prossigam até ao final de setembro de 2018, ou até mais tarde, se necessário, e, em qualquer caso, até que o Conselho do BCE considere que se verifica um ajustamento sustentado da trajetória de inflação, compatível com o seu objetivo para a inflação”, refere o comunicado.

O que é certo é que esta decisão  já era esperada pelos analistas. A maior dúvida era se o BCE iria alterar as indicações sobre o programa alargado de compra de ativos. E a instituição liderada por Mario Draghi fez um ajustamento, deixando cair a possibilidade de o aumentar caso as perspetivas para a economia do euro fossem menos favoráveis.

Crescimento 

O BCE anunciou ainda a revisão em baixa a previsão de inflação na zona euro para 2019, mas mostrou-se mais otimista em relação ao crescimento em 2018.

A instituição liderada por Mario Draghi previu uma inflação de 1,4% em 2019 (1,5% na anterior previsão divulgada em dezembro), mas apontou para um crescimento da economia de 2,4% em 2018 (2,3% em dezembro).

As outras previsões até 2020 ficam inalteradas. O Banco Central Europeu continua a apontar para uma inflação de 1,4% em 2018 e de 1,7% em 2020, o que significa uma lenta aproximação em relação ao objetivo de uma inflação ligeiramente abaixo de 2%.

O crescimento da economia deve abrandar para 1,9% em 2019 e 1,7% em 2020, como já tinha sido indicado em dezembro.

Riscos

Mario Draghi chamou ainda a atenção para os riscos de crescimento que estão “essencialmente ligados a fatores globais, incluindo o protecionismo crescente e os desenvolvimentos no mercado de divisas e nos mercados financeiros”, num cenário de inquietação quanto a uma eventual guerra comercial entre os Estados Unidos e os seus parceiros.

“Estamos convencidos que as disputas devem ser discutidas e resolvidas dentro de um enquadramento multilateral e que decisões unilaterais são perigosas“, declarou Draghi.

Esta é a reação do BCE aos planos de Donald Trump de criar taxas nas importações de aço e alumínio e o impacto que pode ter na economia, sobretudo no caso de esta decisão americana desencadear uma guerra comercial.

“Também há o receio em torno do estado das relações internacionais, porque se se impõem taxas alfandegárias contra aqueles que são aliados, quem serão então os inimigos?“, questionou Draghi. “O efeito na confiança é muito difícil de avaliar. Mas existindo um efeito negativo na confiança, isso será negativo tanto para a inflação como para as perspetivas de crescimento”, salientou.