Sabe quem foi a última mulher a ser condenada à morte em Portugal?

Tudo começava na chamada ‘roda dos enjeitados’. Sabe o que é?

A pena de morte foi abolida em 1867 e foi readmitida em 1916, pelos crimes de traição em tempos de guerra – “quanto à pena de morte, somente o caso de guerra com país estrangeiro, em tanto quanto a aplicação dessa pena seja indispensável, e apenas no teatro da guerra”, lia-se na lei promulgada na altura. Só foi totalmente abolida da Constituição em 1976. Portugal foi o primeiro estado moderno da Europa a abolir a pena capital, mas até ser dado esse passo muitas pessoas receberam esta condenação. Luísa de Jesus foi a última mulher a quem isso aconteceu.

Esta história fez correr muita tinta na altura. Não só pela idade da mulher, mas também pelos crimes hediondos que cometeu. "Não se pode achar um monstro de coração tão perverso e corrompido – e de que não haverá facilmente exemplo no presente século", lê-se na sentença, citada pela revista Sábado.

Tudo começava na ‘roda dos enjeitados’. Este era um mecanismo usado para abandonar recém-nascidos à porta de instituições. Era um sistema cilíndrico onde a criança era deixada e, depois de ser rodado, ninguém sabia quem tinha abandonado o bebé. As vítimas de Luísa eram bebés deixados na roda existe na Misericórdia de Coimbra.

Ao todo, Luísa matou 33 bebés por estrangulamento. E o que ganhava com isso? Quem cuidava destes recém-nascidos abandonados recebia 600 reis em dinheiro, um berço e meio metro de tecido de algodão. Diz-se até que algumas mães solteiras abandonavam os próprios filhos e acolhiam outros, por forma a receberem o rendimento mensal destinado às amas de leite, que deveriam cuidar das crianças até estas atingirem os sete anos de idade. O objetivo de Luísa era apenas receber os bebés, livrar-se deles e ficar com o enxoval.

Luísa de Jesus só confessou ter matado 28 bebés, mas foi julgada pela morte de 33. A 1 de julho de 1772 foi condenada à pena de morte, tornando-se a última mulher a receber esta sentença.

Mas a pena não ficou por aí: “Os juízes da Relação de Lisboa sentenciaram a infanticida a desfilar com baraço e pregão pelas ruas, ou seja, devia caminhar com uma corda de enforcar ao pescoço enquanto um funcionário apregoava em voz alta os crimes e a pena atribuída. Foi condenada a ser atenazada (queimada com uma tenaz em brasa). E o carrasco recebeu ordens para lhe decepar as mãos antes de a matar no garrote, um dos métodos mais cruéis de executar alguém, através de uma perfuração gradual do pescoço do condenado, amarrado a uma cadeira”, lê-se no site da Sábado. Luís foi ainda condenada a pagar 50 mil reis de despesas judiciais. Dos registos existentes, foi a sentença mais severa aplicada a uma mulher em Portugal.