Cristas, primeira-ministra

Assunção Cristas, no dia do Congresso do CDS em Lamego, declarou que se via como primeira-ministra. Eu também a via como primeira-ministra, a ela e a Paulo Portas, se fossem do PSD, mas não são.  A inteligência, capacidade política e ambição que têm fizeram-nos chegar a líderes do CDS, não sem antes terem andado no…

Assunção Cristas, no dia do Congresso do CDS em Lamego, declarou que se via como primeira-ministra. Eu também a via como primeira-ministra, a ela e a Paulo Portas, se fossem do PSD, mas não são. 

A inteligência, capacidade política e ambição que têm fizeram-nos chegar a líderes do CDS, não sem antes terem andado no PSD ou lá perto. Mas o caminho para ser líder de um partido que vale 12% nas urnas (legislativas de 2011) é muitíssimo mais curto do que o caminho a percorrer para ser líder de um partido que concorre para governar o país. Tendo percebido ambos que o caminho no PSD para a liderança era longo, penoso e difícil, decidiram-se pelo atalho no CDS. Mas essa escolha dita para sempre que a primeiro-ministro não se chega.

A líder do CDS percebeu muito bem os mecanismos mediáticos, sabe usá-los, soube construir a sua presença e afirmar o seu nome e a sua liderança. No caso de Lisboa, arriscou muito cedo uma candidatura em nome individual que lhe poderia ter corrido mal, caso o PSD tivesse apresentado um bom candidato e um bom projeto. Como o PSD resolveu cometer harakiri autárquico, Assunção Cristas teve um extraordinário resultado em Lisboa.  Arriscou e ganhou. 

Mais do que isso: colocou o CDS como a oposição a Medina, relegando o PSD para a inexistência política. A vereação do PSD em Lisboa não existe, nem vai existir enquanto Teresa Leal Coelho, a cara dos 11%, teimar em se manter como a cara da derrota do partido em Lisboa. 

Se Assunção Cristas se dedicar à autarquia, à oposição em Lisboa, está na pole position para ser a candidata vencedora às autárquicas de 2021. Aliás, esse é o verdadeiro significado político do resultado das eleições autárquicas de 2017. 

Mas essa situação de tremendo sucesso de Assunção Cristas em Lisboa nem sequer se replicou noutras cidades. Este resultado não se verificou em mais nenhuma autarquia. O que significa que a identificação entre a candidata e o eleitorado lisboeta foi muito forte. Em grande medida porque estamos perante uma candidata muito urbana, na cidade mais urbana de todas.

Tendo tudo a seu favor, não se percebe como vai deitá-lo a perder ao declarar que, afinal, não quer saber de Lisboa nem dos lisboetas porque quer é ser primeira-ministra.

Ora, não tendo o CDS nenhuma possibilidade de ter mais votos do que o PS ou o PSD, esse cenário não se coloca.

O que significa que, na sequência das eleições legislativas de 2019, Assunção Cristas só poderá ser deputada ou ministra, na melhor das hipóteses. 

E nesse dia voltar-se-á novamente para Lisboa, dizendo que afinal o que quer mesmo, mesmo, é ser presidente da Câmara de Lisboa em 2021.

Achando eu, como acho, que ela tem tremendas hipóteses de o ser, esta súbita afirmação de querer ser primeira-ministra pareceu-me um passo em falso. Um bocado salta pocinhas. 

sofiarocha@sol.pt