Portugal-Egito. Quando a maldição dos faraós caiu sobre a seleção nacional…

O primeiro encontro entre Portugal e o Egito ficou marcado pela derrota lusitana. Foi em Amesterdão, no dia 4 de agosto de 1928, nos quartos-de-final do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos (1-2)

No dia 21 de maio, a delegação portuguesa embarcava no Sud-Express rumo a Paris, primeira etapa da sua viagem com destino a Amesterdão. Chefiavam a comitiva Ribeiro dos Reis e Salazar Correia. Cândido de Oliveira era o selecionador e Ricardo Ornellas juntar-se-lhe–ia em Paris para o coadjuvar no comando técnico da equipa. O representante do Comité Olímpico Português junto do grupo era Manuel Latino. Os guarda- -redes eram António Roquete (Casa Pia) e Cipriano Santos (Sporting); defesas: Carlos Alves (Carcavelinhos), Jorge Vieira (Sporting) e Óscar de Carvalho (Boavista); médios: Raul Figueiredo (Benfica), Augusto Silva (Belenenses), César de Matos (Belenenses) e Aníbal José (V. Setúbal); avançados: Waldemar Mota (FC Porto), José Manuel Soares (dito Pepe – Belenenses), Vítor Silva (Benfica), Armando Martins (V. Setúbal), José Manuel Martins (Sporting), João dos Santos (V. Setúbal), Jorge Tavares (Benfica), Liberto dos Santos (União de Lisboa) e Alfredo Ramos (Belenenses). A opção ofensiva sublinhava bem o sistema rígido da época. A diferença fazia-se no campo da técnica e não no campo da tática.

Na Estação do Rossio, o ponto de chegada e partida para a Europa, o povo juntou-se para a despedida efusiva aos selecionados. Mais de 30 horas separavam Lisboa de Paris, e mais de nove horas Paris de Amesterdão. A atriz Laura Costa acompanhava a equipa como mascote, alegrando a comitiva com canções portuguesas e melodias bairristas.

Com brilho A participação portuguesa teve brilho. Uma vitória sobre o Chile (4-2) e outra sobre a Jugoslávia (2-1) levam a seleção nacional até aos quartos-de-final.

O opositor que se segue é o Egito, que vem de uma vitória grandemente moralizadora (7-1 sobre a Turquia). As notícias vindas de Amesterdão falam de uma “equipa de paxás com um ataque velocíssimo no qual pontificam quatro negros”. Bem, os paxás eram otomanos. O que viria aí era antes a maldição dos faraós.

Um vento de derrota pareceu soprar do mar do Norte nesse final de tarde do dia 4 de agosto. Os ataques de Portugal são constantemente repelidos pela defesa africana e, em rápidos contragolpes, os faraós fazem dois golos, um ainda na primeira parte, por intermédio de Moktar, o outro aos 3 minutos do segundo tempo, por Riad.

Talvez a alma lusitana que levara a equipa a virar o resultado contra o Chile e a bater a Jugoslávia no minuto derradeiro seja capaz de mais um feito digno de elogios. Mas, se existe a vontade, não a acompanha a arte nem a força.

Os portugueses esgotam-se na procura da sorte, mas desperdiçam oportunidades. Waldemar reclama golo, mas o árbitro italiano Mauro nega que a bola tenha ultrapassado a linha por completo. Os minutos escoam-se e a derrota ganha forma definitiva que o golo de Vítor Silva não é capaz de atenuar. A maneira como o Egito sai dos Jogos, batido pela Argentina nas meias-finais (6-0) e pela Itália no jogo para a Medalha de Bronze (11-3) tornam a desilusão portuguesa mais amarga. A humilhação da vizinha Espanha nos quartos-de-final frente aos italianos (7-1) não serve de consolo.

Em Lisboa, a equipa é recebida com honras de vencedora: um cortejo de automóveis acompanha jogadores e técnicos desde a Estação de Entrecampos, onde o Sud-Express parou a especial pedido da Associação de Futebol de Lisboa, pela Av. da República, Av. da Liberdade, Rossio e Rua do Ouro até ao edifício da câmara municipal, onde nova multidão os espera.

Esta sexta-feira, Egito e Portugal reencontram-se no Letzigrund, em Zurique. É um tempo absolutamente novo. Já ninguém imagina que uma maldição antiga de milénios assuste o campeão da Europa.