Transporte de mercadorias Sines-Badajoz vai demorar menos 3h30

Governo acelera na alta velocidade. A atual rota Sines/Lisboa-Elvas-Badajoz por Abrantes vai ser abandonada. O trajeto vai passar pelo Poceirão e vai contar com menos 137 km.

Os transportes de mercadorias vão sofrer uma redução de três horas e meia com o projeto de alta velocidade face à atual rota Sines/ Lisboa-Elvas-Badajoz por Abrantes. A garantia foi dada ao SOL pelo presidente da Junta da Extremadura, Guillermo Fernández Vara. Esta ligação também vai ser encurtada, uma vez que abandona Abrantes e passa a ir ao Poceirão, que fará depois a ligação a Évora. Em vez dos atuais 452 quilómetros, o novo trajeto irá contabilizar 315 quilómetros, ou seja, menos 137 quilómetros. 

De acordo com Guillermo Fernández Vara – e tal como o SOL tem anunciado –, o projeto de alta velocidade para ligar Portugal e Espanha deu os primeiros passos quando foi lançado o concurso, a 5 de março, para a construção do troço entre Évora e Elvas, numa extensão de quase 100 quilómetros, e o começo dos trabalhos do troço Elvas-Caia – mais 11 quilómetros, que farão a ligação entre Évora-Badajoz. «No encontro em Elvas que contou com a presença do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, e do primeiro-ministro português, António Costa, foi anunciado o projeto de alta velocidade entre Évora e Caia com o objetivo de ligar os portos de Sines e Lisboa com a fronteira espanhola em Badajoz. Um projeto que faz parte do Corredor Atlântico», garante.

Para o presidente da Junta da Extremadura, esta ligação de alta velocidade entre os dois países «é sem dúvida uma boa notícia», já que este projeto não está isolado e soma-se a outras linhas de alta velocidade que estão a ser desenvolvidas atualmente em Espanha. É o caso da nova linha de alta velocidade Navalmoral-Plasencia-Badajoz e a melhoria do corredor Merida Puertollano nos próximos dois a três anos. «Este corredor significa uma melhoria substancial nas comunicações ferroviárias entre a Espanha e Portugal, alcançando finalmente uma ligação ferroviária competitiva entre os dois países, algo sem precedentes até agora», diz ao SOL Vara.

E, ao contrário do que tem sido afirmado pelo ministro Pedro Marques, que deixa a porta aberta para que esta ligação seja utilizada também o transporte de passageiros, o presidente da Junta da Extremadura não deixa margem para dúvidas: «Na reunião de Elvas, em 5 de março, foi revelado que esta nova linha permitirá tráfego misto, isto é, tanto mercadorias quanto passageiros».

Esta informação vem ao encontro do que já tinha sido admitido, na semana passada, ao SOL pelo porta-voz da Comissão Europeia para a pasta de transportes, Enrico Brivio. 

«As ligações ferroviárias devem ser utilizadas com a maior eficiência possível». Mas deixa um alerta: «O uso para comboios de mercadorias e de passageiros depende das capacidades efetivas disponíveis e dos serviços operados».

Assunto tabu

Depois de o SOL ter noticiado que o Governo de António Costa está a avançar com o projeto de ligação de Lisboa a Madrid na bitola ibérica de alta velocidade (para mercadorias, mas também passageiros), e de o Ministério de Pedro Marques ter emitido uma ‘nota de esclarecimento’ em que negou a existência deste projeto de alta velocidade, o gabinete do ministro continua a não prestar qualquer declaração sobre este assunto.

A verdade é que este tema já foi considerado pelo primeiro-ministro como «tabu e que vai sê-lo por muito tempo», referiu recentemente ao jornal espanhol ABC. Guillermo Fernández Vara admite que compreende esta declaração face às dificuldades económicas que Portugal atravessou, obrigando a cancelar este projeto considerado «ambicioso e dispendioso» em 2011, para dar prioridade a outras necessidades. O responsável lembra, no entanto, que agora o problema de financiamento fica resolvido, já que vai ser alvo de financiamento europeu. 

«Fazendo parte do Corredor Atlântico da rede RTE-T (rede transeuropeia de transportes), esta nova ligação conta com financiamento europeu e, por isso, Portugal mantém a ligação ferroviária com Espanha em alta performance, mas é lógico que se adaptaram à nova situação», refere o presidente da Junta da Extremadura. 

Recorde-se que a obra de construção da nova linha deverá iniciar-se até março de 2019 e a conclusão está prevista para o primeiro trimestre de 2022, num custo de 509 milhões de euros (quase metade provenientes de fundos europeus). Já a modernização do troço Évora-Caia, de acordo com os dados do executivo comunitário, tem um custo estimado de 388 milhões de euros, recebe uma comparticipação da União Europeia de 56% (184 milhões de euros). 

Vara lembra ainda que, tal como foi anunciado pelos dois Governos em Elvas, «este projeto é o maior trabalho ferroviário realizado por Portugal em décadas, bem como o maior investimento já feito em carris pelo Governo português», acrescentando ainda: «Na Extremadura estamos satisfeitos por continuarem a manter a sua principal conexão ferroviária com Espanha através da Extremadura».

Mais projetos

O porta-voz da Comissão Europeia esclareceu ainda ao SOL que está previsto um segundo projeto de alta velocidade entre Portugal e Espanha, com a ligação entre Guarda e Salamanca, cidade espanhola onde já existe um posto aduaneiro interior. Para isso, foi adjudicada a obra de modernização do troço ferroviário Covilhã-Guarda, da Linha da Beira Baixa, por 52 milhões de euros.

Esta ligação deverá estar concluída em 2019 e, no momento do seu lançamento, Pedro Marques considerou que a intervenção é «uma obra importante para as Beiras como um todo», uma vez que «potencia o desenvolvimento desta sub-região de uma forma muito importante» e «permitirá porventura que se constitua como uma zona de desenvolvimento logístico importante também».

Este projeto, segundo o mesmo porta-voz, irá receber uma comparticipação global da União Europeia de 121 milhões de euros.